Baby God foi lançado a 3 de dezembro na HBO. O documentário retrata a história de um médico, Quincy Fortier, que por mais de 30 anos inseminou, sem aprovação e consentimento, o próprio esperma em pacientes que realizavam tratamentos de fertilidade.
O segredo é revelado quando Wendi Babst decide comprar um teste genealógico, e se dá conta que o próprio pai, não é a pessoa a quem chamou pai a vida toda. O kit permitiu identificar as pessoas com quem havia uma correspondência, descobrindo um considerável número de meios-irmãos, em que o nome mais frequente seria Fortier, o apelido do mesmo médico.
Decide comunicar à mãe que o progenitor é afinal o médico especialista em fertilidade que a ajudou a engravidar, embora desconhecendo que o mesmo havia inseminado o próprio sémen e não o do companheiro, como estaria estabelecido à partida. Ao ser confrontada com esta notícia surgem dúvidas e memórias que se encaixam e passam a fazer sentido, como o facto de Wendi Babst nunca ter apresentado parecenças com o lado paterno da família. A investigação começa quando se apercebe da dimensão da situação. Assim, dirige-se ao encontro das pessoas com quem partilha genes.
Ao longo do documentário existe uma reflexão profunda por parte de todos os envolvidos, isto porque hoje se sabe que 50% das características de um individuo são definidas pelo ADN. Desse modo, entram numa introspeção coletiva, já que parte do ADN não é proveniente da figura paterna que teriam como molde. Sendo o pai deles um “monstro”, como o intitulam, estes passam a questionar-se se o seriam também.
Na parte final reúnem-se alguns meios-irmãos e analisam as parecenças físicas e até intelectuais, ao nível de gostos, encontrando alguma homogeneidade. Terá ele feito isto por caridade, terá sido apenas frio, egoísta e preocupado única e exclusivamente com a própria investigação, ou teria um lado perverso reservado? São outras das questões que se atiram para o ar. No entanto, o facto de ter inseminado mulheres que procuravam outros tratamentos que não os de fertilidade e ainda ter molestado os filhos, dá-nos a resposta às perguntas anteriores.
Os testemunhos dos filhos são a chave do documentário e dão a conhecer diferentes perspetivas. Contudo, parecem todos concordar com a falta de ética e mostram uma certa revolta, tendo em conta que violou os direitos de inúmeras famílias que atravessavam um período conturbado. Há um testemunho em particular que é verdadeiramente inquietante, um dos filhos, que terá sido sexualmente abusado, afirma que a morte do pai fez nascer em si um sentimento de segurança e proteção, uma realidade que intriga o espectador.
Durante o documentário há um dado peculiar que desassossega e apoquenta: Quincy Fortier, apesar das acusações comprovadas, nunca perdeu a licença e nunca foi punido por nenhum ato. Ainda que tenha inseminado o próprio sémen, criando uma espécie de fábrica biológica, capaz de fazer nascer fetos como quem fabrica qualquer produto: sem fundamento e apego emocional, mantem a sua licença.