O docente faz uma reflexão sobre o ensino à distância e as possíveis consequências para a academia minhota.

Depois da Universidade do Minho ter fechado portas, as atividades letivas transportaram-se para o online. Atualmente vigora um regime misto. Pedro Miguel Martins, diretor de curso da licenciatura em Filosofia, conta em declarações ao ComUM, a sua experiência enquanto professor em tempos de pandemia.

ComUM – Qual o maior desafio para os professores na educação durante a pandemia? 

Pedro Miguel Martins (PMM) – A adaptação (do ponto e vista técnico e metodológico) a uma modalidade de ensino que, na maior parte dos casos (o meu incluído), nunca havia sido praticada e não contém um elemento fundamental no processo ensino/aprendizagem, que é a interação presencial e efetiva entre discentes/ docentes.

ComUM – Quais as dificuldades sentidas em transmitir/lecionar matéria tendo em conta o ensino online? 

PMM – Senti diversos tipos de dificuldades, designadamente técnicas, mas também de caráter mais pedagógico. As dificuldades técnicas afetavam muitas vezes os alunos e tinham várias causas (falta de hardware, de ligação à internet e aos seus custos, interrupções, dificuldades em captar com qualidade o áudio e vídeo). Além disso, alguns alunos sentiam-se pouco à vontade a falar perante uma câmara. Obviamente, um ensino não presencial ou à distância nunca poderá ser tão eficaz e marcante, pedagogicamente, como um ensino presencial. Para começar, o professor não pode ter uma boa perceção do feedback dos alunos; por seu turno, o aluno não tem uma interação tão empática e efetiva com o professor. Levantam-se também dúvidas em relação à seriedade e honestidade de certos elementos de avaliação, como testes.

ComUM – Foi difícil a adaptação à nova realidade virtual? As matérias lecionadas através das plataformas online conseguem ter o mesmo efeito/resultado do que as lecionadas em aulas presenciais?

PMM – Foi difícil, como é óbvio, até porque tivemos de fazer a adaptação de forma quase imediata (uma semana ou duas) e sem qualquer tempo de preparação/formação. Mas felizmente, existem ferramentas informáticas, hoje em dia, muito práticas e intuitivas, além daquelas com as quais já trabalhávamos, que tornaram a adaptação mais fácil. Aliás, já não eram novas em contexto universitário, mas ainda eram usadas de forma minoritária (B learning). Por outro lado, a nossa civilização já cultivava este tipo de interação não presencial há muito e como tal, a novidade não era absoluta. Já se tornou quase uma segunda natureza para a humanidade em diversas dimensões da nossa vida, incluindo as formativas.

ComUM – Sente diferença na motivação para dar aulas dado que, a interação com alunos em aulas online, não é a mesma? 

PMM – Obviamente, como já disse antes, a interação não é a mesma, o que foi sem dúvida desmotivante para alguns alunos e professores. Todavia, considerando as circunstâncias, tentei motivar os alunos para as vantagens e benefícios, apesar de tudo, desta modalidade de ensino, particularmente num período de confinamento, que poderia facultar um ambiente favorável a um estudo mais concentrado. Destaquei o facto de que muitas atividades económicas, profissionais, culturais, desportivas e lúdicas tiveram de ser suspensas mas o nosso caso era, não obstante as dificuldades, uma exceção. O que devia ser motivo de satisfação e motivação adicional, já para não falar das vantagens ambientais. E tentei cumprir exatamente – na medida do possível e usando as ferramentas tecnológicas disponíveis – os mesmos objetivos pedagógicos que visava no ensino presencial. Os resultados até foram bons, de modo que o balanço a fazer é positivo.

ComUM – Quais as maiores diferenças sentidas entre os dois regimes e quais as dificuldades em trabalhar em registo misto?

PMM – As maiores diferenças já foram, no essencial, referidas atrás. Como vou começar agora a lecionar em regime misto, ainda não tenho uma ideia concreta formada, mas, uma vez mais, é um regime nunca antes experimentado a que teremos de nos adaptar. Mas, eventualmente, pode ser um regime que – ainda que envolva alguns riscos de contágio – pode vir reunir as vantagens de ambas as modalidades de ensino. Um outro problema que pode surgir – mas de natureza socioprofissional e económica – é a tentação de reduzir custos em recursos humanos aproveitando esta modalidade de ensino e tornando-a não como uma ferramenta provisória e adaptativa por razões de saúde pública mas sim como uma permanente e estrutural (aliás, mesmo antes da pandemia, já havia várias crescentemente mais propostas e ideias no sentido de desenvolver modalidades de ensino à distância nas universidades). E, assim, se agora já é complicado – senão impossível – dividir a lecionação de UCs com grande número de estudantes por várias turmas (num caso, cheguei a ter 200 alunos inscritos na plataforma), como será no futuro?