O investigador e docente da Escola de Medicina da UMinho analisa, entre outros assuntos, os dados mais recentes da pandemia na região Norte.

A região Norte encontra-se na situação mais preocupante desde que a pandemia de Covid-19 teve início em Portugal. Estas são palavras de Pedro Teixeira, investigador de saúde comunitária da Escola de Medicina da Universidade do Minho (EMed), que explica ao ComUM a situação pandémica atual na região.

“Temos, claramente, o número [de casos] mais elevado de sempre e, portanto, estamos na fase mais complicada desta pandemia – no Norte – desde que chegou a Portugal em março”, afirma. Ainda assim, refere que o cenário atual no território aponta, aparentemente, para um “achatamento da curva”. “Continua a haver crescimento, mas o que realmente temos é um crescimento mais lento”, esclarece.

Contudo, o especialista considera que ainda é precoce falar numa “descida do número de casos”, destacando a imprevisibilidade da transmissão viral. “O crescimento, a dada altura, não é linear, é exponencial”, explica, frisando que “os dados de hoje e dos próximos dois ou três dias vão ser críticos” para definir uma eventual tendência de recuo.

Apesar das projeções, Pedro Teixeira lembra que “os dados são sempre, apenas e só, uma tentativa de representar a realidade”, o que traz “muitas fragilidades”. No entanto, “não podemos ficar apaziguados na ideia de que o erro é natural”, salienta, reconhecendo que “o sistema tem de ser melhorado”.

Analisando o contexto da infeção na região Norte, o epidemiologista refere que, “ao contrário do que seria expectável”, esta é superior em “zonas com menor densidade populacional”. Desta forma, diferencia as “grandes cidades como Porto e Braga”, que foram implementando planos de contingência, de concelhos como Paços de Ferreira, onde diz não ter havido o apoio necessário à prevenção numa fase inicial. “Ninguém ajudou estas pessoas a criar planos de contingência”, sublinha.

A propósito, o investigador da EMed dá ênfase às medidas em vigor no âmbito do presente Estado de Emergência para o combate à Covid-19. “Chegados aqui, estas medidas são necessárias”, refere, destacando a sua relevância para evitar a sobrecarga das unidades de saúde. “O sistema, em termos de capacidade de resposta, tem limite”, alerta.

Neste sentido, Pedro Teixeira deixa o apelo para que se adotem “comportamentos ajustados”, como o uso de máscara, o distanciamento físico e a lavagem frequente das mãos. “Isto não tem que ver só com direitos individuais, mas também com o dever constitucional de proteção da saúde. Quem vai resolver a pandemia são as pessoas”, conclui.