Durante o percurso escolar, leituras vêm e livros vão. Nas librarias, no Plano Nacional de Leitura, nos manuais de português, nas fichas e textos encontram-se obras literárias completas, excertos ou capítulos. No entanto, os espaços onde as aventuras, histórias, contos e magia literária ganham mais força são nas bibliotecas.

As Bibliotecas Escolares são uma das fontes de conhecimento e aprendizagens nas comunidades estudantis. E, como tudo aquilo que fomenta o imaginário, o conhecimento e o desenvolvimento humano, também as bibliotecas escolares têm um dia reservado nos calendários portugueses. O Dia da Biblioteca Escolar é comemorado esta segunda-feira, dia 26 de novembro.

Das bibliotecas, o ComUM vem sugerir-te um conjunto de livros que não fazem obrigatoriamente parte dos percursos escolares. O ComUM recomenda dez obras que não estão, mas que poderiam estar, presentes no ensino.

Hamlet (1609) – Apesar do ensino português não virar completamente os olhos ao texto dramático, a melhor compreensão deste género conseguia-se talvez através do contacto com quem detém o título de dramaturgo mais influente do mundo, William Shakespeare. Hamlet é, ainda hoje, alvo constante de debates e investigações. Este nome sonante da literatura, que aborda temas tão mundanos como a vingança, a corrupção, a loucura e a raiva, é assim obrigatório.

Admirável Mundo Novo (1932) – Brave New World  de Aldous Huxley retrata uma sociedade distópica. A obra coloca o romance de Bernard Marx e Linda em segundo plano, apoderando-se de uma visão pessimista da evolução científica. Explora a instituição de uma sociedade totalitária, cujo foco é o alcance da felicidade obrigatória, um processo que a desumaniza. Como por exemplo, na sociedade retratada o processo de reprodução não é natural, sendo substituído pela gravidez in vitro. Após o nascimento do cidadão, este passa a pertencer a uma classe social específica, fomentando assim a segregação social. Apesar de parecer obsoleto à primeira vista, o livro permite-nos perceber que o passado, além de ser a chave do futuro, se repete por gerações e gerações. Para além disso, leva-nos a questionar a evolução científica, as suas verdadeiras intenções e nossa participação em sociedade.

Capitães da Areia (1937) –  Jorge Amado viu a sua obra apreendida e queimada em praça pública pelas autoridades do Estado Novo. Se por si só o acontecimento não leva à discussão da vida em sociedade e o contexto que levou ao seu estabelecimento, as edições do livro nas mais variadas línguas e as suas adaptações para a rádio, televisão e cinema, prometem uma viagem por entre questões que não merecem que olhemos para o lado. Desta forma, o romance espelha a realidade de um grupo de crianças que quer sobreviver, mesmo que isso implique não olhar aos meios para atingir o fim. Esta obra ajuda-nos a explorar a normalização de realidades e a sua inserção permanente em grupos, comunidades e sociedades.

À Espera no Centeio (1951) – Intitulado originalmente por The Catcher in the Rye, o romance de J. D. Salinger foi publicado em 1951. Apesar da distância de certa de sete décadas, esta é uma obra intemporal, uma vez que reflete sobre assuntos pelos quais pensamos pelo menos uma vez na vida. O livro conta-nos a história de Holden Caulfield, um jovem de 17 anos, vindo de uma família abastada. Graças ao seu insucesso escolar, o estudante vê-se obrigado a abandonar um colégio prestigiado. Apesar da sorte de ter nascido num berço de ouro, o acontecimento leva-o a refletir sobre o mundo e a tentar delinear um caminho para o seu futuro. Se este processo não fosse relevante o suficiente, Holden explora também as angústias de um típico adolescente: a sua identidade, a sua sexualidade, o medo de existir, a hipocrisia do mundo dos adultos e a vivência numa sociedade consumista e desnorteada pelo voyeurismo.

Mataram a Cotovia (1960) –  Este romance, vencedor de um Pulitzer, é um dos maiores clássicos da literatura norte-americana. Para além da importância de se abrirem os horizontes e as fronteiras no que concerne a literatura, esta obra aborda temas que deviam ser discutidos obrigatoriamente, como a integridade, a perda do medo e a desigualdade racial.

Livro Sexto (1962)Apesar da poesia ser repugnada pela maioria dos estudantes, a verdade é que, após apanharmos o jeito, conseguimos vê-la como uma forma simples, mas sujeita à interpretação, de vermos o mundo. O Livro Sexto de Sophia de Mello Breyner Andresen não foge à regra. Para quem não sabia, a autora tinha uma postura ativa na intervenção cívica contra a ditadura de Salazar,  esta obra corresponde a um dos seus trabalhos que procura dar voz à liberdade. Se, por um lado, nos permite refletir sobre o estado ditatorial, nos dias de hoje, não perde a sua relevância, uma vez que explora o sonho da liberdade e o medo da morte.

Cem Anos de Solidão (1967) – Uma das mais importantes obras da literatura latino-americana. A história foca-se numa aldeia fictícia e remota na América Latina, fundada pela família Buendía – Iguarána: Macondo. A obra de Gabriel García Marquez desenvolve-se então em torno da primeira geração desta família, bem como dos seus filhos, netos, bisnetos e trinetos. No entanto, todas as gerações são acompanhadas por uma personagem da primeira, Úrsula Iguarán, que viveu entre 115 e 122 anos e descobre que as características físicas e psicológicas dos seus herdeiros estão associadas a um nome. Um romance histórico muito rico, que continua a cativar e a dar lições a inúmeros leitores.

Ensaio sobre a Cegueira (1995) – Apesar de José Saramago já constar da lista obrigatória no ensino português, quer com O Ano da Morte de Ricardo Reis ou, em alternativa, O Memorial do Convento, o Ensaio sobre a Cegueira, devia ser tido em conta. Esta obra que arrecadou um Prémio Nobel da Literatura é uma experiência extremamente filosófica, humana e absolutamente genial. Esta magnum-opus de Saramago é de uma pertinência chocante independentemente do passar do tempo e muda a perspetiva de qualquer um que com ela se cruze para sempre.

Lágrimas Coloridas (1999) – O primeiro livro de Ana Macedo é um tesouro pouco conhecido. A obra aborda uma vida depois da morte e consegue retratar a dor de forma detalhadamente bem simples. Luís perdeu a sua namorada e o sentido da vida. Com uma premissa bem simples, o livro é carregado de ensinamentos capacitantes e de uma aura mágica, misteriosa e juvenil. A escrita é surpreendente, clara, meiga e abstêm-se de pomposidades. A história vem derreter perspetivas, aprofundar determinadas vivências e, sobretudo, restaurar a esperança naquilo que é a vida.

Ser como o Rio que Fluiu (2006) – O livro compila 10 anos de pensamentos, crónicas e histórias vivenciados pelo autor, Paulo Coelho. Cada história ou pensamento desperta no leitor uma pequena reflexão interna. Seria benéfico ler este livro em contexto de sala de aula, na medida em que possuiu uma escrita acessível e diversidade de temas. Um dos grandes desafios das leituras escolares de cariz obrigatório passa por efetivamente colocar os alunos a lerem. Esta obra poderia colmatar este desafio, graças à simplicidade com que Paulo Coelho trata de temas simples do quotidiano que podem interessar aos jovens.

Artigo por Bruna Sousa, Leonor Alhinho, Patrícia Silva, Ana Margarida Alves e Diana Carvalho