Numa altura em que se fazem testes e mais testes para perceber se é possível ter público nas bancadas, torna-se ainda mais imperial que haja noção, bom senso e o cumprimento das regras. Os abraços eufóricos nas bancadas depois de um golo, os ajuntamentos antes e no final dos jogos, os contactos com gente desconhecida que partilha a mesma paixão e qualquer outro tipo de contacto têm, escrupulosamente, de ser evitados. Não importa haver medidas, se não houver gente capaz de as cumprir.

O que é certo é que os testes estão a ser feitos e, sim, se as regras forem cumpridas, não sairá daqui um problema. Porém, eu própria, que uso sempre máscara, desinfeto as mãos regularmente e mantenho o distanciamento, não sei se no calor do momento de um golo não tiraria a máscara e fazia dela cachecol a abanar no ar. O público no futebol é um perigo (ou uma ajuda) para o vírus.

Tenhamos noção que os erros de uns não desculpam os dos outros. O facto de haver público nas touradas, por exemplo, não desculpa o facto de haver no futebol. Os erros que se cometem na “cultura” não desculpam os que se cometem no desporto. Desporto, entenda-se, futebol, porque sendo Portugal como é, só o futebol é que é tema badalado, sobre as restantes modalidades ninguém reclama. É certo que os pavilhões não são ao ar livre, mas é possível existir arejamento e a lotação ser ainda mais reduzida que num estádio. Mas fico por aqui, porque já sei que, como não é futebol, quase ninguém quer ouvir falar.

A juntarem-se aos adeptos loucos por regressar às segundas casas, aparecem os próprios clubes e até o presidente da liga, Pedro Proença, que há cerca de dois meses exigiu o regresso dos adeptos. Se os rostos mais importantes do futebol nacional estiverem tão preocupados em garantir a segurança de todos como estão em voltar a ter receitas de bilheteira, não haverão surtos ligados ao chamado desporto rei. E que vontade excessiva vive em todos nós para que estejam.

Em Portugal, os jogos Santa Clara – Gil Vicente, Portugal – Espanha, Portugal – Croácia, SC Braga – AEK, Santa Clara – Sporting CP, CD Tondela – Portimonense e Farense – Rio Ave foram, até ao momento, as cobaias da experiência. O problema dos testes que estão a ser feitos é que não nos podemos fiar neles, porque nada nos dizem. Como podemos comparar um jogo da seleção de apuramento para a fase final da Liga das Nações a um clássico? Ou até mesmo a um jogo dos três grandes, que não seja clássico nem dérbi? Se as pessoas se juntam fora do estádio para apoiar as equipas, o que farão dentro deles quando virem a bola beijar as redes? Para piorar o cenário, só faltam os típicos adeptos a cuspir nos jogadores, árbitros e forças de segurança, porque acham que o vírus é falso e querem brincar com o fogo.

Embora tenha muitas dúvidas e receios sobre o que o regresso dos adeptos às bancadas possa significar no quadro da situação epidemiológica em Portugal, o que eu desejo é que esteja enganada e que, daqui a um ano, este texto possa ser ignorado, por provarmos que não fez sequer sentido ter medos acerca deste tema. Protejam-se e protejam os outros, mesmo quando a nossa equipa marca um golo importante.