Desperta em mim um certo desconforto ver os redatores deste jornal a tratar os dirigentes de núcleos, de juniores iniciativas ou de órgãos da Associação Académica da Universidade do Minho por “você” ou por “excelentíssimo/a senhor/a”. Ter de lhes explicar que são alunos iguais a nós, com a mesma idade ou aproximada, só que com ambições diferentes da maior parte da massa académica é uma função ingrata e, se bem refletida, um pouco sem nexo. Depois lembrei-me que eu própria já cometi este erro e fi-lo não por respeito abismal, mas por alguma aversão a alguém que parece estar tão distante na pirâmide hierárquica.

O problema é mesmo esse: não existe nenhuma pirâmide hierárquica. Não há como olhar para cima quando basta olhar em frente. Cultiva-se a ideia de que fazemos parte de um ciclo vicioso, como se de uma oligarquia se tratasse, de que é uma elite que nos representa e, consequentemente, não nos sentimos representados. Mas isto combate-se somente através do desprezo ao alheamento perante as questões da academia. Tudo bem que vemos aquelas longas descrições nas fotos dos candidatos e parecem-nos deuses na Terra, mas isso tolera-se.

Enquanto estudantes e cidadãos, temos de participar e de ser minimamente interessados, desde ler os manifestos das listas até ir às RGA e, mais importante que tudo, estar informados da vida dos campi. Notícias sobre isso não faltam, garanto. Pelas palavras de Carole Pateman, em Participação e Teoria Democrática: “Aprendemos a participar, participando (…) e o sentimento de eficácia tem mais probabilidade de se desenvolver num ambiente participativo”. Aliás, reforço até que baixos níveis de participação são incompatíveis com a democracia.

Não nego que a ignorância não seja uma bênção. Já dizia Ricardo Reis que “Sábio é o que se contenta com o espetáculo do mundo”. Uma rotina linear aliada a alguns momentos hedonistas é muito mais tranquila, dá muito menos dores de cabeça. A partir do momento em que abrimos os olhos ao mundo, é assustadora a quantidade de coisas que temos de saber para sobreviver. Todavia, quem não se interessa, ou pior, quem só se interessa nos momentos de crise não tem legitimidade para apontar o dedo. É inclusive nesses momentos que se costuma assistir a degradações em praça pública, muito por causa das redes sociais, que são as autênticas casas de banho públicas do século XXI e onde o bota-baixismo vence sem qualquer tipo de escrúpulos.

O estudante que somos hoje é o cidadão que seremos amanhã, se (e com grande acento neste “se”) por força das circunstâncias, não acordarmos para a vida. Alguém que hoje não quer saber de um núcleo de estudantes ou da Associação Académica não vai, igualmente, querer saber mais tarde da junta de freguesia ou da Assembleia da República.

Se têm assim tanto receio de quem nos representa no meio académico, garanto-vos, vá, com 80% de certeza, que são quem veremos daqui a uns anos em órgãos de chefia. Afinal, há que começar por algum lado. Não como se tivessem entrado com esse foco, mas o bichinho que cresce em nós ao liderar e pela vontade de mudar, desde incutido, nunca mais desaparece.

Caso dúvidas restem, que não se esqueça a História: a Crise Académica de 1969, o reflexo da luta política pelas universidades, foi fundamental na construção da democracia deste país. Por fim, numa pseudo tentativa de influencer, já que leram o editorial até ao fim (e, espero, com a atenção devida) não se esqueçam do quão imprescindível é exercer estas informações através de uma das unidades mais básicas da democracia: o voto.