Dado o contexto de pandemia que vivemos e como aluna mais vulnerável, depois de ultrapassar o cancro da mama, tento focar-me na necessidade de ser aprender ferramentas úteis para a minha profissão, na Funerária de Santo Adrião, em Braga, e para a sociedade. Como profissional de serviços desde 2014, tem sido um constante desafio inovar uma atividade económica que praticamente estagnou no espaço e no tempo.

No ano letivo de 2013/14 fui aluna da Universidade do Minho e frequentei algumas Unidades Curriculares que serviram de alicerces para implementar códigos de conduta e ética, bem como implementar formas de comunicação mais assertivas. Quando a empresa começou a destacar-se no mercado, um novo desafio surgiu para testar esses alicerces.

O ano de 2016 ficou marcado pela capacidade de aceitação e superação da doença. Era necessário aprender a viver com ela. Senti necessidade de frequentar várias ações de formação para obter apoio ao nível emocional e psicológico e conseguir estruturar e lidar com tantos estímulos provenientes da sociedade e do meu próprio ser.

Por mais que o tempo me relembre constantemente que já ultrapassei o meio século, mais curiosidade e vontade tenho em consumir conhecimento e aprendizagens sobre o mundo que me rodeia. Desse modo, este ano decidi ingressar novamente na Universidade do Minho para obter mais conhecimentos, aprendizagens e práticas de investigação para implementar na empresa. É muito importante compreender as formas de comunicação verbal e não-verbal, a procura constante da significação dos objetos, das práticas, dos costumes e todo o meio que envolve a atividade que exercemos para servir com credibilidade, confiança e profissionalismo quem nos procura.

Se eu não tivesse uma atividade profissional e uma estrutura familiar sólida, penso que na altura em que ocorreu o desafio do cancro as coisas poderiam ser diferentes. O lidar com a morte todos os dias faz-me questionar e meditar sobre o sentido da vida. A própria palavra “cancro” é assustadora e sinónimo de sentença de morte para a maioria das pessoas. Senti muitas vezes isso quando era necessário referir o meu próprio problema de saúde. Para garantir que o tumor não tivesse afetado os outros órgãos foi necessário retirar o útero e ovários. Apesar de tudo, levei a situação na positiva, referindo: “olha, fiz o mesmo que a Angelina Jolie”!

Depois de um retiro caseiro de 15 dias, decidi voltar ao local de trabalho. Embora com algumas limitações físicas e com um comportamento mais agressivo, sempre fui bem compreendida e toleravam até as minhas revoltas momentâneas.

O cancro da mama fez parte do meu percurso de vida. Porém, a esperança de que estou por cá para ajudar e servir os outros continua.