Lançado a 10 de setembro na HBO Max, Unpregnant traz-nos, de forma ligeira e divertida, a discussão sobre o aborto e sobre o direito de escolha da mulher. Nunca deixa para trás a crítica social e política, mas é sobretudo sobre a reconstrução de uma amizade num momento de necessidade.

O filme acompanha a viagem interestadual de Veronica (Haley Lu Richardson), uma jovem de 17 anos que descobre que está grávida, e de Bailey (Barbie Ferreira), a sua ex-melhor amiga de infância. O destino é uma clínica no Novo México, para que Veronica possa fazer um aborto legal e sem o conhecimento dos seus pais.

O que se segue é um conjunto de peripécias e obstáculos típicos de filmes que envolvem roadtrips. Por vezes exagerados, estes acontecimentos vêm, de certa forma, caricaturar todos os obstáculos pelos quais uma jovem tem de passar para conseguir realizar um aborto de forma legal e segura.

Em certos momentos podemos sentir que há personagens que podiam ter sido mais desenvolvidas. Enquanto outras são espremidas ao máximo, mesmo depois de dar tudo o que tinham a dar. Tal é o caso de Bob (Giancarlo Esposito), que faz a sua aparição apenas nos minutos finais e durante pouco tempo, deixando-nos a querer mais da genialidade a que Esposito nos habituou nos seus anteriores trabalhos. Além disto, Kevin (Alex MacNicoll), namorado de Veronica, é trazido recorrente e desnecessariamente à história.

É depois da chegada à clínica que vemos uma das cenas mais importantes do filme, não necessariamente para a narrativa, mas para a mensagem que o filme tenta passar. É-nos mostrado todo o processo da interrupção voluntária da gravidez, desde um questionário inicial à descrição passo a passo do procedimento cirúrgico. É uma cena que destoa bastante das outras, por tomar um tom sério e mais tenso, mas relembra-nos sobre o que é realmente o filme.

A química entre as duas atrizes é excelente, ajudando imenso a que nenhuma parte do filme seja aborrecida, mesmo quando a escrita não é a melhor. A cinematografia é também bastante agradável, com os tons saturados típicos de zonas de desertos, bem como a banda sonora, que encaixa perfeitamente em todas as cenas.

Unpregnant, ainda que caótico em alguns momentos, acaba por ser uma comédia simples com uma mensagem séria. Nunca descurando o tema do aborto e tendo sempre a crítica presente, não cria toda a sua personalidade em torno disto e transforma a viagem física e emocional das duas amigas nuns bons 104 minutos de entretenimento.