As Virgens Suicidas, lançado em 1993, retrata as memórias de um grupo de jovens. Os rapazes relembram um episódio marcante da sua adolescência, o suicídio de cinco jovens irmãs por quem nutriam paixões platónicas. O livro de Jeffrey Eugenides, rodeado de mistério e repleto de um tom sarcástico, promete prender o leitor desde a primeira página.

O livro é contado a partir da perspetiva de um conjunto de rapazes que contam como foi a sua experiência, enquanto adolescentes, ao se depararem com a realidade do suicídio. A narrativa decorre durante os anos 70, num pacato bairro norte americano. Nele residem os Lisbon, uma família constituída por uns pais conservadores, bem como pelas suas cinco filhas adolescentes, com idades compreendidas entre os 13 e os 17.

Os Lisbon educavam as suas filhas para não terem contacto com rapazes, irem a festas, ou vivenciarem qualquer tipo de tentação que pudesse surgir durante a adolescência. Contudo, um dia, Cecília, a filha mais nova, tenta cometer suicídio. Após este episódio, os pais optam por uma abordagem diferente, no que diz respeito, à educação das filhas. Incorrem numa tentativa de integração das mesmas na comunidade, passando a autorizar a ida a bailes, amizades com rapazes e a frequência em festas.

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Porém, após um acontecimento dramático, a adolescente Cecília acaba por cometer suicídio. Este episódio leva os pais a retrocederem nas suas medidas e proibirem de novo o contacto com rapazes. Após este desfecho traumático, as restantes irmãs suicidam-se uma a uma e o leitor acompanha a reação fria e distante dos pais perante a morte das filhas. Este é, sem dúvida, um dos pormenores distintos desta história, pois faz-nos questionar o caráter de todas as personagens, bem como as dinâmicas que se estabelecem entre elas. Todas as irmãs tentavam ser adolescentes normais, desenvolver interesses e todas elas ansiavam por liberdade, mas acabaram vítimas da sua saúde mental e do contexto em que se inseriam.

As Virgens Suicidas pretende explorar sobretudo a importância da saúde mental na adolescência, temática muitas vezes ignorada. Pretende, de igual modo, fazer o leitor refletir na forma como a educação dos pais pode moldar a saúde mental dos filhos. O casal Lisbon claramente encarava as suas filhas como uma extensão de si próprios. A sua busca por perfeição e sede de proteção para com as filhas impediu-os de encará-las como seres humanos, com desejos próprios e com necessidade de acompanhamento psicológico.

Um pormenor importante de salientar é que os rapazes estão encantados com a ideia que possuem das raparigas e não com a realidade da personalidade delas. Este aspeto auxiliou o autor a transmitir a mensagem de que estas adolescentes, envoltas numa aura de mistério, nunca foram realmente ouvidas. A atmosfera de toda a narrativa é densa, sombria e possuiu uma aura de mistério, o que aliada à escrita contagiante do autor, acaba por render o leitor desde a primeira página.

É possível inferir que As Virgens Suicidas tenciona retratar a importância da saúde mental na adolescência, bem como o papel dos educadores na vida dos jovens. O conservadorismo e protecionismo excessivo dos pais perante as filhas impediu-as, por um lado, de desenvolveram ferramentas importantes a nível emocional. Por outro, impossibilitou-as de experienciarem a sua juventude em pleno. É, sem dúvida, uma leitura para todos aqueles que pretendam fazer uma reflexão mais profunda sobre estas temáticas.