André Teixeira, candidato pela lista E à mesa da Reunião Geral de Alunos (RGA) da Associação Académica da Universidade do Minho (AAUM), esteve à conversa com o ComUM. As suas motivações, os objetivos da candidatura e a abstenção foram os temas centrais  da entrevista.

 ComUM – O que é que o motivou à candidatura à RGA?

André Teixeira – Se eu podia falar daquilo que me motivou a candidatar-me à Mesa da RGA foi acima de tudo uma vontade de contribuir da forma como eu pudesse para a dinamização do debate na academia. Associativismo é aquilo que efetivamente me dá vontade de acordar de manhã e trabalhar e fazer coisas e sentir-me ativo, não tanto quando estávamos em quarentena, mas vamos ignorar essa parte. Efetivamente acho que cada um de nós tem que contribuir da forma como considerar que pode ou que é possível para o dinamismo e para o funcionamento da academia. Se não tivermos atividade, se não tivermos debates, discussão, as coisas não funcionam e tudo isto não passam de brincadeiras que andámos a fazer de um lado para o outro.

Portanto, considerei que este era um ano em que eu podia contribuir para algo que eu achava importante que é a dinamização de maior debate, naquele que é o maior fórum na academia, que muitas vezes é subvalorizado, tratado única e exclusivamente como um local para desenvolvimento de burocracias. Que é, porque tem de ser. Porque todas as assembleias, mesmo uma grande, têm de ser sítios onde a burocracia se desenrola, é uma parte formal de qualquer entidade, mas não é só isso e mesmo para as próprias burocracias é essencial que haja maior presença das pessoas, é essencial que as pessoas percebam que aquilo acontece e que tem valor, é essencial que percebam que podem falar e é essencial que percebam que quando falam são ouvidas e há consequências que é uma coisa que eu acho, não apenas no associativismo académico, mas no geral no envolvimento político e cívico claramente está a desaparecer. Portanto, foi um conjunto de fatores, mas essencialmente foi o meu amor ao associativismo e a consideração que podia fazer alguma coisa de mais, por algo que eu considerava que precisava que fosse feito algo mais.

ComUM – Quais são os principais objetivos nesta candidatura?

 André Teixeira – Bem se eu tivesse que descrever os principais objetivos, colocálos-ia essencialmente em três pilares. Atenção, a Mesa da RGA não é um órgão executivo, nós não pretendemos revolucionar o sistema porque não é esse o objetivo. Nós pretendemos melhorar aquilo que conseguimos efetivamente melhorar. E o que é que conseguimos efetivamente melhorar? Essencialmente como eu disse três pilares. Mais participação, mais transparência e mais debate. Em que é que consistem estes pilares? A parte da participação é em si própria explicativa, mas como eu disse há bocado, precisamos de mais pessoas, mais investidas, para que o órgão possa funcionar com o seu propósito que é a discussão, que é fazer com que, mesmo as partes que sejam burocráticas tenham algum tipo de validade que não única e exclusivamente formal e para isso queremos tentar convidar mais pessoas a aproximarem-se, queremos tentar fazer com que seja mais vista, quer nas redes digitais como em outros meios que consigamos fazer, queremos ativamente que os representantes dos alunos a vários níveis, os delegados, as entidades como núcleos e entre outros, participem ativamente nestas reuniões que não sejam única e exclusivamente marcadas por exemplo pela Direção da AAUM para aprovar um plano de atividades, apesar dessa parte ser crítica, mas especificamente porque é crítica é que é importante que os representantes dos alunos a mais variados níveis estejam lá e consigam participar.

A parte da maior transparência está incluída também, de certa forma, na parte da maior participação, apesar de serem pilares diferentes. Porquê? Porque muitas vezes aquilo que é decidido em RGA, não passa obrigatoriamente e isso é uma coisa que nós queremos melhorar. Como é que podemos melhorar isto? Melhorando quer a nossa comunicação externa, ou seja, quer no anúncio das próprias reuniões, quer na divulgação daquilo que foram as suas consequências e facilitando os pontos que foram discutidos, ou seja, as pessoas não leem atas e achamos que tentando fazer uma standartização, tentando passar por pontos aquilo que é relevante e enviando isso ativamente às entidades que possam precisar disso e aos representantes e à comunicação social conseguimos passar mais facilmente aquilo que foi discutido. Portanto, há uma tentativa de tornar a coisa mais transparente, quer para os alunos saberem que podem participar, quer para os alunos saberem o que se passou. Finalmente a parte do debate porque sim. Como eu disse, as RGAs acabam por ter uma faceta muito formal, mas é exatamente essa faceta formal que permite que seja legitimado o debate que ocorrer lá, mas para isso tem de acontecer debate. Portanto, queremos encorajar que as pessoas participem não apenas para criticar ou para tentar falar daquilo que é levado lá pela Direção, como muitas vezes acontece, mas que participem ativamente para falar daquilo que as preocupa a elas. Uma reunião geral serve também para falar de política educativa, as questões que temos no dia-a-dia, e queremos tentar arranjar formas de incluir isso. Não apenas por exemplo em outros assuntos ou noutros momentos, mas tentar trazer as pessoas para que debatam as coisas. Isto claramente que é mais incómodo.

