A Associação de Debates Académicos da Universidade do Minho (ADAUM) tem promovido desde a semana passada mais uma temporada de debates temáticos.
A Associação de Debates Académicos da Universidade do Minho (ADAUM) tem promovido desde a semana passada mais uma temporada de debates temáticos. Contudo, pela falta de apoio das entidades académicas, as sessões têm-se realizado virtualmente e perderam a afluência que registavam em modo presencial.
Afonso Silva, presidente da associação desde julho, partilhou com o ComUM, esta e outras preocupações e refletiu sobre o futuro da ADAUM.
ComUM – O que faz a ADAUM?
Afonso Silva – A associação foi fundada em 2012 e criada com o objetivo de promover o debate competitivo na Universidade do Minho. Sempre teve um pendor muito forte para Direito, a meu ver excessivo, porque foi fundada por alunos do curso. Agora, com mais gente interessada e proveniente de vários cursos, decidimos alargar a nossa rede [de atividades] para além dos debates temáticos e queremos ser uma associação que promove o debate não-competitivo, a discussão livre de ideias e, consequentemente, os valores básicos de uma sociedade democrática.
ComUM – O que é que têm feito para atrair mais participantes de fora do curso de Direito?
Afonso Silva – Verificámos que, em anos anteriores, havia pessoas que, provavelmente, teriam todo o interesse em entrar para a ADAUM, mas que não o faziam pelo estigma ‘de os debates serem para Direito’. Por isso, apostámos numa estratégia de comunicação focada nas redes sociais e isso deu os seus frutos. Este ano, pela primeira vez, tivemos mais pessoas de outros cursos a entrar e a fazer parte dos órgãos sociais do que alunos de Direito.
ComUM – Qual é a importância de uma associação de debates em tempos de desinformação e numa sociedade cada vez mais apelidada de “politicamente correta”?
Afonso Silva – Acredito que o nosso papel acaba por ser ainda mais importante nestes tempos em que preferimos argumentar com desinformação do que trocar ideias construtivamente. Neste sentido, acho que o verdadeiro debate só é possível com um esforço para compreender a posição do outro e tentar provar, de uma forma sustentada, que a nossa visão é mais coerente. E isto é o que, inevitavelmente, acontece no debate competitivo e que deve ser transposto para todas as áreas da sociedade.
ComUM – Que critérios usam para escolher os temas de debate?
Afonso Silva – Temos um conjunto de temas planeados para o mandato que abarcam o maior número de interesses possível, mas [os temas] também são muito influenciados por aquilo que se passa na sociedade. Por exemplo, o primeiro debate que promovemos teve como tema a vacinação numa altura em que percebemos que uma vacina [contra a covid-19] será vital para a normalidade ser restabelecida.
ComUM – É inevitável não falar da covid-19. Que impacto é que a pandemia tem tido na atividade da associação?
Afonso Silva – Conseguimos, logo na semana em que a universidade fechou, organizar um debate online e, pelo meio do confinamento, tivemos um torneio digital, o primeiro feito em Portugal. Portanto, a nossa adaptação ao online foi relativamente confortável, mas temos mais dificuldade em captar participantes. Estamos muito dependentes de retomar a nossa atividade presencial, porque o debate é sempre mais vivo com contacto direto entre as pessoas.
ComUM – E, a um nível mais profundo, que relação têm a pandemia e o debate de ideias?
Afonso Silva – Acredito que o debate é bastante necessário em alturas de ebulição da sociedade, quando há grandes mudanças a acontecerem, como é o caso desta pandemia. Contudo, numa altura em que a participação cívica parece estar congelada, a desinformação gera-se e torna-se inimiga do debate, que é tão necessário para se refletir sobre as mudanças que se impõem.
ComUM – Nesse sentido, como vê o futuro da ADAUM?
Afonso Silva – É para nós essencial voltarmos a funcionar presencialmente, cumprindo todas as normas. Até ao momento, não nos foi atribuído nenhum espaço, mas esperamos que a situação se resolva rapidamente. O Ensino Superior não é só as aulas e há toda uma vida associativa essencial para a vida académica. E parece haver, neste momento, uma desconsideração face às atividades não-letivas por parte da universidade, que devia promover a iniciativa dos estudantes.
No nosso caso, no pior dos cenários, a falta de um espaço pode significar uma ameaça à nossa continuação. Apesar de tudo, mantenho-me positivo e acredito que as coisas vão melhorar.
ComUM – Que projetos têm para os próximos tempos?
Afonso Silva – Neste momento, não temos nada anunciado. Em todo o caso, queremos manter, online ou presencialmente, algumas atividades principais: o torneio internúcleos, que estreámos no ano passado; o torneio interno com os estudantes das várias escolas; as Jornadas do Debate e o Open UMinho, o nosso evento por excelência. Também queremos dar mais formação de debate competitivo e realizar com frequência as conferências e os debates temáticos, se possível presencialmente.