Já há milhares de anos atrás, Confúcio, o pensador político e filósofo chinês, afirmava, num dos seus muitos provérbios: “Uma imagem vale mais que mil palavras”. O dito chinês é ainda hoje considerado mais que atual e utilizado muitas vezes como um dos princípios mais explorados pelos profissionais da comunicação.
Atualmente, o uso das redes sociais como meio para difusão de informação é cada vez mais frequente. Toda a empresa, todo o jornal, toda e qualquer instituição que se pretenda promover tem o seu próprio Facebook, Instagram, ou Linkedin. Com a situação pandémica, ainda mais se tornou evidente que sem um “lugar ao sol” no online, quem queria passar a sua imagem para o mundo ficou sem esse poder de comunicação.
Porém, o poder de comunicação online tem quase obrigatoriamente de vir acompanhado de imagens. Para além de algumas das redes sociais, tal como hoje as conhecemos, serem baseadas nas fotografias ou imagens que são partilhadas, não se pode negar que, dada esta digitalização de tudo o que é realidade (mesmo que não seja sempre fidedigna), a informação e o conteúdo disponível neste mundo que possuímos no bolso das calças é infindável.
Contudo, naturalmente, nem tudo o que nos aparece, por exemplo, no feed do Facebook nos desperta a curiosidade. No entanto, está quase como institucionalizado que, para haver um mínimo de notoriedade nos nossos infinitos scrolls diários, o conteúdo tem de vir abraçado a uma imagem que suscite os sentidos e, por isso, uma fotografia, um gráfico ou uma ilustração são um pré-requisito no universo da comunicação digital.
Todavia, as imagens nas publicações das redes sociais não servem apenas como porta de entrada para uma notícia num jornal online ou num site que quer vender o seu produto. As fotografias servem também para aclarar aquilo que se passa num determinado momento. Assistem as palavras na medida em que ilustram o que não se pode descrever apenas com caracteres. A questão contemporânea que se coloca é: estarão as imagens a ajudar em formato de contexto as palavras? Ou o reverso?
Para além desta pergunta importante que deixo em aberto, gostaria de refletir também no seguinte: até que ponto as imagens que nos são fornecidas e acompanham a informação que chega às nossas casas, deliberadamente, quase sem convite, ilustram de forma real aquilo que passa no mundo? Este tópico desperta várias indagações sobre como a imagem pode ser manipulada para que os meios de comunicação possam obter das nossas cabeças aquilo que querem que pensemos e imaginemos. Contudo, o assunto não se prende apenas com a forma como as fotografias são expostas, mas também como são conseguidas.
Apesar do lento regresso à “normalidade”, a pandemia de Covid-19 veio alterar muitos dos hábitos que já estavam regularizados. A captura de ápices efémeros em formato de imagem, porque é quase desta forma que podemos definir uma fotografia, não foi exceção. Por muito que a vontade de um fotojornalista seja ilustrar de forma crua e dura o que se passa no mundo, se no período anterior à nova realidade instaurada era difícil, hoje em dia a sua função verifica-se ainda mais complicada.
Embora a fotografia seja algo que navega facilmente pela internet, a obtenção destas obriga o profissional, o artista ou até mesmo uma pessoa que goste de deter em sua posse imagens para relembrar num futuro a estar no local certo para registar esse instante. Atualmente, estar no espaço físico, para além de desaconselhável, é sobretudo restrito. Por exemplo, muitos dos eventos, que começaram a decorrer no pós-Estado de Emergência, são agora limitados e não dão a liberdade que é necessária a um profissional de fotografia para fazer aquilo a que estaria acostumado.
Este problema levanta questões, visto que o público se tornou, de certa forma, mais exigente. Recorremos bastante ao ecrã para nos ligarmos ao mundo, mas se não temos um relato fiel, de que serve ter essa representação?
A imagem tem vindo a tornar-se cada vez mais um elemento obrigatório. Precisamos dela para tudo, é uma muleta das palavras e uma influencer nata. A não presença desta torna o público quase cético. Mas não podemos descorar do facto de a imagem ser mentirosa, uma vez que é facilmente manipulável, e não apenas por via do Photoshop ou outro programa semelhante. Não só, mas também neste tempo de pandemia, penso que ser crítico em vez de cético e ter tanta ou mais atenção em relação às fake images, como se tem com as fake news, é capaz de ser um bom conselho.