A nível da universidade, temos de tentar ser mais exigentes e tentar facilitar que as pessoas exponham as suas opiniões, não apenas instrumentalizar estes órgãos. Portanto queremos tentar que as pessoas possam trazer os seus problemas, as suas ideias e debatê-los. Também é para isso que serve uma Reunião Geral de Alunos.

ComUM – Caso seja eleito, quais são as mudanças que pretende aplicar?

André Teixeira – Divulgar melhor as RGAs e em moldes diferentes, convidar ativamente a participação  de entidades académicas por alunos, que funcionam por alunos, para alunos, para participação e não apenas esperar que as pessoas venham, que sejam mobilizadas em caso de necessidade de aprovação de documentos, divulgar melhor os resultados e os acontecimentos das próprias reuniões, procurar criar reuniões ou oportunidades onde seja possível debater temas e encorajar que haja esse próprio debate de temas e não apenas instrumentalizá-lo, a instrumentalização do órgão. Como eu disse, o nosso objetivo não é revolucionar, nós não temos poderes para isso. Uma mesa serve enquanto mediadora de debate e é precisamente isso que queremos fazer, mediar debate, mas isso implica encorajar que ele exista.

ComUM – Houve recentemente uma denúncia nos atrasos a atribuição das bolsas de estudo a alguns alunos. O que pode prejudicar a permanência de alunos mais carenciados aqui na universidade. O que pretendem fazer relativamente a questões deste género?

André Teixeira – O que podemos fazer efetivamente é trazer tópicos como esse para discussão pública sobre como é que os estudantes poderão efetivamente mobilizar-se e pensar sobre o assunto. Esse atraso não pode ser tolerado. É um atraso que efetivamente nos prejudica a todos, mas enquanto candidato à Mesa não posso fazer algo contra ele ou para combater isso para além das minhas próprias necessidades neste momento enquanto dirigente associativo e enquanto aluno. Agora, o que é que podemos fazer enquanto Mesa quanto a questões como essa especificamente? É propô-las a discussão. Isso é uma coisa que sim, os alunos podem juntar-se e fazer propostas a discussão às reuniões gerais. Os próprios alunos podem até convocar reuniões. A maior parte nem tem consciência disso, mas um grupo de alunos pode convocar, sem necessidade de aprovação, uma reunião geral de alunos. Nós temos que fazer com que haja possibilidade de haver esse tipo de discussões para que as pessoas possam estabelecer e haja uma maior capacidade de discutir aquilo que os alunos devem fazer.

 ComUM – Quais são as suas previsões no que toca à abstenção?

André Teixeira – Este ano é claramente atípico a vários níveis, é o primeiro ano da utilização do voto digital, o que facilita muito, tendo em conta a situação atual. Pessoalmente não sou grande fã, acho que o voto tem que ter um certo sentido ritualístico para ter mais significado, mas claramente que este era um avanço que era necessário ter, quer pelas circunstâncias, quer pela facilidade. Não sei se isto vai diminuir a abstenção ou aumentá-la. Sei simplesmente que agora é muito mais fácil para nos adaptar, e vou fazer os possíveis para encorajar as pessoas a votar, quer no contexto da própria campanha, quer no contexto em que eu achar que faz sentido votar, independentemente de quem esteja e no que é que se está a votar. Acho que toda a gente devia fazê-lo.

ComUM – Há alguma mensagem que gostaria de deixar à comunidade académica?

André Teixeira – De facto estamos num momento muito difícil para nós, a pandemia modificou muito a forma como nós pensávamos, como nos relacionávamos. Precisamente por isso temos que ter mais cuidado e perceber que as coisas que dávamos como garantidas não o são. E precisamente por isso é que precisamos de falar mais e de utilizar a voz que temos para fazer alguma coisa. O quê não importa, escala não é relevante, o que cada um de nós deve fazer é usar as oportunidades que tem à melhor capacidade possível. Nesse sentido não votar, não se envolverem nas coisas que importam, nas próximas presidenciais, nas próximas autárquicas, no que quer que seja, nas associações locais, nas pequenas iniciativas, não participar naquilo que podemos participar é desperdiçar tempo, é desperdiçar oportunidades e isso acho que não é uma coisa que tenhamos o luxo de poder fazer. Porque acima de tudo, se há coisa que esta pandemia nos ensinou é que não podemos olhar para trás e pensar que aquilo é que foram os bons velhos tempos, e esperar que as coisas voltem. Não. Vamos fazer o que podemos agora e agora o que podemos fazer é usar a nossa voz, não significa pouco, portanto usem-na.

Artigo escrito por : Joana Lopes e Marta Lima