Há cerca de três semanas, assistiu-se nas redes sociais a uma forte utilização da hashtag #ODesportoNãoPodeParar, por parte de vários atletas e organizações desportivas, com o objetivo de dar maior visibilidade à situação do desporto amador português e ao tratamento discriminatório que as várias modalidades desportivas têm sofrido. Isto deve-se ao facto de, no último fim-de-semana do mês de outubro, o Governo ter obrigado ao cancelamento de todas as competições desportivas e do futebol amador, dada a limitação de circulação entre diferentes concelhos. A exceção foi a manutenção dos jogos de futebol das primeira e segunda ligas.
Pergunto-me quão injusta esta desvalorização será para os atletas que vêem as suas carreiras ser adiadas. Por que razão parece não haver espaço para as outras modalidades que não sejam o futebol profissional? Com que legitimidade vamos apoiar e festejar as vitórias das equipas e dos atletas portugueses quando alcançarem grandes feitos lá fora, se não as apoiamos cá dentro?
É necessário salvaguardar a saúde pública, isso é indiscutível, sobretudo no panorama atual em que vivemos, em que os casos de Covid-19 aumentam incessantemente. Contudo, também é essencial criar condições e medidas de apoio para que os desportistas se mantenham em atividade e possam ter as mesmas oportunidades que os adversários.
Vivemos numa sociedade em que os jovens começam cada vez mais cedo a sentir o que é a ansiedade e em que os adultos consomem cada vez mais antidepressivos, como apontam vários estudos. É fundamental combater este problema e todos temos noção da extrema importância que a atividade física tem para a saúde mental. Numa altura em que a pandemia veio evidenciar e acentuar o stress e a ansiedade, o desporto pode contribuir para o equilíbrio interior. Por isso, quer para os profissionais, quer para os mais jovens e população em geral, o desporto não pode parar. Fazer da saúde mental a nossa prioridade não pode esperar.
Para dar um exemplo mais concreto, pensemos em Educação Física nas escolas e na importância da disciplina. Para muitas crianças e jovens, essas duas aulas semanais são o único exercício que praticam ao longo da semana, enquanto os especialistas indicam que os jovens deveriam exercitar-se pelo menos uma hora por dia. Porém, para muitos, esse é o único contacto que têm com o desporto e com práticas saudáveis.
Sabemos que temos um problema sério pela frente e que sacrifícios têm de ser feitos em prol do bem comum, mas cancelar o desporto não é solução. Temos que criar espaços para as modalidades e para o desporto e não colocá-lo em standby à espera que a pandemia passe. Não faz sentido termos um discurso sobre a necessidade de que o país não pare e de que se deve apoiar as empresas, a cultura e o turismo e relegar o desporto para último plano.