Os benefícios da leitura são do conhecimento geral. O bem que ler traz é conhecido. A par disto, Portugal é banhado por um tesouro de escritores portugueses e por uma cultura literária de tirar o fôlego. Porém, os jovens portugueses têm vindo a ler cada vez menos.

No início do período escolar, o país recebeu os dados do estudo “Práticas de Leitura dos Estudantes dos Ensinos Básico e Secundário”, do Plano Nacional de Leitura 2017-2027 e do Centro de Investigação e Estudos de Sociologia. Destes, concluiu-se que há uma diminuição de livros lidos à medida que a idade cresce. Dos alunos inquiridos em 2019, do terceiro ciclo do ensino básico e do secundário, cerca de 21,8% dos estudantes afirmou não ter lido nenhum livro nos 12 meses anteriores ao inquérito. Em 2007, apenas havia 11,9% de alunos com a mesma resposta.

Resta-nos perceber como é que este aumento pode ser colmatado, para que as gerações de futuros estudantes não passem pelo mesmo caminho. A leitura é inserida no caminho dos jovens desde muito cedo, tanto pela família como pelas instituições de ensino. No entanto, uma das batalhas dos pais e professores é fazer da juventude leitores.

A escola dá aos alunos ferramentas de compreensão e interpretação das obras. Ajuda-os a perceber o português de Camões e da poesia trovadoresca. Ajuda-os a interpretar os conceitos por detrás de Mensagem (1934) e de Os Lusíadas (1572) e os temas da poesia de Cesário Verde. Contudo, a escola não instiga a uma profunda apreciação e propõe uma visão muito apoiada de que ler é um ato renhido e aborrecido. E como tudo aquilo que se aparenta difícil e chato, a leitura é afastada pelos mais jovens.

A escola mergulha-os em toda uma necessidade de raciocínio obrigatório para uma possível compreensão e, muitas vezes, põe de lado o simples sentimento de prazer que é possível ser retirado de uma leitura. Esmiuçamos tanto os textos e composições e é-nos exigido procurar tantos significados naquilo que lemos que somos remetidos para o esquecimento de que a leitura pode ser um processo simples, claro e enriquecedor. Como incentivar à leitura se ler parece ser algo tão complicado?

As instituições escolares em si podem não ser só o tronco do problema. Os contextos familiares e as exigências do ensino também são fatores que provocam a diminuição das leituras entre os jovens.

O que é certo é que esta vai poder ser a geração apenas do desassossego de Fernando Pessoa, do calão do Auto da Barca do Inferno (1517) e dos amores de Camilo Castelo Branco. Ao livrarem-se de uma leitura autónoma durante os primeiros 12 anos de ensino, não vão ter curiosidade em perceber a forma como funciona o calão presente em Pão de Açúcar (2018). Não vão ouvir a história de Cilka e do Tatuador de Aushwitz (2018), nem vão querer perder-se nos labirintos dos Jogos da Fome. Não poderão captar a essência de um romance de John Green ou de um dos mistérios que envolve Erika Foster ou Jane Rizzoli. Não vão poder ser leitores e apreciar as vantagens da leitura, se não decidirem mergulhar no mar de obras literárias que o mundo tem para oferecer.

É vital relembrar os benefícios da leitura. É necessário perceber-se que ler não consiste apenas em entender como funcionam os recursos expressivos ou as orações dos textos. É fundamental recordar e memorizar que ler pode ser um simples ato autónomo de contentamento. Não só porque precisamos de leitores, mas porque dos livros se fazem cidadãos.