Os Rapazes de Nickel foi lançado em setembro e conferiu ao seu autor, Colson Whitehead, um segundo Pulitzer. A obra literária é um relato da história de dois rapazes numa casa de correção, na Florida, que escondia segredos obscuros e aterradores.
A história passa-se maioritariamente na década de 60, onde o racismo dominava e os conflitos raciais eram constantes. É narrado por Elwood, um rapaz que vive com a sua avó, Harriet, e que é apaixonado pela leitura e pelo conhecimento. “Temos de acreditar, no fundo das nossas almas, que somos alguém, que somos importantes, que temos valor”, são palavras de Martin Luther King, que é escutado por Elwood, inúmeras vezes, no gira-discos da avó. Infelizmente, no seu primeiro dia de faculdade, o rapaz encontra-se envolvido num mal-entendido, acabando na casa de Nickel, um reformatório. O jovem acaba por conhecer Turner, um amigo que o acompanhará durante a obra.
O relato na primeira pessoa de Elwood transmite-nos as inúmeras crueldades cometidas tanto nele próprio, como nos outros rapazes. Isto traz-nos uma angústia colossal, como se estivéssemos a ver e não pudéssemos fazer nada.
O livro é especialmente comovente porque é baseado numa história real, Arthur g. Dozier School for Boys, um reformatório na Florida, que foi alvo de investigação, onde foram documentadas quase 100 mortes no local. Para além disso, relata o que é ser uma pessoa negra, nos anos 60, na América. O constante sofrimento e dor causados, injustamente, às pessoas de cor, que são relatados ao longo da obra, como a segregação, provocam uma dor incalculável no leitor.
Provavelmente, o que aterroriza mais nesta história é que, passado 60 anos, as comunidades negras ainda estão em luta constante pelos seus direitos. Os protestos a que Elwood atende ainda estão a acontecer, o sistema judicial ainda é injusto e o medo sofrido ainda é real. O que torna o livro tão especial e marcante é mesmo esse facto, a obra retrata aspetos que ainda duram até aos dias de hoje.
O autor conseguiu captar toda a essência da história de uma forma crua, viva e penetrante, fazendo-nos sentir emoções intensas no decorrer da obra. Apegamo-nos às personagens, trazem-nos um sentimento de proximidade, como se as conhecêssemos pessoalmente. Sentimo-nos repugnados pelas crueldades, mas apaixonamo-nos por Elwood, que carrega um sentimento de esperança e otimismo no seu percurso inteiro, e por Turner, mais desconfiado e pragmático, mas não menos atencioso.
Colson Whitehead escreveu novamente sobre os terrores que os seus antepassados sofreram, de forma brilhante e aterradora. A visão da sua realidade deixa-nos transtornados e comovidos. Não só pelas atrocidades que os seus antepassados viveram, mas porque vemos que o que se passou há seis décadas continua a repetir-se atualmente.
Título Original: The Nickel Boys
Autor: Colson Whitehead
Editora: Aleguara
Género: Ficção literária
Data de lançamento: setembro de 2020