Tabique abriu portas em janeiro. Amass Cook está na indústria desde 2015. No entanto, independentemente da longevidade de cada um, todos enfrentam as consequências do quarto estado de emergência desde o início da pandemia.

Com recolher obrigatório às 13 horas aos sábados e domingos, a restauração foi um dos setores mais afetados pelas medidas do Estado de Emergência. Um fim-de-semana já passou, falta este que se segue e os restantes são ainda incertos.

Gonçalo Santos, sócio-gerente do restaurante Tabique, situado em Braga, esteve à conversa com o ComUM sobre como o respetivo espaço lidou com as medidas de confinamento. “Já estamos a ter um ano complicado e os fins de semana são as alturas em que faturamos mais e cortarem-nos isso torna tudo mais difícil”, realça Gonçalo, não escondendo a frustração. E salvaguarda: “a restauração não é o setor onde há mais contágio”.

No passado fim de semana, o sócio do Tabique conta que a equipa do restaurante fez “uma carta de takeaway fora da carta normal”, composta por “pratos mais tradicionais, que é, se calhar, o que as pessoas mais procuram”. Esta iniciativa “felizmente correu muito bem” e teve bastante aderência, inclusive fizeram entregas ao Porto no domingo à tarde.

Todavia, o cenário geral não vê tanta segurança no horizonte. Gonçalo acredita que o setor da restauração foi o mais afetado por esta pandemia, tendo sido obrigado a adaptar-se constantemente: “nós somos o setor a quem, desde o início, exigiram mais regras para nos adaptarmos, quando já praticávamos normas de higiene bastante rígidas”, diz.

Relembra ainda que os restaurantes já tinham uma redução de lotação em 50% e “se há essa redução, supostamente já cria alguma segurança nos espaços”. Considera também que obrigarem os restaurantes a fechar na hora em que começam a faturar é “uma medida para atirar poeira para os olhos” de modo a não terem de ajudar com apoios financeiros.

“Deixam-nos estar abertos até à uma, o que para nós é irrelevante, uma vez que abrimos ao meio dia. O facto de estarmos abertos faz com que não tenham de nos dar apoios, porque não nos fecham totalmente”, sublinha Gonçalo Santos.

O gerente do Tabique defende que o Governo devia confiar que as medidas de segurança e de higiene são cumpridas em todos os estabelecimentos. “Preocupámo-nos com os nossos clientes e, acima de tudo, com a nossa saúde. O facto de estarmos abertos a servir pessoas é um risco, mas também estamos a minimizá-lo da melhor maneira possível”, garante.

Em relação à contribuição do Estado com 20% das perdas da restauração nestes dois fins de semana, Gonçalo refere que “a medida é um bocado malfeita porque o apoio é feito de uma média dos 44 fins de semana do ano”. “Não é justo se forem contabilizados os quatro fins de semana em que a restauração esteve fechada e em que a faturação é zero”, explica. É “injusto a medida ser referente a este ano” e, por isso, acha que “devia ser referente ao ano 2019, que foi um ano mais normal”.

Durante a pandemia o gerente viu-se obrigado a “pôr alguns empregados em lay-off” e mais tarde, quando o restaurante reabriu, “passaram a part-time”. Este é um ano atípico e particularmente difícil para este estabelecimento, pois abriram apenas em janeiro e tiveram de fechar durante 22 dias em março. Desde a abertura do mesmo tiveram de se adaptar constantemente para não terem de fechar. “Ou nos obrigam a fechar e dão-nos apoios para isso ou então deixem-nos trabalhar”, avisa Gonçalo Santos.

O turismo gastronómico consegue vencer o braço de ferro?

Bruno Carvalho e Maria Sena são dois portuenses que se autointitulam de “apreciadores de gastronomia por defeito e cientistas por vocação”. Com um passado científico na área da biologia, surgiu uma “obsessão” em pesquisar e escrever sobre tudo “o que lhes apetece e inquieta”. “Temos como esperança informar e desmistificar várias noções sobre comida, bem como incentivar à curiosidade e experimentação de novos horizontes gastronómicos”, admitem.

Juntos criaram, em 2015, a empresa turística Amass Cook que abrange tours pela cidade do Porto, aulas de cozinha com chefs da cidade e experiências gastronómicas fora da cidade. O epicentro do seu trabalho é o Porto, onde aplicam “a mais profunda vontade de conhecer, experimentar e divulgar os locais onde a gastronomia é um valor”. Exploram, ainda, os recantos da cidade para “trazer ao cimo os seus tesouros”.

Bruno Carvalho

Maria Carvalho/ComUM

Em conversa com o ComUM, Bruno Carvalho afirma que a pandemia foi “bastante má” para o negócio e que 99% das suas marcações foram canceladas e não têm marcações novas desde março. “Estivemos parados a nível de tours e serviços turísticos, portanto o impacto para o nosso serviço foi enorme”, afirma o empresário. “Esperamos que haja um retomar muito gradual do setor turístico. Não fazemos ideia quando é que isso vai acontecer, por isso, neste momento, ainda estamos cheios de incertezas. Não sabemos se no próximo verão já vamos poder contar com clientes, portanto estamos a tentar divergir um bocado do que fazemos e desenvolver outros projetos fora do âmbito turístico”, acrescenta Bruno.

Vencedores de vários prémios, como o 1º lugar no “Melhor Livro Digital À Venda” com o sey Porto Food Guide nos Gourmand World Cookbook Awards 2019 ou “Melhor Blogue de Promoção de Portugal em Língua Estrangeira” nos Prémios BTL (Bolsa de Turismo de Lisboa) 2018, estes dois biólogos viram a sua vida dar uma volta quando a pandemia se começou a espalhar. “Sinceramente não há nada a fazer, seria irrealista estar à espera que este cenário não se tivesse instalado. Acredito que já estamos mais conscientes desta realidade e de que temos outras realidades para explorar”, termina.

Artigo por: Lara Carvalho e Maria Carvalho