As Novas (ou reforçadas) Lendas do Rei Macaco chegaram à Netflix a 7 de agosto. Seguindo a primeira temporada, foi-nos apresentada uma dezena de episódios. Durante os 30 minutos característicos, os comportamentos atípicos tornaram os serões mais divertidos.

Para quem não conhece, fica aqui um breve resumo da história que nos é apresentada. Um mundo paralelo, onde os deuses foram derrotados por demónios. Monges guerreiros que procuram restaurar o equilíbrio. Uma derrota. Uma mulher disfarçada de monge que consegue despertar o Rei Macaco, um deus promissor, achavam.

À primeira vista, imaginaríamos um primata evoluído. Quiçá um humano peludo que trepa árvores e que, por um processo de imitação, consegue replicar o comportamento de todos o que o circundam. Felizmente ou infelizmente, a apresentação elegida encontra-se longe das nossas expectativas.

Desta forma, dá-mos de caras com um deus com corpo de humano, acompanhado de um adereço de cabelo, que se transforma na sua maior arma, e um tapete mágico substituído pelas nuvens. No entanto, os seus poderes não são desde logo apresentados, digamos que estar enclausurado numa pedra durante anos traz consigo alguma ferrugem.

Apesar das suas capacidades divinas, a característica que mais se destaca do protagonista é o seu egocentrismo. As personagens que o acompanham (ou definem o seu percurso), ajudam-nos a perceber os motivos do seu comportamento e auxiliam na desconstrução de alguns dos seus maiores defeitos. Sendo assim, temos Tripitaka, a mulher disfarçada de monge, e os deuses Pigsy  e Sandy.

Além da (des)construção das personagens, o verdadeiro objetivo da segunda temporada das Novas Lendas do Rei Macaco é encontrar os pergaminhos mágicos que concedem poder ilimitado para, mais uma vez, tentar restaurar o equilíbrio. Visto que se trata de personagens mais do que desajeitadas, esse processo aparenta atrair a instabilidade.

A instabilidade (ou os comportamentos que a provocam) permitem o estabelecimento dos momentos mais cómicos de toda a série. Tomemos por exemplo o episódio quatro, Mestre das marionetas. Uma poção de amor abre portas para a demonstração (talvez excessiva) de afeto. Por entre tais demonstrações, a missão fica temporariamente comprometida.

Ainda que tenha usado o advérbio “temporariamente”, a verdade é que a cena aparentou ocupar grande parte do episódio. Esta corresponde assim à primeira crítica negativa à série. Apesar de nos levar à gargalhada, os momentos cómicos estendem-se demasiado. Desta forma, as gargalhadas acabam por ser substituídas por uma vontade fervente de que a cena chegue a um fim o mais depressa possível.

Infelizmente, o problema não fica pelo tempo de antena dado às cenas cómicas. Muitas obras cinematográficas conseguem agarrar o espectador ao ecrã durante horas e horas. No entanto, As Novas Lendas do Rei Macaco tentam arrastar a piada o máximo que conseguem, optando, muitas das vezes, por explicá-las. Sem querer ferir suscetibilidades, as piadas infantis, a importância que lhes é atribuída e os silêncios constrangedores daí advindos fazem até lembrar os Guardiões da Galáxia.

De qualquer das formas, já habituados à dinâmica e tendo em conta o público alvo da série, conseguimos perceber a tentativa de transmissão de ensinamentos essenciais ao desenvolvimento humano, nomeadamente nas relações interpessoais. A amizade, o respeito, a confiança e a aceitação das diferenças são alguns dos exemplos.

Todos os episódios tocam, de uma forma ou de outra, nesses alertas. No entanto, creio que o segundo episódio da série, O pergaminho do conhecimento, será o mais elucidativo. Como o próprio nome indica, a peripécia tem como objetivo o alcance do pergaminho do conhecimento, o pedaço de papel que traz consigo a resposta a todas as nossas dúvidas.

O percurso para o seu alcance encontra-se repleto de enigmas, para a sua resolução as personagens têm de ter a capacidade de reconhecer os pontos fortes de cada um e trabalhar em equipa para que o sucesso seja alcançado.  Para além disso, este episódio permite colocar os próprios espectadores a pensar. Apenas para aguçar o bico, vejam lá se conseguiam resolver esta adivinha: “É a resposta a todas as perguntas. Quando pensas que a tens, não a tens.”

Apesar de se notar uma clara diferença da primeira temporada para a segunda, deparamo-nos com o nosso segundo problema, os cenários e as caracterizações que nos são apresentadas. A imagem fica percebida, no entanto, a falta de investimento é percetível.

De qualquer forma, creio (ou talvez esteja só a extravasar) que a série vai brincando com essa incapacidade de melhoria. Uma brincadeira curta e, por isso, bastante interessante. Lembremo-nos que, aquando uma tentativa de fuga, Sandy pede auxílio à sua amiga água. A esperança de uma enchente furiosa, depressa é destruída e substituída por um esguicho de água.

Independentemente dos defeitos apontados, a verdade é que facilmente nos apaixonamos pelas personagens. Semelhante a Mulan (e a todos nós, atrever-me-ia a dizer), Tripitaka perde-se nas suas tarefas, esquecendo-se, por vezes, de quem verdadeiramente é. Uma perceção que a leva em busca da razão do ser.

As Novas Lendas do Rei Macaco

Esta característica é partilhada por Sandy. No entanto, a personagem traz consigo uma bagagem que poderá levar a um pequeno lacrimejo. Por entre a sua ingenuidade, a personagem pretende apenas sentir-se parte de algo. Segue-se Pigsy que procura apenas afirmar-se. Por fim, chega-nos o Rei Macaco que quer, acima de tudo, ser aceite e contornar as ideias preconcebidas criadas à sua volta.

Estas personagens são-nos entregues por um conjunto de atores, fora algumas exceções, com atuações formidáveis: Chai Hansen (Rei Macaco), Luciane Buchanan (Tripitaka), Emilie Cocquerel (Sandy) e Josh Thomson (Pigsy). Para além disso, contamos com a presença de Josh McKenzie (Davari), Bryony Skillington (Princesa Locke) e J.J. Fong (Lusio).

Apesar da continuação não ser certa, o final da nova temporada das Novas Lendas do Rei Macaco deixa alguma comichão. Acabamos a série na esperança de uma terceira temporada. Uma temporada com um crescendo de qualidade e que dê resposta às questões que ficam em aberto. Quem nos dera ter o pergaminho do conhecimento.