Rufus Wainright está de regresso à música com o seu mais recente trabalho Unfollow The Rules. O álbum compila sonoridades Pop com influências Indie Rock e a imagem de marca do artista: os elementos de música clássica.

Após investir na ópera e música clássica, Wainright regressa ao Pop com que conquistou o público em 2012. No habitual tom humorado, mas delicado, Unfollow The Rules reflete as vivências de um homem que chegou à meia idade.

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Uma das maiores vertentes do músico é não se cingir a um género musical e tão pouco se encaixar num reportório específico. A singularidade dos trabalhos fala por si: Rufus não se define por um estilo, ele cria o seu próprio.

Wainright mostra-se mais versátil do que nunca como vocalista. “Trouble In Paradise” é a primeira faixa do álbum e não precisa de muito para conquistar. A percussão e o coro engrandecem a voz do intérprete que sobressai ao longo de todo o tema. É algo que acontece frequentemente em todo o projeto, não fosse o autor Rufus Wainright.

As cordas abrem “Damsel In Distress”. Num ritmo que em tudo contrasta com a faixa anterior, ouvimos uma vertente mais Indie. Apesar de diferente, os coros mantêm-se e a opulenta voz do artista facilmente se adapta aos instrumentos.

A canção que dá nome ao disco trata-se de uma balada de quase sete minutos com uma evolução bastante perspicaz. Marcada pelo piano, vai crescendo e introduzem-se novos elementos, até finalizar com momentos quase de êxtase da voz de Rufus. Serena, é capaz de ser o tema que mais sensação de plenitude proporciona em todo o trabalho. A única coisa a apontar é, certamente, a extensão.

You Ain’t Big” leva-nos de volta aos anos 60. A habitual percussão e os coros não desiludem e, ao lado “Peaceful Afternoon”, é das faixas que mais conquistam os ouvintes. Intensas, carregam consigo uma leveza que fascina, é impossível não fixar pelo menos o refrão ou o ritmo de cada uma das músicas.

Romantical Man” traz consigo o Rufus de sempre. A nível instrumental pouco (ou nada) muda: percussão, piano, coros que em tudo combinam com o artista. Fiel a si mesmo, “Only The People That Love” é uma balada extraordinária do estilo a que fomos habituados. A guitarra acompanha toda a canção, os elementos orquestrais e a fantástica performance vocal- não se pode pedir mais.

Segue-se “This One’s For The Ladies (THAT LUNGE!)”, uma proposta bastante diferente das demais a lembrar o estilo de Leonard Cohen. É interessante perceber como a voz do intérprete, mesmo não estando em tão grande plano, consegue surpreender.

My Little You” é a faixa mais curta do álbum e parece-me um tanto dispensável. A melodia extremamente nostálgica não consegue ganhar força suficiente para prender o ouvinte. O mesmo acontece com “Early Morning Madness”. Apesar de bem construídas, acabam por se tornar repetitivas, cansativas até e acrescentam pouco ao resto do trabalho.

Devils And Angels (Hatred)” traz de volta o clímax exagerado dos pianos. É um tema que, pouco a pouco, vai acumulando tensão, força e em que é evidente o trabalho do músico na ópera, : sobretudo no que diz respeito à evolução vocal e dos coros.

Alone Time” encerra o álbum em chave de ouro. Num ritmo sereno, marcado pelo piano e, novamente, os coros, Rufus apresenta uma canção que sintetiza, quer nas harmonias, quer na letra, o Rufus de “antigamente”, o Rufus presente neste novo álbum.

Introspetivo, Wainright revela em Unfollow The Rules um artista mais aberto e maduro. Grande parte das faixas reflete ,aliás, a imagem atual do músico, a de homem de família feliz.

É um projeto que cativa desde as primeiras faixas e deixa o ouvinte bastante recetivo às demais. Não quero com isto dizer que é um trabalho fácil de ouvir e não é, de todo, para todos os gostos. No entanto é, sem dúvida, um álbum que vale a pena escutar e deixar-se levar.

Os arranjos musicais em todas as faixas são excecionais e Wainright presenteia-nos neste disco com uma das suas melhores performances vocais. É bom ter o músico de volta às origens e quem sabe se não será este o ponto de partida para trabalhos surpreendentes.