Para celebrar o Dia Internacional do Heavy Metal, os Capela Mortuária estiveram à conversa com o ComUM. A banda de Metal está sediada em Braga, da qual fazem parte Jordi (bateria), JC (voz), Rita (baixo), Pedro e Júlio (guitarras). A origem da banda, os desafios enfrentados devido à pandemia e o Metal no contexto bracarense foram algumas das temáticas abordadas.

 ComUM – Como surgiu este projeto?

Capela Mortuária (CM) – Basicamente, eu [Pedro] e o Júlio começamos a tocar guitarra e queríamos um projeto, que na altura não era nada, era simplesmente tocar. Nós precisávamos de um baterista e como já conhecíamos o Jordi falamos com ele e ele juntou-se a nós. Ainda não éramos uma banda, era só para um gajo se divertir, tocar uns covers e mais nada. Isto em Salamonde, Vieira do Minho. Lá não dava para desenvolver muito, faltava-nos baixista e vocalista e foi aí que decidimos vir para Braga. Entretanto conhecemos a Rita e o JC e a partir daí começamos a tocar e, muito brevemente, surgiu um EP até aos dias de hoje.

ComUM – Como é que se conheceram?

CM – Eu [Jordi], o Júlio e o Pedro somos os três de Salamonde e foi lá que nos conhecemos. O JC apareceu por amigos em comum, especialmente da malta que toca neste espaço. A Rita foi um bocado de paraquedas. Tínhamos outro baixista, o Leo, que acabou por sair. Vimos que a Rita era boa baixista e convidámo-la para a banda. Foi já com este pessoal que gravamos o EP.

ComUM – Dentro do Metal, com que subgénero mais se identificam?

CM – Os temas que temos feito não são propriamente super homogéneos. Dentro daquilo que um gajo foi vendo, acabamos por cair mais um bocado para o Thrash Metal. Na altura do primeiro concerto, quando nos pediram subgénero para escrever, foi a cena do Thrash Metal Fodido e ficou.

ComUM – O Metal é um estilo de música com um público mais restrito. Como é que tem sido trabalhar durante uma pandemia?

CM – As cenas abrandaram bastante. Por causa da pandemia, o vocalista acabou também por fazer alguns trabalhos para fora e não esteve connosco. Apanhou-nos um bocado num mau timing, nós lançamos o EP no final do ano passado, apresentámo-lo um bocado, demos cinco ou seis concertos por essa altura. Março ia ser um mês fixe para nós, íamos ter umas cenas em vista, mas fomos apanhados assim. Entretanto ficamos mais focados na composição, a ritmo lento, mas os nossos planos para 2021 seriam promover o nosso EP por um bocado.

ComUM – Se pudessem colaborar com algum artista, vivo ou morto, com quem seria?

CM – É uma boa pergunta, dá que pensar, dadas as influências de cada um. Talvez com o Max Cavalera, DimeBag Darrel, por exemplo. Sem dúvida também com o Frank Zappa ou até colaborar com Magrudergrind.

ComUM – Consideram que a pandemia prejudicou o vosso trabalho, não quanto à realização de concertos, mas quanto à produção de conteúdo?

CM – Sim, bastante. 2020 atrasou muito tudo, é um ano para esquecer. Tivemos muita mais dificuldade em estar juntos, o JC foi trabalhar para França. É sempre possível trabalhar à distância, mas não deixa de ser inconveniente. A pica que um gajo tem ao ensaiar é mesmo para partir tudo ao vivo e quando não temos essa parte na equação, perde-se um bocado a pica.

ComUM – Já têm um novo projeto em mente?

CM – Futuramente será um álbum, não temos ainda nada marcado. Já temos algum material, ainda estamos a trabalhar, mas não há datas para nada. Vamos ver como é que corre o próximo ano.

Capela Mortuária

Inês Batista/ComUM

ComUM – Qual é a vossa opinião perante o Underground de Braga?

CM – Nós estamos um bocado no cerne do underground de Braga, temos mais projetos além de Capela. O circuito é pequeno, mas é espaço que falta. Há pessoal a ouvir, há bandas novas a aparecer. Como é obvio, uma coisa leva à outra, se houvesse assim tanto público, havia quem pegasse nisto, porque muito público gera muito dinheiro. Mas o que há não é assim tão pouco. O underground tem essa cena, o pessoal é bom uns para os outros.

ComUM – Costumam sair do circuito bracarense?

CM – Capela já foi a sítios fixes. Costumamos ir ao Porto e a Guimarães. Vamos onde nos quiserem, também já tocamos em Vigo e na Covilhã, que foi o mais longe que fomos.

ComUM – Qual seria para vocês a solução para a falta de espaços para a cultura se poder desenvolver neste sentido?

CM – No nosso ponto de vista, não tanto de Capela, mas do Underground, nenhum de nós tem licenças para espaço ou para barulho. Quando estamos a fazer essas coisas é sempre em prol da própria cultura, por isso é difícil alguém pegar em nós e dar-nos todas a proteções e seguranças. O que nós fazemos é tentar colaborar com espaços, como quando lançamos o EP foi uma coisa espetacular que conseguimos fazer com o Barhaus, que sinceramente não pensei que fosse acontecer, mas foi altamente. Em relação à Câmara e a tudo o resto é difícil dinamizar uma cena destas, especialmente numa cidade como Braga. Não é uma má cidade, mas tem uma cultura muito virada para o católico-comercial. Não é difícil, é só eles quererem, porque há grandes eventos em Braga tipo a noite branca, só que não são muito abrangentes, eles não querem fazer uma noite de peso.

ComUM – Braga é uma cidade com uma grande percentagem de jovens. Acham que os jovens correspondem à maior parte do vosso público?

CM – É bastante diversificado, o Metal está por todas as faixas etárias, mas achamos que precisamos de mais jovens. As gerações mais antigas ainda curtem mais metal do que as mais jovens. Os grupos mais jovens gostam de subgéneros mais específicos, enquanto o pessoal mais velho é mais verdadeiro a um só género ou a uma miscelânea deles. Agora é difícil agradar a gregos e a troianos, o pessoal gosta de muita coisa. Têm gostos mais restritos a subgéneros, já não é tão abrangente. Devia haver mais jovens no Metal, mas isto é tudo cíclico e o pessoal faz a música que gosta.

ComUM – Fazem música por gosto ou com o intuito de alcançar um maior público?

CM – Só fazer o que gostamos, sempre. Vemos aquilo que resulta no núcleo de músicos que temos e decidimos entre nós o que funciona. Não há nenhum riff que passe que não nos toque lá dentro, se não sentirmos nada é logo barrado. Ser comercial é praticamente inconsciente. Não pode ser o foco, tem de ser consequência de fazer o que gostamos. Se acabarmos aí em digressões malucas a fazer dinheiro, altamente, mas isso só pode ser consequência de fazermos o que gostamos.