O Dia Mundial de Prevenção do Suicídio é assinalado no dia 10 de setembro de cada ano.
Criado em 2003 pela Associação Internacional para a Prevenção do Suicídio (IASP) e pela Organização Mundial de Saúde (OMS), o Dia Mundial de Prevenção do Suicídio procura evitar o mesmo, através da adoção de estratégias específicas pelos países. Ainda segundo a OMS e a IASP, todos os anos cerca de um milhão de pessoas comete suicídio em todo o mundo.
Em entrevista ao ComUM, Pedro Morgado, psiquiatra e professor da Escola de Medicina da Universidade do Minho, analisa a importância de falar sobre o tema e como o abordar.
ComUM – O tabu e o preconceito que existem em relação ao suicídio dificultam com que o tema seja abordado de forma mais clara e objetiva? E porque é que, falar sobre o suicídio, continua a ser um tabu?
Na nossa sociedade ainda temos muita dificuldade em falar sobre a morte e, ao mesmo tempo, ainda mantemos muitos preconceitos que dificultam a abordagem pública dos temas relacionados com a saúde mental e a doença psiquiátrica. O suicídio encontra-se precisamente no cruzamento entre estes dois temas e isso torna tudo mais difícil.
ComUM – Que cuidados precisamos de ter ao falar de suicídio?
Se alguém nos abordar essa possibilidade, devemos falar abertamente sobre o assunto, escutar o que a pessoa tem para nos contar de forma a facilitar a sua expressão emocional e evitar julgar ou culpabilizá-la. Desvalorizar a informação ou ter uma atitude de desafio deve ser evitado. É muito importante garantir à pessoa que está em sofrimento que o apoio especializado para essa situação existe e está disponível. Nestas situações é muito importante assegurar apoio.
ComUM – Quando uma pessoa pensa em acabar com a sua vida costuma dar sinais? Como é que um amigo ou familiar pode identificar esses sinais?
As pessoas que morrem por suicídio apresentam muitas vezes sinais de que estão doentes, a necessitar de ajuda. Às vezes só é possível reconhecer esses sinais a posteriori. Devemos estar atentos às mudanças de comportamento, à existência de tentativas de suicídio prévias, ao agravamento do isolamento ou às menções que possam ser feitas a essa situação.
ComUM – Como prevenir o suicídio? É possível?
Sim, sem dúvida. Há várias medidas que visam essa prevenção. Entre elas destacaria, a informação, o aumento efetivo da literacia em saúde e a adoção de comportamentos responsáveis pelos OCS (órgãos de comunicação social); o diagnóstico precoce e do tratamento adequado das doenças psiquiátricas que estão mais frequentemente relacionadas com a morte por suicídio; as campanhas de redução de consumos de álcool e outras drogas; e as medidas que reduzem a letalidade ou minimizam o acesso a locais e/ou substâncias comumente utilizadas.
ComUM- Do seu ponto de vista, acredita que os meios de comunicação deveriam falar mais sobre suicídio? Têm um papel na prevenção do suicídio no que diz respeito à divulgação de informação sobre o assunto? Se sim, que tipo de abordagem recomendaria aos jornalistas que abordam o suicídio?
A OMS tem repetido várias diretivas que se destinam à correta abordagem do suicídio nos media. Entre as regras destaca-se: trabalhar em conjunto com autoridades de saúde na apresentação dos factos; referir-se ao suicídio como suicídio “consumado”, não como suicídio “bem-sucedido”; destacar as alternativas ao suicídio; fornecer informações sobre números de telefones e endereços de grupos de apoio e serviços onde se possa obter ajuda; mostrar indicadores de risco e sinais de alerta sobre comportamento suicida; não publicar fotografias do falecido ou cartas suicidas; não informar detalhes específicos do método utilizado; não glorificar o suicídio ou fazer sensacionalismo sobre o caso; não usar estereótipos religiosos ou culturais; não atribuir culpas.
Como facilmente se percebe, é infelizmente demasiado frequente que os OCS não respeitem estas recomendações, o que tem consequência diretas na vida das pessoas.
ComUM – A pandemia piorou o cenário de suicídio?
Não temos dados que nos permitam avaliar essa situação com rigor.