Com as novas regras impostas pela DGS, os espaços culturais viram-se obrigados a fechar portas até as 22h30. Ainda assim, entre os dias 10 e 18 de novembro, realiza-se o Festival de Teatro de Viana do Castelo. Em entrevista ao ComUM, o Diretor Artístico do Festival, Ricardo Simões, conta como a quarta edição irá decorrer. O festival tem lugar no Teatro Municipal Sá de Miranda e na Biblioteca Municipal da cidade.
ComUM- Qual é em concreto, a função do diretor artístico do festival?
Ricardo Simões (RS) – Enquanto Diretor Artístico do Festival de Teatro de Viana do Castelo, há o trabalho da seleção dos espetáculos que vão ser apresentados, assim como toda a programação em geral. É um trabalho que é liderado por mim, mas que é feito em equipa e que passa pela seleção das várias propostas que nos chegam e, posteriormente, ajustá-las àquelas que são as nossas possibilidades quer orçamentais, quer técnicas. No Festival propriamente dito, a minha função é mais de representação institucional e participação em alguns atos complementares. Nós no Festival de Teatro de Viana do Castelo temos investido em conversas após o espetáculo e eu participo em algumas delas. Infelizmente, este ano, por causa das imposições da DGS, nós vamos suprimir as conversas da parte da noite. Basicamente o meu trabalho é a coordenação de todas as atividades.
ComUM- A programação teve de sofrer alterações devido às novas normas impostas pela DGS?
RS – Os espaços culturais têm de fechar até às 22h30 e isso teve um impacto direto no festival, porque a hora de início dos espetáculos à noite era às 21h30 e ainda havia conversas no fim do espetáculo. De momento, para conseguirmos cumprir, vamos antecipar o início de todos os espetáculos e suprimir as conversas no final. Felizmente, não implicou cancelamentos. O festival vai ter espetáculos a decorrer de manhã e à tarde, mas os da noite foram antecipados.
ComUM- Uma vez que enfrentamos uma pandemia, quais são as medidas tomadas para garantir a segurança do evento?
RS – Todas aquelas que já estavam em vigor: o distanciamento social, higienização das mãos, o uso de máscara, a medição de temperatura à porta do teatro e a redução da utilização das salas para 50%. A sala do Teatro Sá de Miranda fica com 172 lugares, o Café Concerto fica com apenas 30 lugares e isso fez com que duplicássemos o número de representações na sala, ou seja, vamos ter duas representações de cada espetáculo para que pelos menos 60 pessoas possam assistir. Vamos alargar as medidas de prevenção abrindo as salas mais cedo três minutos, para que a entrada dos espetadores possa acontecer, até porque agora é mais demorado. De resto nós já estamos a trabalhar de acordo com esta nova realidade passageira e toda a nossa equipa estão plenamente capacitadas para garantir que dentro daquilo que é possível, todos os espaços são higienizados antes dos espetáculos e alguma mais que uma vez por dia. Nós podemos garantir que todas as condições de higiene e segurança estão garantidas.
ComUM- O evento tem a duração de 9 dias, quais são as atividades destinadas a cada um deles?
RS – Para além das peças e das conversas pós-espetáculo, há um colóquio, no dia 14, na Biblioteca Municipal de Viana do Castelo, relacionado com uma instalação plástica-sonora, da autoria de João Ricardo de Barros Oliveira, que será inaugurada nesse sábado de manhã. Esta instalação é inspirada na obra do escritor Ruben A, sobre o qual se celebra o centenário do seu nascimento. Ainda nesse dia vamos ter a oportunidade de debater com duas investigadoras, uma especializada na obra de Ruben A, e outra especializada em artes plásticas, para nos falarem um pouco sobre as impressões que vão colher sobre esta intervenção artística.
ComUM- O festival tem tido, ao longo dos anos, uma grande afluência. Este ano, as coisas continuam igual, ou, a aderência tem sido menor?
RS – Não, desde logo tem sido maior. Como reduzimos a lotação para 50%, temos a impressão que as salas estão a esgotar muito rapidamente. Sobre a adesão, nós sentimos que praticamente 50% dos bilhetes estão vendidos e nas mãos dos espetadores. Por um lado, acreditamos que a programação é apelativa e eclética, que agrada todos os públicos, por outro lado também sentimos que as pessoas têm vontade de ver espetáculos e a venda de passes tem ocorrido em números idênticos aos outros anos.
Este ano o cartaz conta apenas com peças nacionais. O que levou a ser tomada esta decisão?
RS – O Festival de Viana do Castelo é um pequeno milagre de gestão, acontece com um orçamento menor do que aquilo que se espera para um festival de teatro. No entanto, também na primeira edição se contou apenas com peças nacionais, sendo que só nas últimas duas é que se abriu a porta a outros países. Este ano íamos ter espetáculos de outros países, mas, por causa da pandemia, foram reprogramados para o próximo ano. Tomamos esta decisão para prevenir a questão das viagens e da entrada e saída do país e, assim, optar apenas por espetáculos com origem em Portugal.