A Lista A é candidata à direção da AAUM e apresenta-se como ‘Academia 5.0’, com cinco princípios orientadores: comunicação, inovação, inclusão, participação e sustentabilidade.

Rui Oliveira é novamente candidato à presidência da direção da Associação Académica da Universidade do Minho (AAUM). O atual presidente da direção da AAUM apresentou a sua recandidatura na sua página de Facebook no dia 2 de novembro, um mês antes do sufrágio.

A estratégia global de ação da Lista A, encabeçada pelo aluno do Mestrado Integrado em Engenharia Mecânica, concentra seis objetivos gerais: auscultar, envolver, inovar, comunicar, otimizar recursos e consolidar processos. Em entrevista ao ComUM, Rui Oliveira assegura que “ainda há a vontade de continuar, por isso é que achamos que fazia sentido voltar a apresentar uma candidatura para a AAUM”.

ComUM – Porque é que te recandidataste?

Rui Oliveira – Essa é a pergunta da praxe. Disse no texto de recandidatura que a motivação foi achar que há coisas por concluir, como é normal. A AAUM é sempre um projeto inacabado, há muitas coisas que é preciso ir continuando a fazer. A minha equipa atual e aquilo que é a minha equipa futura, sendo que muitas pessoas transitam de uma para a outra, achamos que podíamos continuar a trazer para os estudantes.

Aquilo que é o objetivo geral da Lista A encaixa totalmente nos cinco vetores que temos trabalhado: inclusão, comunicação, participação, inovação e sustentabilidade. Acreditamos que é através deles que conseguimos uma academia mais enquadrada naquilo que deve ser: uma academia reivindicativa, que sabe expor as suas dificuldades e que é um espaço de realização de atividades importantes para a vida dos estudantes. Estamos motivados e ainda há a vontade de continuar, por isso é que achamos que fazia sentido voltar a apresentar uma candidatura para a AAUM.

ComUM – Partindo do pressuposto de que nada corre 100% como o planeado, quais foram as falhas, ou o que correu menos bem, deste ano que está a acabar?

Rui Oliveira – Esta é sempre a pergunta mais fácil de responder este ano. Quando me candidatei no ano passado com a minha equipa, tínhamos um plano programado para aquilo que seria um ano normal.  O plano de atividades estava feito até março, mas quando lá chegamos fomos todos para casa. Alterámos tudo, passando a ter uma coisa completamente diferente. Passámos a ter de dinamizar tudo em Gestão de Crise, porque foi literalmente isso que aconteceu: ninguém estava preparado para que tudo fechasse.

Foi ter de perceber o que tínhamos de fazer, ser resilientes, muito pensativos naquilo em que podíamos ser resposta. Percebemos que houve uma série de atividades da AAUM que são tradicionais e não aconteceram. Não foi um ano de sonho, vê-se logo, mas não foi por isso que a equipa não foi lutadora e que não se tentou reformular, mesmo não estando preparada para isso. Fizemos dois planos de atividades com coisas totalmente diferentes.

ComUM – Com a recandidatura à presidência da AAUM, tencionas manter o rumo do ano passado ou começar um novo?

Rui Oliveira – A pandemia mostrou-nos que não podemos fazer as coisas iguais àquilo que eram. Eu seria imprudente se dissesse que aquilo que queremos fazer, era o que estava planeado no ano passado. Se ganharmos, a tomada de posse será em janeiro e a pandemia ainda vai existir, por isso será outro ano com condicionantes por causa disso mesmo. Não vai ser um ano igual aos outros, mas o planeamento está feito nesse sentido. A nível dos objetivos gerais, sim, o rumo é o mesmo. A AAUM foi realizando formulários de forma a receber os contributos de estudantes. Todas as decisões que foram tomadas durante o ano e que não estavam no Manifesto, foram a partir de exposições e auscultações que fizemos aos estudantes. Isto foi constante ao longo de todo o ano, com várias questões.

É importante trazer os estudantes a trabalhar a par com a AAUM, é a forma de como vamos trabalhar com os Colaboradores em regime de permanência ou em apenas certas atividades. É este o envolvimento que pretendemos. Quando falamos em continuar o projeto, falamos destas coisas que queremos concretizar. Quando falamos em inovação, falamos de novas atividades que propomos e no próprio ensino. Já no ano passado defendíamos que era preciso uma reformulação dos métodos pedagógicos da parte letiva. Mesmo antes da pandemia acontecer, já tínhamos falado sobre isto. Continua a ser um objetivo e um desafio.

Na parte da comunicação, percebemos a importância de o fazer bem e já sabemos também a dificuldade que lhe está associada. Conseguir comunicar eficientemente é um jackpot que todas as organizações querem ter. Conseguir receber um feedback por parte dos estudantes também é um dos pontos que está no manifesto. Por isso, claro que há coisas que quero manter no mesmo rumo, como há outras que percebemos que tinham de ser reformuladas, mas a estratégia global é a mesma.

