Onze Minutos, escrito por Paulo Coelho, foi lançado em 2003. Envolto numa dose de misticismo, sonhos e aventura, a obra fala-nos dos assuntos duros da vida, mas sempre com a aura de esperança a que o autor já habituou os seus leitores.

Onze Minutos conta-nos a história de Maria, uma mulher como todas as outras, que por acaso é prostituta. Maria cresceu numa pequena terra do interior do Brasil, teve amores e dissabores próprios da idade, estudou na escola e foi trabalhar. Como muitas outras jovens da sua terra natal, Maria ambicionava ter sucesso, ver o mundo e sentir uma boa dose de aventura. A Suíça acaba por servir de pano de fundo para o desenrolar da narrativa.

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Contudo, ao contrário das suas conterrâneas, quis arriscar tudo e ir mais além. Mais do que uma história de prostituição, o livro retrata na perfeição a história de uma mulher que quis transcender os limites impostos pela sociedade na busca dos seus sonhos.

O autor não pretendeu, de forma alguma, explorar as questões morais e sociais da prostituição, ou romantizar a mesma. Paulo Coelho informou-se sobre as questões legais da prostituição na Suíça o que abona a favor do livro.  Por um lado, demonstrou uma responsabilidade social para com os seus leitores, ao dar um contexto legal da temática, ao mesmo tempo que foge de realizar juízos de valor. E, por outro, retratou com a maior naturalidade e responsabilidade temas tabu na sociedade, incluindo o sexo.

Paulo Coelho recheou o livro de uma boa dose de cultura, como já é usual nas suas obras. O leitor encontra algumas breves informações acerca da origem da prostituição e as formas como foi vista aos olhos da Humanidade, em diferentes épocas.

Para além dos temas mais tabu, explora questões como a liberdade infinita e o destino, ou os limites do ser humano. Explora, de igual modo, a gestão das expectativas e a própria conceção humana acerca da realidade temporal. Além disso, uma ideia muito vinculada no livro é a noção de que todos nós: homens, mulheres, não binários, bancários, desempregados ou até prostitutas, ambicionamos a felicidade e a plenitude do amor e da estabilidade.

Podemos, por conseguinte, inferir que Paulo Coelho retratou com o maior respeito toda a temática da prostituição, fazendo jus às prostitutas. Foi tão meticuloso no seu retrato, que cumpriu inclusive um dos maiores desejos de Maria: se algum dia contassem a sua história, deveriam começá-la com “era uma vez”.