Love, Victor estreou na Hulu Originals em junho. A série vem fazer frente e aliar-se ao livro e filme Love, Simon. O nível de diretividade e abertura em relação a vários temas atuais faz com que o drama sobressaia. Porém, o desenrolar fácil da ação leva a que o espectador exija mais dos episódios.
Victor e a sua família mudam-se para uma nova cidade. O jovem troca de escola, de amigos, de ambiente e assume que esta mudança vai, desde logo, permitir-lhe admitir a sua suposta verdade. No entanto, acaba por prender-se numa encruzilhada, num jogo de descobertas, num mar de preconceitos e expectativas e acaba por pôr de lado aquilo que é. O seu plano desnivela e o rapaz tenta entrar por outros caminhos para escapar àquilo que receia.
A série é talhada à volta das descobertas individuais do protagonista, assentes numa rede de conselhos dados por Simon (Nick Robinson), através da internet. Às vezes, o conselheiro aparenta ser uma voz do além, no entanto, é quem guia Victor na busca do seu ser. Para além de ajudar o jovem, esta vozinha apresenta, ao espectador, indagações e motivos para ponderar, não só sobre sexualidade e família, mas sobre as nossas particularidades e identidade.
As questões e problemas do personagem principal não são a única coisa que banha o ecrã. Questões familiares, a homossexualidade, as intolerâncias, a discriminação, a religião, as incertezas e as traições apoderam-se de algumas partes dos episódios e são trazidas pelas outras personagens.
O elenco é diverso e atual. Como habitual nas séries de secundário, temos um protagonista (Victor), o amigo engraçado (Felix), a namorada (Mia), o atleta mau (Andrew) e a amiga atrevida (Lake). Em Love, Victor a receita não falha, mas também não se cria o prato mais original. Grande parte dos atores sobressaem pelos seus papéis, mas a grande surpresa é Michael Cimino (Victor). Se quiséssemos, outrora, pensar em alguém melhor para interpretar a personagem, por comparação, não seria possível encontrar outra pessoa. Toda a inteligência, incerteza, confusão e busca, que marcam o protagonista, são pormenorizadamente apresentadas pelo ator.
Rachel Wilson (Mia) e George Sear (Benji) representam aqueles que não tornam simples o caminho de Victor. Surgem como os amores, mas também como aqueles que o obrigam a chegar à sua verdade. Anthony Turpel (Felix) e Bebe Wood (Lake) criam a segurança do cómico, mas também apresentam, com as suas performances, o rigor das classes sociais e o problema dos rótulos e das imagens.
Os temas abordados e os atores que os apresentam aumentam o brio de todo o trabalho. Porém, a série poderia ter dado um pouco mais. A produção apresenta-se boa, mas escapa às séries de jovens adolescentes a que a Netflix nos habituou. O drama e o mistério que esperamos não se exibe e tudo vem numa caixa embrulhada de subtileza, pouca revolta e muita clareza. A série aborda a “controvérsia” e a “suposta diferença”. No entanto, todas estas questões deviam ter sido exibidas com ainda mais força e garra.
Love, Victor é das produções que temos de ver, tal como Por treze razões (2017) ou Sex Education (2019). Mais do que um ótimo trabalho cinematográfico, os assuntos que aborda são vitais e é essencial evoluirmos.