ComUM – Quando apresentaste a tua candidatura na tua página de Facebook, escreveste que queres “construir uma Academia 5.0 de todos para todos!”. O que é que isto significa?

Rui Oliveira: Construir uma academia 5.0 remete logo para uma ideia de futuro, que já era um dos objetivos que afirmávamos no ano passado. Queremos ser uma academia dinâmica que se prepare para ser resposta no futuro. Não podemos ser uma Associação que não se prepare para aquilo que podem ser os desafios do futuro.

Há sempre questões que temos de reformular. O “5.0” tem um duplo sentido de remeter, lá está, para futuro como o dos cinco vetores que estão associados. O “de todos para todos” é porque sempre defendemos que todos devem ter acesso à universidade, independentemente do estatuto socioeconómico. A questão da descida das propinas foi uma melhoria para o acesso ao ensino superior. Não é um fim de caminho, mas é um passo nessa direção e isso ninguém pode dizer que não é. Isto prova que a Lista A sempre esteve empenhada nesse sentido de ser “de todos para todos”, não são só palavras vagas. Significa também que queremos que os estudantes se envolvam, se associem e colaborem com a AAUM.

Ana Sousa/ComUM

ComUM – Em contexto da pandemia que estamos a atravessar, a saúde mental tornou-se um tópico relevante para se ter em atenção. Uma das propostas centra-se na necessidade de resolver a falta de acompanhamento psicológico gratuito. Em que consiste o espaço de apoio direto supervisionado por profissionais? É algo fazível num futuro próximo?

Rui Oliveira – A Universidade tem uma profissional que temos monitorizado para controlar a resposta que tem dado, para perceber se está sobrelotada ou não. Juntamente temos o projeto do P5, que é dar o acompanhamento a estas pessoas, seja online ou via telefónica. É uma ajuda à distância. A AAUM tem sido promotor desta questão da saúde mental. Também é preciso que haja reconhecimento do que pode ser um problema de saúde mental, porque muitas vezes não há. Tem de haver momentos que esclareçam as pessoas nesse sentido.

O ensino superior tem tido cada vez mais alunos, mas isso não pode significar que se tem de comprometer a qualidade de ensino. Uma parte da qualidade do ensino é saúde mental. “Eu não quero ter que tomar um ansiolítico para ter de ir a um teste” é uma frase impactante mas que é uma realidade e uma chamada de atenção para estes problemas. É preciso termos mecanismos para quando as coisas acontecem, mas é igualmente importante tentar perceber porque é que isto acontece no ensino superior. Temos de perceber a causa, não apenas aumentar os mecanismos de ajuda.

Apesar de tudo, o ensino tem de dar hipótese ao erro, na medida em que entregamos um trabalho e somos logo prejudicados, o que causa ansiedade e pensamentos de “erramos e temos logo problemas”. A questão do erro é uma grande forma de aprendizagem, no momento de reflexão de perceber o que se errou. O teste devia ser um checkpoint do que está a ser interiorizado como aprendizagem e não um fim, e este é dos maiores problemas no ensino. Por isso é que os testes finais são vistos como uma concentração de ansiedade. Mas lá está, temos de perceber a causa, em vez de só tentar enfrentar o problema. ­

ComUM – No ano passado, em entrevista ao ComUM, disseste que “não havendo o eVotUM, pode dificultar a questão de baixar a abstenção”. Tendo em conta que este ano as eleições já serão realizadas por eVotUM, acreditas que a abstenção vai baixar?

Rui Oliveira – Quero acreditar que sim. Eu gostava mesmo muito que este ano houvesse uma menor abstenção e acho que esse é o processo que nós queremos através do eVotUM. Sabemos que, infelizmente, este ano é um ano atípico na academia. Passamos pelos campi e conseguimos perceber a diferença entre um novembro normal e o novembro deste ano. Espero que isso não afete aquilo que são as eleições da Associação Académica.

Se olharmos para aquilo que é o historial de, por exemplo, a Associação Académica de Coimbra que teve eleições agora recentemente, teve quase só um terço daquilo que costumam ser as votações, mas decorreu presencialmente. Eu quero acreditar que isso não vai acontecer aqui e que vamos ter uma redução da abstenção. Nós, na lista A, estamos a fazer por isso, estamos a esforçarmo-nos ao máximo para que isso aconteça.

ComUM – De todas as propostas apresentadas pela Lista A, quais consideras que são as mais importantes para este mandato?

