À semelhança de nomes como Ennio Morricone e Nino Rota, Stelvio Cipriani assistiu à ascensão da profissão de compositor de bandas sonoras para cinema desde que esta era tida como meramente complementar até atingir um patamar de reconhecimento que ele próprio e vários outros impulsionaram através das suas obras. Apesar da sua vastíssima discografia, foi com a banda sonora original para o filme Anonimo Veneziano que Cipriani se afirmou como um dos mais prolíficos músicos da cinematografia italiana.

Em 1970, a composição foi premiada pelo Sindicato Nacional dos Jornalistas Cinematográficos Italianos com um Nastro d’Argento para Melhor Banda Sonora. Composta por 19 faixas, acompanha a história de um músico veneziano que sucumbe a uma doença incurável e encontra, por puro acaso, a sua ex-mulher. Não faltam sonoridades românticas, muito ao estilo das intemporais baladas italianas, mas é a capacidade de entrelaçar essas mesmas sonoridades com toques suaves das mais diversas influências que permite a Stelvio Cipriani deixar a sua marca única e definitiva no panorama nacional e internacional.

repubblica.it

Por entre as variações do tema principal – e homónimo da obra – que aparecem recorrentemente tanto em trechos como em faixas inteiras, escutamos sintetizadores e violinos, um cravo, órgão e muitas outras assistências sonoras. São esses elementos que pairam sobre a eterna e repetida melodia inicial que fazem com que a faixa se escape uma e outra vez da monotonia que seria de esperar após tanta repetição.

Em “Tempo Al Tempo”, Cipriani dá-nos a conhecer uma aura envolvente mais romântica e clássica que a anterior com um concerto de cordas e cravo a finalizar. “Maquillage” reinterpreta o tema inicial com uma nostalgia agridoce que acaba por verter para “Laguna Incantata”. Esta última faixa desdobra-se em camadas acústicas ao longo de quase três minutos.

Noi, Un Tempo Fa” é um curto mas belíssimo namoro entre cordas e sopro que serve de prelúdio para outra reinterpretação de Anonimo Veneziano em “Spruzzi D’Acqua”, num tempo mais apressado e com leves toques de Bossa Nova. De volta à tristeza estão “Fine Di Una Storia”, “Amore Con Pietà” e “Ricordi Intorno A Noi”.

As três capturam o sentimentalismo das claras influências clássicas, reforçadas logo de seguida em “Dignità” e em “Adagio”. Tudo isto ao mesmo tempo que projetam para o campo emocional específico do filme através da repetição de algumas das melodias de Anonimo Veneziano.

Já em tom de valsa vêm “Incontro D’Autunno” e “Come Una Volta”, seguidos das melodias mais áureas que tentam emular memórias passageiras em “Pensieri Del Passato”. Segue-se o suspiro saudoso de “Vicino A Te”, que com ligeireza recupera ânimos em “Broccati Veneziani” antes de mergulhar no embalo quase hipnótico de “Un Giorno Insieme”. Finalmente, tudo leva “Vento Caldo”, que finaliza com um sopro final esta sequência quase circular de temas.