Com uma carreira no entretenimento de quase 30 anos, Brandy marca o regresso triunfante à música com o mais recente álbum b7. A performance vocal “acrobática” repleta de harmonias à qual nos habituou está lá, mas é a sublime produção musical que merece destaque.
Apesar de ter lançado o seu último álbum Two Eleven há já oito anos, Brandy manteve uma posição forte na música durante esse período, desde a colaboração com Ty Dolla $ign em “LA” (2015) à participação em “Ascension” (2017) de Jhené Aiko. Apesar desta influência ativa (bem como alguns trabalhos como atriz ao longo da última década), b7 pode ser compreendido como um glorioso regresso.
Em b7, Brandy “põe as mãos na massa”. Apesar de podermos encontrar o seu nome creditado em alguns dos temas da sua discografia, a artista de 41 anos nunca esteve tão envolvida na composição e produção de um projeto. Este envolvimento foi possível graças à criação da sua própria editora, Brand Nu. Deste modo, b7 representa também uma mudança no negócio e consciência artística de Brandy.
Mas se por um lado a voz da artista já adquiriu a imortalidade no R&B, sendo até mesmo conhecida por “the vocal bible”, o talento de Brandy para a composição fica um pouco aquém das expectativas. A lírica em “Save All My Love” é muito esotérica e desconexa, assim como a sopa de letras em “Unconditional Oceans”, igualmente difícil de decifrar.
O álbum não abre da melhor forma, mas as faixas seguintes parecem compensar. A produção do mais recente single “Rahter Me” é assinado por DJ Camper – responsável por alguns dos maiores sucessos de H.E.R. O produtor cria uma atmosfera suave e sensual na qual Brandy se envolve delicadamente, mergulhando em ad-libs e harmonias inigualáveis.
Desta vez, Brandy explora muito mais (e melhor) o seu timbre. Em faixas como “Lucid Dreams” e até mesmo “Unconditional Oceans”, a artista recorre ao registo agudo com mais frequência, demonstrando-se disposta a sair da zona de conforto e desenvolver a extensão vocal. Em “Lucid Dreams” é também importante realçar a produção musical que se resume a pouco mais que o som de uma corrente de água e o subtil estalar de dedos. Pode parecer simplista, mas conquista imediatamente a atenção de qualquer um.
Segue-se “Borderline”, lançado como o segundo single de b7. Brandy começou a trabalhar nele em 2018 e foi a primeira música criada para o álbum. Liricamente, Brandy confronta as próprias inseguranças e fraquezas, ilustrando a solidão emocional mais sombria que um relacionamento romântico pode trazer.
B – Rocha, o alter ego de Brandy, parece dar sinais de vida em “I Am More” e “High Heels” que conta com a colaboração da filha Sy´rai. O empoderamento feminino reina nas duas faixas. Na primeira, Brandy faz-se acompanhar por uma guitarra elétrica enquanto reafirma o seu valor como mulher. Para além de espelhar o orgulho que sentem uma pela outra, o dueto entre mãe e filha proporciona uma momento musical no mínimo emocionante, “There’s not a grain that I’m taking now / It’s me who validates me / See the growth and it makes me proud / There ain’t no shallow in me”. O tema da maternidade está também bem explícito no single “Baby Mama”. Brandy junta-se a Chance the Rapper para celebrar a força e resiliências das mães solteiras.
“Love Again” é, a meu ver, a melhor faixa do álbum: jovem, apaixonante e envolvente. O dueto com Daniel Caeser foi nomeado para Melhor Performance R&B nos Grammy’s 2020 e é, de facto, uma excelente adição a b7.
O álbum fecha com “Bye Bipolar”, a grande balada de b7, na qual Brandy promete proteger a sua saúde mental e afastar-se de relações tóxicas. É esta lírica mais profunda e emotiva que eu gostava que prevalecesse, também, no início do álbum.
Por fim, considero importante relembrar que, apesar de muito tempo afastada dos estúdios de gravação, Brandy não é, de todo, uma novata, e a sua performance vocal demonstra-o muito bem. Contudo, este novo projeto é tão singular, tão pessoal e tão autêntico, que soa quase como um álbum de estreia. Brandy já não é a mesma mulher, mãe e artista de há 10 anos e foi isso que pretende mostrar-nos em b7. Missão cumprida, Brandy!