No debate foram apresentadas várias perspetivas acerca da saúde mental dos portugueses.
A plataforma Communitas do Centro de Estudos de Comunicação e Sociedade (CECS) da Universidade do Minho realizou este sábado, dia Mundial da Saúde Mental, um debate online. A sessão, moderada por Madalena Oliveira, investigadora do CECS e docente do Instituto de Ciências Sociais, abordou o impacto da pandemia na saúde mental dos portugueses, as iniciativas realizadas na área e o papel dos média neste tema.
No arranque da sessão do think tank Communitas, Pedro Morgado, psiquiatra e docente da Escola de Medicina da UMinho, fez uma breve introdução acerca da definição de saúde mental, diferenciando do conceito de doença psiquiátrica. “É algo extremamente abrangente, que não diz respeito só à psiquiatria ou à psicologia; é um bem-estar psicológico, a capacidade de nos realizarmos e de termos condições para viver em segurança e tranquilidade”.
O psiquiatra do Hospital de Braga deu a conhecer, também, alguns resultados de um estudo em que colaborou durante o confinamento obrigatório. Entre outros fatores, revelou que as pessoas mais afetadas na sua saúde mental foram aquelas que “tinham perdido o seu trabalho, que não praticavam exercício físico e que já sofriam de doença psiquiátrica”. No entanto, deixou a ressalva de que os níveis de ansiedade foram baixando com o tempo, justificando com uma maior perceção da “rede de suporte” sanitária.
Na sua intervenção, Alice Matos, socióloga e investigadora do CECS, abordou o tema partindo de uma perspetiva sociológica, referindo que as perturbações mentais foram, desde sempre, alvo de “estigmatização”. “Há dificuldade em distinguir um comportamento social inadequado de um comportamento desajustado por força de uma patologia”, considerou.
Além disso, a investigadora relacionou a realidade do isolamento em período pandémico com a saúde mental. “De facto, o problema é a solidão e não o isolamento”, afirmou, acrescentando que este último, “quando não é desejado, é prejudicial à saúde”.
Por seu turno, Sofia Branco, jornalista e presidente do Sindicato de Jornalistas, reforçou a importância dos média na mudança de mentalidades sobre a saúde mental. Contudo, sublinhou a “dificuldade” de especialização das fontes e dos jornalistas sobre a questão. “É difícil encontrar, às vezes, uma pessoa que fale de uma forma clara”, afirmou.
A jornalista da Agência Lusa comentou também o impacto da carga informativa sobre a pandemia na saúde mental das pessoas. A propósito, apontou como problema a forma “leviana” como algumas notícias são escritas, sobretudo, na internet, o meio privilegiado neste período para obter informação. Em conclusão, reconheceu que o jornalismo ainda é um meio “preconceituoso” em relação à saúde mental. Apontou ainda este tema como uma das possíveis “marcas da pandemia”.
O think tank Communitas visa promover a reflexão e a discussão sobre diferentes temáticas no âmbito das Ciências da Comunicação. Numa tentativa de seguir os ritmos das agendas sociais e políticas, busca ser um espaço de diálogo com a comunidade e de participação coletiva.