Em 2020, a hotelaria registou grandes quebras e uma mudança no mercado. As reservas foram feitas maioritariamente por portugueses.
“Enfrentamos, enquanto Humanidade, a maior crise sanitária dos tempos modernos”, segundo a Associação dos Profissionais de Turismo do Minho. O 40º Dia Mundial do Turismo é celebrado este domingo, dia 27 de setembro. Ao contrário dos anteriores verões, este ano o turismo em Portugal teve um novo inimigo, o coronavírus. O ComUM tentou perceber como é que a pandemia interferiu no funcionamento normal de uma parte integrante do setor do turismo, a hotelaria.
O Hotel Meliã Braga e a Pousada Caniçada-Gerês, durante os meses mais críticos da pandemia, não fecharam e permaneceram em lay-off. Já o hotel Wake Up Famalicão viu os seus serviços a serem fechados e, então, abriu as portas para os profissionais de saúde.
“Os clientes começaram a cancelar”
O diretor-geral do Hotel Meliã Braga, Delfim Filho, reconhece que a pandemia mudou o mercado. Num ano anterior, durante o verão, o hotel receberia mais clientes espanhóis do que portugueses. No entanto, “este ano tivemos mais portugueses do que espanhóis” e “tivemos uma queda entre 20% e 30%, mas não foi tão mau face às outras cidades como Porto e Lisboa”, explicou.
No Wake Up Famalicão já registavam muitas reservas para o verão, mas a partir de março viram esta realidade a ser quebrada. “Os clientes começaram a cancelar” e isso afetou as previsões que tinham para o futuro, explicou Vivian Smith, gerente do estabelecimento. Reconhece o impacto negativo do vírus. “A pandemia alterou tudo este ano, durante dois meses não tivemos movimentação, tivemos os profissionais de saúde, mas não tivemos reservas”. Quando reabriram tiveram alguma procura e perceberam que “no início, tínhamos mais portugueses, mas agora já estamos a reparar que há maior movimentação de pessoas de fora de Portugal”. No entanto, a gerente afirma que “este ano não tem nada a ver com o ano passado”.
Ao contrário destas realidades, Carine Silva, diretora da Pousada Caniçada-Gerês, admite não sentirem incertezas. “Este tempo está a ser muito bom”. Nos primeiros momentos de verão deste ano, os clientes usuais do estabelecimento eram os portugueses. “Em julho, quando reabrimos a pousada, só estávamos com o mercado nacional, depois quando os aviões conseguiram começar a vir para Portugal, começamos a ter os clientes habituais”, explica Carine Silva.
Em pleno agosto, o alojamento normalmente tem mais clientes portugueses do que estrangeiros. Com a pandemia, não viram estes números serem muito alterados. “O nosso maior mercado foi sempre o nacional” e, “em agosto tivemos uma média de 10% do mercado internacional”. A diretora da pousada afirma que não sentiram tanto o efeito redutor da procura, por causa da pandemia. Aquilo que perceberam foi “que as pessoas vêm de igual forma de férias e que vêm prolongar as estadias”. Carine Silva acrescenta ainda que não tiveram tantos clientes como os números normais, em comparação com os anos anteriores, “porque a unidade estava limitada ao número dos quartos”.
A partir de outubro, esta unidade hoteleira, já tem uma maior procura por parte de clientes estrangeiros, já que o povo português se começa a governar pela rotina escolar. “O que vai acontecer é que os estrangeiros vêm para cá”, explica Carine Silva. Contudo, “se Portugal continuar com os mesmos casos e se começarem a bloquear os voos aéreos para Portugal”, a pousada vai começar a perder clientes. Mesmo assim, a diretora acrescenta que “os portugueses vão continuar a fazer férias ao fim de semana” e, como tal, já têm os fins de semana até fim de outubro cheios e “reservas para o Final do Ano”.
“Não conseguimos saber o que vai acontecer”
Os três estabelecimentos reinventaram-se e assumiram uma nova responsabilidade, a de proteger e salvaguardar a saúde dos clientes. O Wake Up Famalicão tem “todos os cuidados possíveis” e segue todas as medidas implementadas, explica Vivian Smith.
Para além destas normas, o diretor do Hotel Meliã Braga afirma que, “como não conseguimos saber o que vai acontecer”, estas encontram-se “em constante mutação”. Estão “sempre a estudar novas estratégias” para que consigam demonstrar que as pessoas podem “usar, tanto ao nível do lazer como a nível do negócio, o hotel de forma segura e conforme as regras”.
A Pousada Caniçada-Gerês passou a apresentar um health ambassador. O health ambassador é “alguém mais virado para o cliente”, responsável por informar os clientes das medidas de segurança do estabelecimento, informa Carine Silva. “Essa pessoa vai explicar as limpezas, o que estamos a fazer e os produtos que usamos”, para salvaguardar a segurança dos hóspedes.
“Estima-se que a situação [do turismo] apenas se normalize para valores de 2019, em dois a três anos”, declara o Dr. António Cerdeiras, diretor do gabinete de estudos da APROTURM. “Quando comparamos com anos anteriores diríamos que vivemos em 2020 um pesadelo”, acrescentou. Este explica que é um pesadelo que “levará tempo a resolver-se”, mas Portugal só vai sair deste “sufoco” “com coragem, com ambição e assumindo uma liderança mundial na oferta de turismo de qualidade”.
O diretor do gabinete de estudos deposita a sua esperança no Minho e em Portugal. “O Minho e Portugal têm condições únicas de surpreender, associando naturalmente o potencial humano qualificado no turismo que a região possui”. E acrescenta que “o futuro do Turismo será sempre melhor do que se passou em 2020”, mas deve exigir-se “a capacidade de resiliência a todos os operadores do Minho”.
Entrevistas com Marta Lima e Diana Carvalho