Dois anos depois do lançamento de “Life Is Boring”, o crocodilo volta à cena. Os Gator, The Alligator editaram a 30 de setembro o segundo álbum, “Mythical Super Bubble”, que traz uma ligação ao primeiro trabalho, embora com uma nova aventura narrativa.
A banda barcelense, formada por Tiago Martins, Eduardo da Floresta, Ricardo Tomé e Filipe Ferreira, conversou com o ComUM sobre vários temas. Para além do novo álbum, falou da sua criação artística e das mudanças trazidas pela situação pandémica.
ComUM – Como é que as pessoas estão a reagir ao novo álbum?
Tiago Martins (TM) – Estamos numa altura totalmente diferente daquilo que era o ano passado e, se não existisse esta pandemia, se calhar o álbum estaria a ser mais bem recebido, porque teríamos a oportunidade de o apresentar ao vivo. No entanto, o feedback tem sido bastante positivo.
ComUM – Qual é o conceito deste segundo trabalho?
TM – Este álbum é a continuação daquilo que começámos a trabalhar no primeiro em termos de conteúdo, de temas. Fala sobre a procura de respostas para os problemas da vida, que apresentámos no primeiro álbum. Nesta aventura, o Gator, mandado pelo Demon, vai buscar uma espécie de holy grail que é a Mythical Super Bubble, uma metáfora em relação a algo que resolve todos os problemas da vida. Então, o álbum tem um conceito à volta dos processos mentais e das emoções que nos levam até essa resposta, que não passa de uma utopia, e do que retiramos disso.
ComUM – O próprio Gator é também a vossa utopia?
TM – Mais ou menos. É uma “personificação” para a banda. Com ele, podemos falar dos temas de uma forma diferente, vendo as coisas de fora. Claro que passamos inputs nossos e as nossas experiências, mas esta personagem engloba o pensamento dos quatro num só ser, o que acabamos por transmitir na música.
ComUM – Pensando agora em quem não vos conhece, conseguem definir o vosso estilo?
Ricardo Tomé (RT) – Temos os nossos gostos individuais e, se calhar, o nosso estilo é o campo onde eles se juntam: o garage rock ou, mais precisamente, o garage-psych rock. Em 2017, quando começámos a tocar, talvez [a nossa música] fosse um bocado desse género, mas desde aí temos ido com a corrente. Pegamos nos instrumentos, tocamos e, às vezes, sai uma coisa mais psicadélica, stoner, punk ou até pop. Não nos restringimos a um estilo e tocamos o que nos apetece tocar no momento. Por isso, não temos nenhuma gaveta onde nos encaixar, deixamos isso para o público.
ComUM – Para além da música, exploram também uma componente artística mais visual. Sentem a necessidade de o fazer?
RT – Sim, sentimos que é uma coisa que deve ser trabalhada, porque é algo que também faz parte da banda. Neste aspeto, sentimos o feedback de pessoas que apreciam as nossas capas, as t-shirts, o espetáculo que montamos. Gostamos desse feedback e achamos que é importante sermos reconhecidos nas várias artes que trabalhamos, não só na música.
TM – Somos todos designers e aproveitamos esta parte para brincarmos um bocadinho e divertirmo-nos, mas também para expandirmos o projeto. Trabalhamos os cartazes por forma a estarem em ligação com a mensagem do álbum; para os videoclipes, convidamos artistas diferentes e tentamos ter a perspetiva deles sobre a nossa mensagem. Por isso, vemos o projeto como um todo. Claro que a música é o ramo principal, mas a partir daí separamos outros ramos e tentamos trabalhar tudo de uma forma consistente e coesa.
Eduardo da Floresta (EF) – Tanto é que, quando estamos no processo de criação, somos influenciados não só por música, como também pelo lado visual.
ComUM – É inevitável falar da pandemia, visto que veio alterar os planos a muitas bandas. Estão a ser um desses casos?
Filipe Ferreira – Sim. Estava previsto o álbum sair em abril e teríamos logo uma tour de lançamento, mas depois começou tudo a ser adiado ou cancelado. Assim, adiámos o lançamento para o dia 30 de setembro e, desde aí, demos um concerto. Agora é impossível fazemos uma tour ou darmos dois ou três concertos por fim de semana.
ComUM – Nesse sentido, como está a vossa agenda?
TM – As restrições mudam quase todas as semanas, por isso tão cedo não devemos conseguir ter nenhum concerto. No entanto, queremos divulgar o álbum o máximo que conseguirmos pelas plataformas digitais. As pessoas podem também comprar os nossos CDs e as t-shirts na internet. Portanto, vai ser isso, uma vez que a pandemia não nos deixa criar um calendário como fazíamos. E tendo em conta o medo que o vírus tem causado no público, queremos também dar espaço e, quando as coisas estiverem melhores, tentamos “atacar” outra vez.
ComUM – E o próximo trabalho? Vai fechar a trilogia ou vai ser algo diferente?
RT – Neste momento, não temos assim nada estruturado. Temos algumas coisas em mente, mas ainda muito por alto. Este último álbum saiu há pouco tempo e, por isso, agora estamos mais focados em promovê-lo e em levá-lo ao público de outras maneiras, tendo em conta que os concertos são escassos. Quando chegar a altura certa, vamos pensar sobre isso.
EF – Queremos deixar isso em aberto. Não gostamos de fechar-nos nem de criar barreiras. Temos algumas ideias, mas nunca é nada fixo. É algo que vai sendo trabalhado com o tempo.