A nova série da Amazon Prime Video, Tales from the Loop, deu vida a um dos livros do artista gráfico sueco Simon Stålenhag. Esta adaptação foi capaz de alcançar as características chave das pinturas de Stålenhag. A estranheza, a forma como a normalidade do quotidiano entra em uníssono com o fantástico, e a melancolia de sonhos de infância e memórias perdidas estão perfeitamente retratadas ao longo da obra cinematográfica. Ainda assim, não conseguiu criar uma conexão real entre personagens e audiência.
A história revolve em torno dos habitantes da cidade que alberga o The Loop, uma espécie de complexo científico construído para desvendar e explorar os mistérios do universo, para fazer possível aquilo que fora outrora julgado como sendo impensável. Cada episódio segue a história de um habitante diferente, todos influenciados, de uma forma ou de outra, pelos remanescentes que o The Loop deixou espalhados pela cidade.
Ainda que o foco varie entre personagens diferentes, vemos as dos episódios anteriores, ou dos seguintes, a viver as suas rotinas na cidade e a interagir com a personagem principal de cada episódio. Assim, cria-se uma ideia de intimidade com a cidade, como se também lá vivêssemos e estivéssemos acostumados às suas ruas e à sua gente.
No entanto, a premissa deste tipo de conexão foi, em última análise, aplacada, maioritariamente, pelo diálogo escasso e pouco honesto. Algumas das frases revelaram-se forçadas, quase clichê, numa tentativa de verbalizar os sentimentos de melancolia e solidão que afetam todas as personagens.
Outro problema incidiu sobre o ritmo do enredo. Para além da construção pouco natural das frases, os diálogos eram situados demasiado longe uns dos outros; as personagens levavam demasiado tempo a interagir umas com as outras, o que acabou por arrastar a fluidez do desenvolvimento da trama. Em certos momentos, tornava-se difícil lutar contra a tentação de deixar de prestar atenção ao que estava a ser mostrado no ecrã.
Os slow-burns focam-se, normalmente, em construir a personalidade das personagens, deixando-as crescer e ganhar densidade à medida que são confrontadas com obstáculos; a história avança, e com elas o arco das personagens. No caso de Tales from the Loop, a espera por este desenvolvimento não foi recompensada. A maioria das situações parecia desprovida de emoções reais e honestas e nunca levava a um clímax na ação ou a uma catarse final das personagens.
Ainda que fosse percetível a perda dos protagonistas, seja de membros da família ou da própria identidade, assim como o desespero em tentar encontrar sentido num mundo que constantemente desafia a perceção que cada um tem da realidade, o sentimento final foi de indiferença em relação aos seus futuros. Quando nos despedimos de uma personagem, é natural imaginar qual o futuro que a aguarda assim que o ecrã se desliga. Neste caso, a impressão foi de que nada de mais iria mudar, considerando o quão pouco os protagonistas cresceram em episódios de 50 minutos.
Contudo, é impossível negar a beleza visual da série, uma das principais razões pelas quais, ainda que por vezes houvesse a tentação, não conseguia desviar o olhar do ecrã. Todos os aspetos visuais, desde o estilo à moda dos anos 70 à delicada paleta de cores escolhida e às criações CGI de robots, ajudaram a criar uma atmosfera bastante singular e particular, diferenciada de qualquer outra série ou filme do mesmo género e fidedigno ao material de origem. Algumas das cenas pareciam retiradas diretamente das páginas ilustradas por Simon.
O cuidado dado à cinematografia foi notável, e era difícil não pausar o vídeo para observar cada canto do ecrã com cuidado. A grande variedade de planos gerais tornaram a cidade do The Loop tão vasta e vazia, com as suas torres a espreitar na distância ou robots enferrujados e outros restos de tecnologia, integrados no mundo como se lá pertencessem tão naturalmente como as folhas nas árvores ou as nuvens no céu. Em comparação, os habitantes pareciam sempre tão sozinhos, tão isolados e perdidos, e mesmo com todo aquele espaço à sua volta, encurralados. E ainda assim, havia ainda a sensação de calma e reverência pela peculiaridade da cidade.
A música, composta por Philip Glass, foi o toque final para harmonizar todos os elementos da história. Definitivamente ajudou a fazer algum do trabalho pesado que o diálogo por si só não conseguiu, definindo o ânimo de cada cena. Os constantes tons taciturnos do piano quase podiam ser comparados à música das caixas de joias com bailarinas que giram quando a tampa é aberta; os sons graves do violoncelo relembram a audiência do mistério e do extraordinário e, de certa forma, da miséria deste fascinante mundo.
Relativamente ao desempenho dos atores, cada um interpretou as suas personagens com seriedade, incluindo as crianças, ainda que nenhum se destacasse em particular como inesquecível. Tal como dito acima, a escassez de diálogos condicionou até que ponto os atores se podiam expressar. Sempre de forma contida ou com pequenos, mas raros, momentos de raiva, que rapidamente eram de novo encapsulados numa caixa de soledade e melancolia.
Em suma, Tales from the Loop tem algumas histórias intrigantes para contar, com um conceito único e o ocasional plot-twist. O diálogo foi dos pontos fracos e caiu por terra em comparação aos elementos visuais e musicais, bastante particulares a este mundo e a esta história, diferente de outros contos do mesmo género. Ainda que o enredo fosse lento em vários momentos, a série continua a ser uma experiência visual excecionalmente criada, que merece ser vista e ouvida.
Título original: Tales from the Loop
Realização: Nathaniel Halpern
Argumento: Nathaniel Halpern
Elenco: Rebecca Hall, Jonathan Pryce
EUA
2020