O AT MicroProtect é um projeto que pretende ajudar no combate à Covid-19. O conjunto de investigadores, em parceria com a Universidade do Minho, desenvolveu uma tecnologia que inativa mais de 99% do vírus no ar em um minuto. O ComUM conversou com a investigadora Sandra Franco acerca da inovação.
ComUM – Quanto tempo investiram nesta investigação?
Sandra Franco – Este projeto colaborativo, liderado pela Associação BLC3 em conjunto com as Faculdades de Farmácia das Universidades de Coimbra e de Lisboa e com os investigadores do Centro de Física da Universidade do Minho Sandra Franco e João Linhares, já vem sido trabalhado desde o mês de março, quando se iniciou em Portugal a discussão sobre o processo pandémico em curso. A AT Microprotect é uma tecnologia completamente desenvolvida em Portugal e pretende ser mais uma ferramenta na batalha contra esta pandemia provocada pelo SARS-COV-2.
O tempo investido foi grande e colaborativo, no sentido mais amplo da palavra. Cada membro do projeto esteve focado na sua especialidade e tarefa, procurando resolver cada um dos desafios que se iam apresentando, com o intuito de apresentar um protótipo devidamente validado e comprovado, capaz de inativar o vírus SARS-COV-2 em tempo útil e garantindo a segurança para os seus utilizadores.
ComUM – Esta tecnologia envolve exatamente que materiais?
Sandra Franco – Esta é uma tecnologia ativa de prevenção e inativação do vírus SARS-COV-2, conseguindo reduzir a população do vírus em 99% num minuto. Utiliza materiais para produção de radiação ultravioleta (fontes de radiação UV), equipamentos para forçar a movimentação do ar e equipamentos de proteção das pessoas. Os raios UV são raios que causam queimaduras na pele e olhos, pelo que estas não podem estar expostas à ação direta das fontes de radiação UV. Assim, esta tecnologia possui vários mecanismos de proteção, ativos e passivos, para além de todo equipamento necessário para eficaz inativação do vírus.
ComUM – O que é que a AT MicroProtect permite?
Sandra Franco – Esta tecnologia permite a inativação do vírus SARS-COV-2 que se encontra no ar ou em superfícies expostas. Esta inativação do vírus foi experimentalmente demonstrada com base em três estirpes do vírus. Colónias devidamente quantificadas de partículas de vírus SARS-COV-2 foram expostas a estas fontes de radiação UV e de movimentação de ar e verificou-se que as quantidades de partículas de vírus reduziram cerca de 99% em apenas um minuto, independentemente da estirpe utilizada. Este é um resultado fantástico. É possível inativar a ação do vírus SARS-COV-2 utilizando esta tecnologia sem um grande impacto para as pessoas e com grande eficácia. Com esta tecnologia é possível inativar o vírus quer em suspensão em superfícies, quer em suspensão no ar. Quando aplicada a espaços com volume limitado (transportes públicos, escritórios, salões de espetáculos), a movimentação forçada do ar e a utilização de fontes UV é eficaz na inativação do vírus, recorrendo aos princípios de mecânicas de fluídos e da radiação ultravioleta.
Resumindo, esta tecnologia permite a inativação do vírus utilizando radiação UV e fazendo o ar circular de forma controlada num espaço limitado.
ComUM – O quão importante foi o envolvimento da Universidade do Minho nesta investigação?
Sandra Franco – Sendo este um projeto colaborativo, em que cada membro contribuiu com a sua especificidade e competência científica, o nosso envolvimento foi essencial. Em particular, as competências em ótica e radiação ultravioleta e os seus efeitos nocivos na superfície da pele e principalmente na saúde ocular, foram de extrema importância para se tornar esta tecnologia segura para utilização com pessoas e/ou animais. Foram dados importantes contributos na modelação da utilização e distribuição de fontes de radiação UV e o seu impacto na superfície ocular e como garantir a sua eficácia e segurança na utilização com pessoas, continuando a garantir a eficácia na inativação do vírus SARS-COV-2.
ComUM – Acha que a Universidade do Minho prepara os seus alunos para investigações tão importantes como a do AT MicroProtect?
Sandra Franco – Certamente que sim. Aliás, tanto eu como o meu colega João Linhares fomos alunos desta Universidade. A formação proporcionada pela UMinho, quer a nível das Unidades Curriculares (UCs) de base, quer daquelas mais específicas, é importante neste tipo de investigação colaborativa e focada na criação de um protótipo. Só assim conseguimos aplicar o nosso conhecimento a diferentes áreas e aplicações e trabalhar num projeto com o carácter multidisciplinar que este tem.
ComUM – Qual foi a maior dificuldade que encontrou ao longo desta investigação?
Sandra Franco – A maior dificuldade foi aplicar o conhecimento por nós adquirido/desenvolvido a uma área diferente da que habitualmente trabalhamos, com um objetivo muito real de criar um protótipo e no tempo mais reduzido possível. Foi difícil dar resposta, de forma colaborativa, a vários desafios que foram surgindo, dadas as restrições de mobilidade impostas pelo estado de pandemia. Mas, por outro lado, é o que torna este desafio tão interessante e enriquecedor. Ver a possibilidade de aplicar aquilo que estudamos e investigamos a outras finalidades, com um intuito específico, útil e com impacto social alargado, é extremamente gratificante.
ComUM – Foi fácil para si adaptar-se a todas as circunstâncias e mudanças que o vírus e as suas modificações acarretam?
Sandra Franco – Confesso que não, como o deve ter sido para todos os envolvidos nesta pandemia. Foi um desafio muito grande ter, de um dia para o outro, de me habituar a dar aulas através de plataformas digitais sem poder ver os alunos, a forma como estavam a reagir ao que eu ia dizendo. Obrigou-me a repensar a forma de ensinar, de interagir com os alunos, de lhes colocar desafios sem os sobrecarregar. Tenho consciência de que para eles também não foi nada fácil (acho que até foi mais difícil) mas penso, que apesar das dificuldades, todos aprendemos muito com esta experiência.