Após dois anos de construção musical, a cantora norte americana Ava Max lançou o primeiro albúm, Heaven & Hell, no dia 18 de setembro. O disco pop é constituído por um total de 15 faixas, entre as quais o single de sucesso “Sweet but Psycho” e conta com grandes influências de electro pop e dance pop.
Sempre que artistas da indústria musical divulgam os primeiros trabalhos, existe uma crença de que farão sucesso com apenas um single e que, logo de seguida, cairão no esquecimento dos média e do próprio público. Apesar da grande repercussão do primeiro single, Ava Max promete provar o contrário com o seu aguardado álbum de estreia.
Durante o desenvolvimento de Heaven & Hell, a cantora frisou muito bem que não queria de forma alguma que todas as faixas soassem idênticas ao ouvido. Descreve certas músicas como emotivas e felizes, enquanto outras se caraterizam pelo tom mais obscuro e pesado. A distinção vai ao encontro do conceito de “paraíso” e “inferno” criado pela artista, dividindo o álbum em dois- o Lado A: Heaven, e o Lado B: Hell.
O primeiro assenta em composições otimistas e enérgicas que remetem para sentimentos felizes. Os instrumentais descontraídos transmitem uma sensação de paz e serenidade capazes de, literalmente, transportar os ouvintes até ao “céu”.
Prova disso é a música “H.E.A.V.E.N” (faixa introdutória do álbum), em que as vozes de background lhe conferem um tom angelical e sedutor. A meu ver, o único ponto negativo é o curto tempo da mesma. O instrumental inteligentemente construído à base de sintetizadores provoca no ouvinte o desejo de que tivesse a duração de uma música convencional.
Segue-se “Kings & Queens”, outro single bem conhecido e bastante reproduzido nas emissoras de rádio neste último verão. A música apresenta-se como um verdadeiro hino de empoderamento feminino em que a artista apela a “todos os reis” que não subestimem a força e coragem das suas rainhas, tratando-as com respeito e igualdade. Vale ainda destacar o uso proeminente da guitarra elétrica perto do final, algo que faz relembrar produções musicais do ano de 2010.
As músicas “Naked”, “Tatto”, “OMG What’s Happening”, “Call Me Tonight” e “Born to the Night” integram também o Lado A. A produção das faixas é exemplar. Cada elemento presente faz sentido e é necessário para as tornar em músicas da Ava Max.
A canção “Torn” surge como uma espécie de “purgatório”, ou seja, o meio-termo que separa o paraíso e o inferno. Vibrante e com um toque especial de disco, assemelha-se um pouco ao famoso hit de Madonna “Hung Up”.
Eis que o ambiente se torna mais pesado e sombrio assim que “Take You To Hell” começa a tocar. Na verdade, tratam-se caraterísticas partilhadas por todas as músicas que constituem o segundo lado. Versos “If you’re gonna treat me right/ I’ll take you to Heaven every night/ But God forbid you leave me by myself/ I’ll take you to Hell, take you to Hell” dão a conhecer a faceta mais vingativa e obscura da intérprete.
Já “So Am I”, apesar de agradável ao ouvido, possui uma letra um tanto cliché e idêntica a composições que já ouvimos anteriormente como “Firework” de Katy Perry, “Who Says” de Selena Gomez ou “Complicated” de Avril Lavigne. É um tema que dá a sensação de já se ter ouvido em algum lado antes e isso é tudo o que um artista não quer.
Direciono agora a minha atenção para o smash hit que colocou Ava Max nas luzes da ribalta: isso mesmo, “Sweet but Psycho”. É o single de Heaven & Hell com maior número de visualizações no Youtube e não é difícil percebermos o motivo.
A letra refere-se à cantora, não como uma psicopata, mas sim como uma mulher que apresenta duas particularidades opostas no que toca ao amor: o lado mais doce e carinhoso e outro mais complexo e “louco”. A chave do tema é, sem dúvida, o refrão eficaz e de fácil memorização.
Para além das canções referidas, Hell compreende ainda “Who’s Laughing Now”, “Belladonna”, “Rumours” e “Salt”. Os temas transmitem a mesma energia, quer seja pela batida, pelo refrão ou pelo uso de sintetizadores. Estes elementos não são nada mais do que reveladores da identidade de Ava Max enquanto artista e partes de um estilo que a mesma criou.
Acredito que o talento da artista reside não nas letras, mas nas melodias e refrões viciantes, capazes de permanecer no ouvido de quem as escuta por várias horas. Cada faixa apresenta, pelo menos, um bom momento capaz de agarrar qualquer um que a ouça.
A artista tem potencial para chegar até onde quiser. Heaven & Hell é um trabalho bastante coeso, com garra e, sobretudo, com identidade própria. Atrevo-me, ainda, a dizer que é, eminentemente, um dos melhores álbuns do ano, o que só prova que Ava Max veio para ficar.
Álbum: Heaven & Hell
Artista: Ava Max
Editora: Atlantic Records
Data de Lançamento: 18 de setembro 2020