Carrie é um romance de terror de Stephen King lançado em 1974. A escrita do pai contemporâneo do terror alicerçada à religião e poderes telecinéticos na juventude põe-nos a pensar já no próximo Halloween.

A estória passa-se, maioritariamente, em 1979. Conhecemos Carrie White, uma rapariga que não se enquadra no meio dos seu colegas que já tão embrenhados estão nas amizades e no início das vidas sexuais. Para além desta ostracização, a jovem também sofre abusos físicos e psicológicos da sua mãe, Margaret, que é fervorosamente religiosa. Há ainda outro motivo para Carrie não ser uma rapariga normal: em algumas ocasiões ela consegue mover objetos com a mente.

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O enredo de Carrie é especialmente original. Claro que, ao avaliarmos a estória hoje em dia, não a julgamos nova. Contudo, muitas produções que abordam poderes telecinéticos foram, na verdade, inspiradas por esta obra de Stephen King. A linguagem do pai contemporâneo do terror colabora bastante para a qualidade deste livro. Nem no enredo, nem nas palavras existe grande margem para floreados. Esta obra é, sobretudo, crua e absolutamente terrífica. Posso afirmar que existe algo na simplicidade de King que torna todas as suas obras horripilantes.

Um dos aspetos mais interessantes no livro é e não é, simultaneamente, o dom de Carrie. Isto é, a presença de um poder nada comum como a telecinesia faz-nos esperar que a obra seja maioritariamente em torno disso. Contudo, numa surpresa mais que agradável, o seu poder serve apenas como desfecho. O livro é aterrorizante mais pelos seus aspetos mais quotidianos. A religião fervorosa, a humilhação dos colegas, a violência doméstica, física e psicológica são, na verdade, o que tornar esta obra uma obra de terror. Todos estes aspetos tornam a protagonista uma bola constante de angústia sempre quase a explodir, uma autêntica bomba-relógio.

Há algo de muito real e estranho nesta obra. Aliás, Stephen King escreveu-a tendo em mente duas ex-colegas de escola que eram rejeitadas pelos colegas e que acabaram por falecer ainda jovens. O autor conseguiu de uma forma absolutamente genial transpor sentimentos muito reais e amargos para a escrita. Toda esta conjuntura faz de Carrie a personagem mais interessante de um leque muito competitivo de King.

Há algo de fascinante num livro quando me conseguem fazer sentir emoções muito fortes com as coisas mais banais. Stephen King não se escondeu ou desleixou sob a premissa da telecinesia, ele abraçou as emoções e os terrores da realidade e fez com eles esta obra que tão pouco reconhecimento tem, face ao que merece.