De Braga para o mundo, Ocenpsiea é um projeto de quatro jovens músicos que explora linguagens diversas como o jazz, o rock e a pop. A banda, formada em 2014 por Tomás Alvarenga, João Nuno Vilaça e Gonçalo Lopes, somou mais um elemento em 2018: Francisco Carneiro. Com dois álbuns editados, “Conega 103” (2017) e “Sabão Rosa” (2018), lançaram no início do mês o single “Bicho Mau”, em parceria com PZ. Em entrevista ao ComUM, falaram acerca do novo trabalho e de como tem sido o caminho pela música.

ComUM – Como é que surgiu a ideia do projeto?

Tomás Alvarenga – Isto começou quando éramos muito jovens. Andávamos todos na mesma escola [de música], a Gulbenkian, e gostávamos de tocar e improvisar juntos, coisa que não era habitual na nossa formação. Entretanto tornou-se uma coisa mais séria, começámos a tocar fora da escola e aí decidimos começar mesmo um grupo.

ComUM – Porquê Ocenpsiea?

Gonçalo Lopes – Ocenpsiea surgiu num almoço e é, basicamente, um acrónimo que significa “Ó Chefe, Eu Não Pedi Sumol, Isto É Água”. Agora cada pessoa interpreta da forma que entender.

Ocenpsiea

Fotografia: Divulgação

ComUM – O instrumental é a base da vossa música. Alguma vez pensaram em ter um vocalista?

João Nuno Vilaça – Ter um vocalista principal, não, mas já pensámos nisso. Aliás, no próximo álbum, cada um de nós vai dar a voz em diferentes músicas, dependendo do que é preciso. Algumas somos nós, outras são artistas convidados.

ComUM – O último single que lançaram conta com a participação do PZ. Como é que chegaram ao contacto com ele?

João Nuno Vilaça – O PZ é uma pessoa que já tínhamos em mente para uma colaboração. Tanto eu como os outros [elementos da banda] ouvimos PZ há muito tempo e achamos que ele é um bom artista. Depois surgiu-nos uma música e tivemos a ideia de o convidar. Entrámos em contacto com ele, que adorou o esboço, e, passado algum tempo, mandou a parte dele. O resto é história (risos).

ComUM – Falando agora das vossas origens, a primeira faixa do vosso primeiro disco chama-se “Sérgio Godinho Beat”. Ele serve-vos de inspiração?

João Nuno Vilaça – Para mim é, acho que para o Tomás também. Desde pequeninos que o ouvimos, faz parte da música portuguesa.

Tomás Alvarenga – Por acaso essa faixa tem uma história engraçada. Nós estávamos em minha casa e eu tenho um gira-discos antigo. Já tem uns anos e, como tal, não está na melhor forma. Pusemos um vinil do Sérgio Godinho e escolhemos tocar a metade, ou menos, da velocidade normal. Aquilo começou a fazer um loop e decidimos gravar com o telemóvel. Foi assim que a incorporámos no álbum. É uma boa introdução.

João Nuno Vilaça – E o Sérgio Godinho é uma pessoa com quem gostávamos, um dia, de colaborar. É um bocado difícil de alcançar, mas quem sabe um dia.

ComUM – Como olham para novos projetos de música mais experimental e concetual, como o vosso, que têm vindo a surgir em Portugal?

Tomás Alvarenga – Nós somos o que as pessoas precisam, num certo sentido. Tem havido projetos interessantes, sem dúvida, mas acho que nós temos algo a acrescentar que ainda não existe. Em Braga, principalmente, e em Portugal.

Ocenpsiea

Fotografia: Divulgação

ComUM – Sentem que a vossa música tem espaço para crescer em solo nacional ou planeiam outros voos?

João Nuno Vilaça – Em Braga não sentimos que gostem muito do nosso estilo, que nos abracem musicalmente. Tem muito que se lhe diga o panorama bracarense. No Porto, por exemplo, temos mais público do que em Braga. Não sabemos se o nosso estilo de música tem asas para crescer em Portugal, mas espero que sim.

ComUM – É inevitável não falar da covid-19 e do impacto que tem tido na cultura. De que forma estão a lidar com isso?

Tomás Alvarenga – Já é difícil para nós encontrarmo-nos e tocarmos juntos, dado que estamos a viver e a estudar em sítios diferentes. E esta situação dificulta ainda mais, mas, ao mesmo tempo, deu-nos a oportunidade de tocar com mais artistas e de estarmos mais focados na banda.

ComUM – Em 2018 lançaram o vosso segundo álbum e agora o single de estreia do próximo trabalho. Podem dar alguma novidade?

João Nuno Vilaça – Vamos ter algumas colaborações, acho que fazem sentido. E mais de metade do álbum já está gravado. Para a semana vamos reunir e tratar do resto. Quanto ao nome, se calhar tem, mas não vamos revelar (risos).

ComUM – E a vossa agenda de concertos? Algum para breve?

João Nuno Vilaça – Tínhamos alguns concertos para o verão e final do ano, mas foram adiados para o ano. Para já não temos nenhuma data.