Especialista da Universidade do Porto alerta, contudo, para uma incidência a ultrapassar “quatro vezes” o limite estipulado por 100 mil habitantes.

O número de casos diários de infeção por Covid-19 na região Norte está a “abrandar”, divulgou esta quarta-feira um especialista da Universidade do Porto. Contudo, salientou que a incidência ainda é bastante elevada, ultrapassando “quatro vezes” o limite estipulado por 100 mil habitantes.

Em declarações à agência Lusa, Óscar Felgueiras, matemático especialista em epidemiologia da Universidade do Porto, explicou que os modelos matemáticos apontam para uma estabilização do número de casos na região. “O cenário central prevê um valor médio próximo dos três mil casos diários na região Norte e com eventual possibilidade de começar a haver uma descida do número de casos na próxima semana”, sublinhou.

Porém, o especialista considera que ainda é “cedo para avaliar” se este abrandamento se deve às medidas implementadas. “Não é totalmente óbvia a associação de entrada em vigor das medidas com o efeito, mas eventualmente o comportamento das pessoas pode ter mudado de algum modo”, afirmou.

Apesar de ainda ser necessária uma “consolidação e avaliação dos dados”, os modelos estatísticos indicam que o “pico de infecciosidade já poderá ter passado”. “Só daqui a uma semana é que será possível determinar se houve ou não esse pico e quando foi”, esclareceu.

O especialista deixou também um alerta para a “elevadíssima” pressão sobre o sistema de saúde. “O que se espera nestas duas semanas é que a pressão sobre o sistema hospitalar seja máxima”, referiu, advertindo para a possibilidade de se justificarem “medidas adicionais”. “O Norte está com uma incidência elevadíssima, superior a mil casos por 100 mil habitantes em 14 dias”, acrescentou.

Segundo Óscar Felgueiras, os dados da Direção-Geral da Saúde (DGS) indicam que a incidência média de casos no Norte é de 1.042 por 100 mil habitantes, superior à média nacional de 610 casos pelo mesmo número de habitantes em 14 dias. De acordo com o especialista, são “mais de 20 os concelhos na região” cuja incidência ultrapassa quatro vezes o limite estipulado pelo Governo, o que considera “motivo de preocupação”.

“Tendo em conta a elevada incidência e a consequência que isso tem na afluência aos serviços de saúde, isto não é sustentável e tem de haver um travão”, considerou. No entanto, o matemático lembra que “o travão, ao ser colocado, não vai atuar tão rápido”. “Tivemos uma subida [de casos] muito rápida, mas a descida não vai ser tão rápida”, salientou.

Para além disso, o especialista refere outro facto que “não é reconfortante” para o Norte: “a positividade dos testes de diagnóstico que ronda os 20%”. “Numa situação em que a positividade é tão elevada, significa que não há deteção de muitos casos, especialmente dos assintomáticos”, disse, acrescentando que estes “têm potencial para transmitir e fazer propagar o vírus”.

Segundo o último boletim da DGS, Portugal tem 187.237 casos confirmados de infeção por Covid-19, contabilizando, pelo menos, 3.021 mortos. A região Norte, a par de Lisboa e Vale do Tejo, continua a ser o maior foco de contágio da Covid-19 no país.