O candidato à presidência da AAUM mostra querer diferenciar-se da lista adversária reivindicando coisas na prática.

Alexandre Carvalho candidata-se, pela primeira vez, à presidência da Associação Académica da Universidade do Minho (AAUM). A liderar a lista X, tem como adversário nas próximas eleições de 2 de dezembro o presidente recandidato pela lista A, Rui Oliveira.

O estudante de filosofia junto da equipa de 25 estudantes salienta a falta de locais de estudo, de alojamento local e o valor insuficiente das bolsas de estudo. Acrescenta que a prioridade é os estudantes e as suas condições na Universidade.

ComUM – O que o levou a candidatar-se à direção da AAUM?

Alexandre Carvalho – Esta não é uma candidatura individual, é uma candidatura coletiva que pretende dar uma alternativa aos estudantes da academia minhota. No fundo, para reivindicar coisas que a atual direção reivindica só no papel. Portanto, temos de ter outra maneira de atuar com uma candidatura para todos os estudantes, dos alunos para os alunos.

ComUM – O vosso texto de campanha fala sobre a “falta de resposta aos verdadeiros problemas dos estudantes”. Que problemas são esses?

Alexandre Carvalho – Há inúmeros problemas, mas talvez a ação social levante as maiores questões. A propina é um dos primeiros entraves que temos quando chegamos à academia. Para além disso, as bolsas são insuficientes e muitas vezes servem só para pagar o valor da propina. Agora tivemos a fixação do valor mínimo da bolsa no valor anterior da propina, mas estamos a falar de um aumento de 17 euros para alojamento, transportes e alimentação que é, claramente, insuficiente. Estas são então as duas principais limitações que falávamos, mas existem muitas mais.

ComUM – Propõem também um “ensino superior democrático, público e gratuito, acessível a todos”. Em que medida concretizariam isto?

Alexandre Carvalho – Reconhecemos a diferença de poderes que temos em relação ao Governo ou ao Parlamento, por isso seria de uma forma mais reivindicativa. Desta forma, defendemos o fim da propina em todos os ciclos e, progressivamente, em mestrado e doutoramento. Isso pode acontecer já nos próximos dois anos, que seria a proposta que levaríamos aos órgãos governativos. Mas a construção de novas residências universitárias também seria uma prioridade. No fundo, achamos que nenhum estudante pode estar impedido de se especializar numa licenciatura, num mestrado ou num doutoramento.

ComUM – Uma das propostas da Lista X é recuperar a antiga fábrica Agrovil e transformá-la numa “grande residência”. Tendo em conta a necessidade de resposta de outros setores, nomeadamente dos transportes, não seria este um projeto ambicioso?

Alexandre Carvalho – Sim. Levantámos a opção da fábrica numa perspetiva de podermos também olhar para ela como viável para construirmos uma residência. Contudo, se fosse construída aí [num local afastado], como outras residências que atuam em Braga, não haveria um meio de transporte que facilitasse o acesso dos alunos ao campus de Gualtar. Se possível, uma residência perto do campus; se não for possível, tem de haver condições de transporte. Relembro que a Agrovil é um terreno privado e, portanto, teria de haver também uma resposta do Estado para a aquisição daquele terreno. Aquela infraestrutura é enorme e daria para alojar milhares de estudantes.

ComUM – Comparativamente à Lista A, a Lista X tem menos elementos e departamentos. Essa simplificação estrutural é propositada?

Alexandre Carvalho – Essa simplificação é a legal. Fizemos dois pedidos de impugnação à lista adversária, sendo que o primeiro relatava que estavam presentes 35 membros e isso é antiestatutário. Entretanto retiraram esses elementos e chamaram-lhes colaboradores, mas estes nunca poderão ter o diploma de pertencer a uma associação académica. Por isso, o nosso número de membros – 25 – é o legal. Ao contrário da nossa lista adversária, nós cumprimos os estatutos.

ComUM – Em entrevista à RUM garantiu que, caso sejam eleitos, nunca serão “uma associação da reitoria”. Como pensa então as relações institucionais com esse órgão?

Alexandre Carvalho – Não queremos deixar de ter relações com a reitoria, muito pelo contrário. Com a força dos estudantes podemos ter uma maior comunicação com a reitoria. Agora não podem ser apenas reuniões de secretária, assinaturas ou formulários online. Queremos mostrar à academia que os estudantes estão unidos – na rua, claramente. A situação pandémica pode exigir outras condições, mas não são só 25 membros da associação académica que vão dar o seu “voto”. Devem ser todos os estudantes, numa luta justa. É neste sentido que somos uma lista dos estudantes e não da reitoria, nunca seremos. Se eles estiverem connosco, nós estamos; se eles não estiverem, continuamos a lutar contra eles.

Alexandre Carvalho AAUM

Mariana Pinto Fernandes/ComUM

ComUM – Num contexto de crise pandémica, que importância tem a AAUM para o bem-estar dos alunos?

Alexandre Carvalho – Muito grande. Acho que é fundamental a Associação Académica, que representa os alunos, ajudar com informação sobre a saúde e a higiene. É neste sentido que queremos trabalhar a pandemia. Um dos nossos departamentos, dedicado à saúde, tem também uma área de psicologia que, para nós, é tão importante como a da informação. Se a saúde mental dos estudantes já era um problema, durante a pandemia agravou-se com mais casos de depressão, ansiedade e burnouts. Assim, este departamento estaria ligado à sensibilização e à representação dos alunos nestas questões.

ComUM – Relativamente à maior falta de espaços de estudo derivada da pandemia, que soluções apresentam?

Alexandre Carvalho – Podíamos apresentar soluções de construção, mas, dada a situação imediata, seria bastante difícil levantar um edifício em um ou dois meses. Portanto, temos de perceber que só há falta de salas de estudo porque não foram construídas antes. Antes da pandemia já tínhamos essa falta, sempre vimos alunos a estudar nos cafés e a ter de pagar para estarem lá. No entanto, acho que as medidas tomadas estão a ser muito sérias e a correr bem, nomeadamente por deixarem usar as cantinas e a sede da AAUM em Guimarães. Mas também temos relatos de alunos que são expulsos das cantinas porque não estão a comer e, assim, impedidos de estudar. Acrescentaria ainda que muitas mesas foram retiradas nos CPs [Complexos Pedagógicos] e não percebo isso. Podiam fazer a higienização como nas cantinas e assim teriam continuado lá.

ComUM – Acredita que o eVotUM, o novo sistema de voto eletrónico, pode ajudar a combater a habitual abstenção elevada nas eleições académicas?

Alexandre Carvalho – Acho que o eVotUM não é propriamente uma resposta à abstenção. É preciso deixar isto claro. Essa resposta passa pela alternativa. Muitos estudantes não votam porque sabem que vai ser sempre a mesma Associação Académica. Agora acho que este sistema pode ajudar, por exemplo, os estudantes internacionais, os que estão fora do país ou os que estão confinados. Sempre achei preciso o espaço físico de voto – e a Comissão Eleitoral garantiu-nos isso – mas, nestas circunstâncias, o eVotUM é a melhor opção.

ComUM – Quais são as prioridades para a Lista X?

Alexandre Carvalho – A aproximação aos estudantes pela comunicação e pela reivindicação. Queremos defender todas as reivindicações que os estudantes tenham, nomeadamente a higienização das salas, as salas de estudo, a propina, a falta de alojamento ou a falta de transportes. Assim, as nossas prioridades são, certamente, a condição de vida dos estudantes e tentar proporcionar-lhes a melhor situação possível.

João Pedro Sousa e Sofia Faria