Rui Oliveira: O nosso manifesto expressa bem o porquê de defendermos cada uma das coisas e como é que as vamos defendendo. Nós escrevemos isto para que as pessoas que vão votar em nós saibam que, ao longo de todo o ano, às reuniões que nós formos e onde nós nos fizermos representar pelos estudantes, é aquilo que vamos defender.

Em relação à parte política, há a questão dos custos do ensino superior. Os estudantes são diferentes no sentido em que há alguns que precisam de alojamento, há outros que não; há estudantes que precisam mais de material escolar, há outros que não precisam. Ainda que existam apoios genéricos como a bolsa, é preciso apoios especializados para cada um destes casos. Foi por isso que, um dos casos que nós apresentamos é o complemento de transporte. Foi umas das propostas apresentadas pela AAUM durante este ano e que está, neste momento, na DGES a preparar a execução da mesma para o próximo ano letivo.

Outro custo é a propina, nós somos a favor da redução. Tem a ver com a mobilidade social e o direito à educação. Nós acreditamos que é através da educação que as pessoas conseguem ter ou atingir aquilo que querem. Portanto, acreditamos que toda agente tem de ter acesso ao ensino superior. Acreditamos, também, que a qualidade no ensino superior é uma parte fundamental. Precisamos que os métodos educativos sejam diferentes, mais inovadores e mais dinâmicos.

Temos trabalhado muito a questão das comissões de curso. Hoje, a universidade fala das comissões de curso e é importante não esquecer que foi a AAUM que trabalhou nisto. Ao longo do ano passado, estivemos, constantemente, a falar deste tópico, apresentamos sugestões e reunimos com todos os presidentes dos concelhos pedagógicos das unidades orgânicas a pedir soluções neste sentido.

Em relação às atividades, coisas concretas que vamos fazer ao longo do ano e que nos vamos propor a fazer dentro da academia. Na Ação Educativa e no Associativismo, a entrada de uma aluna de doutoramento na estrutura da Associação Académica. O que é excelente para que os alunos de doutoramento se aproximem da Associação Académica.

Quanto à cultura, a questão principal que estamos a propor é mensalmente ter uma arte no campus. Um mês dedicado ao cinema, outro à fotografia, ao teatro, à música, e que durante esse mês, nas duas cidades (Guimarães e Braga), seja promovida esta arte dentro dos campi.

Em relação ao desenvolvimento de Carreiras, é clara a preocupação que temos com a crise económica e com a preparação para o mercado de trabalho. Este ano, a AAUM criou uma marca para dar resposta a isto, a Start Point. A Start Point, tipicamente, era a feira de empreendorismo e formação e agora é uma marca que liga a preparação para a vida profissional aos alunos da academia.

O Desporto. As Associações Académicas são as principais responsáveis pela promoção desportiva nas universidades. Além disso tudo, é importante não esquecer que existe a competição Desporto Universitário, promovida pela FADU [Federação Académica do Desporto Universitário], e o clube que participa é a Associação Académica da Universidade do Minho. Somos um dos exemplos europeus nesta questão, fomos no ano passado premiados com a melhor universidade europeia nos últimos 10 anos no desporto, e a nossa ideia é continuar a apostar nele. Também, se a pandemia o permitir, em relação ao desporto informal, queremos fazer, durante as férias de verão, um evento que pudesse fazer esta promoção desportiva nas duas cidades.

No âmbito social, pretendemos trazer mais vezes temas e preocupações da sociedade, como o racismo, igualdade de género, violência no namoro. Trazer estas questões para que consigamos desenvolver um maior espírito crítico sobre a vida da sociedade.

Em relação ao voluntariado, para além dos projetos que queremos continuar a trabalhar, há um que queremos fazer que é um suporte de um grupo de autoajuda para a questão da saúde mental.

A questão da inclusão. Temos um diretor muito vocacionado para os estudantes internacionais e estudantes com necessidades de ação educativa especiais, para que consiga estar a todo o momento atento a todos os problemas que podem surgir.

A questão da sustentabilidade. Gostávamos de fazer uma cimeira, com a ajuda de todos os núcleos, onde refletíssemos sobre se fossemos nós a ter de fazer um tratado como o de Paris, o que é que gostaríamos que estivesse lá para tratar da questão da sustentabilidade.

ComUM – Gostavas de acrescentar alguma coisa?

­Rui Oliveira – Tenho de apelar aos estudantes que vejam realmente as questões, que olhem para os manifestos, percebam as diferenças e quem tem o projeto estruturado no pensamento. Aconselho os estudantes a irem ao site da Associação Académica, verem notícias que estão lá e uma série de comunicados daquilo que fizemos, do que estávamos a fazer e do que estávamos a reivindicar. Esse é um trabalho feito. Ás vezes trabalho que não vemos diretamente mas que é trabalho em prol dos estudantes. A questão das bolsas é um exemplo disso.

Luísa Machado e Tiago Picas