A série começou a ser gravada em julho e tem estreia marcada para 2021.

Vento Norte é a nova aposta da RTP. Gravada essencialmente no Norte de Portugal, passa por lugares como o Museu dos Biscainhos, a Sé de Braga, Amares e Arcos de Valdevez.

A nova aposta do canal estatal é uma ideia original de João Lacerda Matos, Almeno Gonçalves e João Cayatte. O drama épico  conta a história dos Mello, uma família aristocrata do Minho que viveu no Museu dos Biscainhos no início do Século XX. Para além do seu quotidiano, segue a relação que têm com os seus empregados e o período que Portugal vive com a Primeira República, até à revolução de 28 de maio de 1926.

Vento Norte

Diana Carvalho/ComUM

O elenco da série é constituído por 66 atores, cerca de 20 naturais de Braga. Destacam-se nomes como Almeno Gonçalves, Natália Luiza, Adriano Luz, António Melo, Joaquim Nicolau, Fernanda Lapa e Ruben Rios. O ComUM teve acesso às gravações e conversou com o primeiro, produtor de Vento Norte e com os atores Paulo Calatré e Ana Catarina Afonso, sobre o propósito da série e as gravações na cidade minhota.

Braga: um cenário histórico e pouco visto no audiovisual português

Esta é a primeira vez que os três atores gravam em Braga. Para Almeno Gonçalves, gravar na sua cidade natal traz “uma sensação muito agradável, que é ver a cidade de outra maneira”.

Também Ana Catarina Afonso define a cidade como “extraordinária” e garante estar a “adorar”. “Vou confessar que às vezes tenho a sensação que estou de férias, porque sou tão bem recebida aqui e o espírito aqui de Braga é tão leve, tão acolhedor e ao mesmo tempo tão festivo, tão alegre. É muito bom, está a ser fantástico”, refere.

Por outro lado, Paulo Calatré distingue a importância do “lado histórico muito interessante e que é muito bom para a série” que a cidade tem. Da mesma forma, demonstra-se contente por gravar na cidade bracarense, uma vez que “não há muitas séries feitas no Norte”. “É bom que o audiovisual português comece a espalhar-se um bocadinho pelo país”, declara.

A essência e a importância de Vento Norte

Almeno Gonçalves descreve a série como “um drama épico” e “uma história muito engraçada”. Já a atriz Ana Catarina Afonso distingue-a como “um marco importante” a nível político e a nível da organização da sociedade. “Acho que é um testemunho muito fiel daquilo que foi a transição de uma nação”, afirma.

Vento Norte

Diana Carvalho/ComUM

Para além da possibilidade de trabalhar depois dos tempos de confinamento vividos, Paulo Calatré fala de Vento Norte como “a oportunidade de trabalhar num momento histórico que é muito importante no nosso país, porque depois dá origem a 40 anos de fascismo e que nem sempre é muito falado”.  O ator sublinha mesmo a importância de mostrar esse período menos falado da história do país. “Às vezes está um bocadinho escondido, parece que temos vergonha de falar da nossa história, dos momentos que se calhar não são tão bonitos”, refere.

Tal com o colega do Porto, Almeno Gonçalves destaca como ponto-chave a apresentação ao público de um período da história de Portugal pouco conhecido. “Eu apercebi-me disso e parecia que fazia algum sentido, sendo de Braga, contarmos esta história da preparação do golpe militar de 28 de maio, porque apenas existe um filme do António Lopes Ribeiro dos anos 50”, explica.

Já Ana Catarina Afonso refere a importância de “viver um bocadinho aquilo que motivou e onde foi ocultado todo este movimento que depois gerou a instalação deste golpe militar, onde depois ficamos a conhecer todas estas figuras emblemáticas da história e Salazar”. Deste modo, a atriz considera importante a parte política que antecede a revolução de 28 de maio de 1926.

A apresentação das personagens

Em Vento Norte, Almeno Gonçalves interpreta Afonso, um monarca. Nascido numa família aristocrata, da qual se torna patrono, e outrora parlamentar no Governo do Rei, o ator descreve-o como “um conservador, um homem muito ligado às tradições e a tudo o que de alguma forma norteia o país”, bem como “um machista, mas um homem muito sério, muito responsável e com um segredo também muito grande, que os espectadores terão depois também a oportunidade de perceberem”.

Já Ana Catarina Afonso veste a pele de Virgínia, uma costureira e dama de companhia da senhora e a beata da casa. “É uma mulher que vive uma particularidade muito interessante na sua coluna vertebral, que é o facto de ser uma beata e uma mulher muito rígida nos seus valores e nas suas normas”, explica a atriz.

Por fim, Paulo Calatré é Adolfo Mascarenhas, um industrial de Braga que está descontente com a política centralista de Lisboa e o caos que existe durante a Primeira República e que faz de tudo para que o país deixe de estar caótico e entre na ordem. “É alguém que está sempre na sombra, observa se pode ligar as pessoas, se aquele interessa ou se não interessa”, refere o intérprete.

Gravar em tempos de pandemia: a adaptação a uma nova realidade sem perder a qualidade

Almeno Gonçalves refere que adaptar as gravações à situação de pandemia “foi difícil”, uma vez que iniciaram o processo por “livre iniciativa” e sem qualquer apoio. “Saiu-nos do corpo de alguma forma”, reflete. No entanto, o ator sublinha que, a praticamente duas semanas do final das rodagens, tudo correu bem, devido a “alguma coragem e alguma determinação por parte das pessoas”.

Para Ana Catarina Afonso, é uma “bênção” estarem a trabalhar num momento em que o meio cultural está a ser muito abalado, devido ao coronavírus. “É uma bênção também podermos estar a sentir isto no coletivo e todos nós nos temos adaptado muito bem a estas normas que são necessárias, toda a gente cumpre de uma forma rigorosa mas de uma forma muito descontraída”, ressalva.

Vento Norte

Diana Carvalho/ComUM

Por outro lado, a atriz compara o momento vivido com os anos da febre espanhola, que também são retratados em Vento Norte. “Foi muito dramático na altura, porque não se compara aos meios que nós temos hoje a nível de ciência e tecnologia, que nos ajudam a prever este tipo de coisas ou a conseguir ter um tempo de resposta muito mais rápido”, declara.

Já Paulo Calatré fala dos constrangimentos que a situação de pandemia pode trazer por atrasar as gravações. No entanto, o intérprete distingue o trabalho da produção no controlo destes problemas. “Têm muita experiência e perceberam que se calhar isso ia acontecer e foram prevendo essas pequenas coisas que vão atrasando a produção”, afirma.

Do mesmo modo, o ator frisa que os constrangimentos da pandemia em nada influenciaram a qualidade do trabalho. “Continua a ser a mesma coisa”, acentua.

A confiança numa boa receção por parte do público

Para além de ator, Almeno Gonçalves é ainda produtor de Vento Norte. O bracarense acredita que “o público vai gostar da série”. Para além de “um conjunto de atores e decors absolutamente fantásticos, um guarda-roupa e uma equipa técnica fantástica”, o artista refere que a série da RTP1 “tem um conjunto de ingredientes que fará com que ela possa vir a ser um grande sucesso”.

Entrevistas: Marta Lima
Multimédia: Joana Mafalda Gomes