O mais recente projeto da banda virtual Gorillaz saiu a 23 de outubro. Num formato mais compacto e fidedigno, Song Machine, Season One: Strange Timez apresenta-se como o álbum audiovisual que acompanha grande parte do “strange” 2020 que estamos a viver. O grupo musical tem vindo a encantar múltiplas gerações ao longo dos anos.

”Song Machine é toda uma nova maneira de fazermos o que fazíamos”, escreveu Russel Hobbs (baterista da banda) num comentário explicativo sobre o que é este álbum. E, de facto, assim o é. De um modo versátil, o grupo consegue mais uma vez, nas profundezas do mundo alternativo do Kong Studios, juntar referências de todo o mundo musical. Nomes como: Elton John, Octavian, Robert Smith, Schoolboy Q, Lee John, Slowthai e 6lack surgem ao lado da habitual formação do grupo, composto por 2D na voz, Mudroc no baixo, Hobbs na percussão e Noodle na guitarra.

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Numa dimensão musical muito própria, a banda viaja para diversificados lugares, passando quer pelo deserto, quer pela lua, como acontece no primeiro tema do álbum. Num registo com um tanto de analítico como de introspetivo, a sonoridade da banda voa por harmonias alternativas, cruzando-se muitas vezes com a lírica crítica tão característica de 2D.

Song Machine começa, como referido, numa viagem à lua em “Strange Timez”. A banda viaja com Robert Smith (vocalista da banda The Cure) para que, com a perspetiva que a lua tem sobre a Terra, 2D e Smith exprimam o quão confuso está o planeta neste momento. Uma completa confusão que, na vista de 2D, advém da quantidade de informação que nos é dada tão fácil como rapidamente através da web.

Na primeira parte do álbum, 2D juntamente com Robert Smith, Beck, Lee John, ScHoolboy Q, St. Vincent, Elton John, e 6LACK apresenta letras críticas. Discute a vida plástica que é feita em sociedade nos tempos modernos, o abuso pelas drogas por parte da mesma e aborda as suas relações falhadas tanto com as drogas como com o amor com que sempre sonhou.

Elton John e 6LACK destacam-se na sexta música do álbum, “The Pink Phantom”. Um episódio introspetivo por parte de cada um dos intérpretes que falam individualmente na perda de um amor. 6LACK, de uma maneira mais íntima (de acordo com o seu estilo RnB), explica que uma relação amorosa, mesmo que perdida, continua dentro de nós.

É um tema que em nada deixa a desejar quanto ao habitual trabalho de Elton John que os fãs tanto apreciam. De facto, não só mostra mais uma vez a versatilidade enquanto artista como também exemplifica bem a capacidade que os Gorillaz têm em inovar-se a cada nova música em que trabalham. O episódio de “The Pink Phantom” foi o último episódio a ser publicado antes do lançamento final do álbum.

Mas, Song Machine Season One prossegue. Acompanhada com o trabalho de Hewlett que complementa, como habitualmente, os álbuns da banda com as magnificas animações que aconselho a todos os apreciadores do audiovisual a assistir. No entanto, e apesar da imensa variedade de estilos musicais que podemos encontrar ao longo do projeto, conseguimos destacar uma emoção crescente a partir da faixa 11.

“Momentary Bliss” conta com a participação de Slaves num registo Synth-Pop e, com Slowthai numa vertente Hip-Hop / Punk. Esta última, por sua vez, transpira a revolta do rapper contra o pessimismo e o aborrecimento que, por vezes, nos fazem sentir pequenos enquanto seres humanos.  A música introduz uma parte do álbum mais dinâmica a nível de estilos musicais, sendo o primeiro episódio a ser lançado pelo grupo em janeiro.

O duo de Earthgang junta-se na faixa “Opium”, em que é abordado o tempo de confinamento que existiu devido à pandemia. Johnny Venus (de Earthgang) escreve até no refrão: “singing, hugging, living”, referindo-se a momentos vividos antes desse tempo. Joan As Police Woman, Chai e JPEGMAFIA aparecem no álbum em versão deluxe. O disco finaliza com a colaboração do rapper Skepta e do baterista Tony Allen, que acabou por falecer dois dias depois do lançamento de “How Far”.

Toda uma nova realidade virtual foi criada a partir deste projeto. Gorillaz, em Song Machine, juntam num espectro visual e auditivo uma multiplicidade de vertentes que uma banda pode abordar apenas usando como local de partida, a criatividade. O projeto na versão deluxe conta com seis faixas adicionais. Embora, infelizmente, as faixas não sejam integrantes da série animada, complementam muito bem de forma auditiva, tanto o álbum, como o ano 2020.