O ComUM investigou mais sobre o estado do projeto.
Há 20 anos que se ouve falar de um novo centro de multimédia do ICS na Universidade do Minho. O projeto tem vindo a ser adiado pelas várias reitorias, ao longo dos anos. Em 2019, o reitor da academia, Rui Vieira Castro, garantiu que as obras para a construção do Centro Multimédia iriam avançar nesse ano e que contava estarem concluídas em 2021.
Em conversa com a presidente do ICS, Helena Machado, entende-se que o Centro de Multimédia é “um projeto que não interessa só ao curso de Ciências da Comunicação, mas sim a toda a universidade.” Como possível explicação para o atraso na construção, a vice-presidente do ICS, Madalena Oliveira, aponta para o facto das “circunstâncias de funcionamento da universidade terem sido alteradas e ter passado a ter que garantir verba própria para financiamento”. “Temos consciência que isso tem dificultado o funcionamento da universidade a vários níveis”, salienta ainda.
Na celebração do 42º aniversário do Instituto de Ciências Sociais (ICS), o reitor garantiu que a zona do Campus de Gualtar, perto da Escola de Psicologia e do Instituto de Educação, está reservada para receber o Centro de Multimédia do ICS. “O Centro de Multimédia vai ser instalado num espaço pré-existente que se encontra em bruto – precisa de todo um conjunto de obras estruturais. Precisa, também, da instalação de sistema de iluminação, uma série de equipamentos relativos à sonorização do espaço, por aí”, explica Madalena Oliveira.
O último procedimento iniciado pela presidência do ICS foi em 2016, percorrendo 118 etapas no sistema de documentação interna da universidade “de um percurso que parece nunca mais chegar à meta”, admite a vice-presidente. “Percebe-se que há aqui um caminho sinuoso, que não parece nada esclarecido”, acrescenta.
“É uma situação que já se arrasta há bastante tempo, com prejuízo claro em termos da formação”
Helena Machado
Luís António Santos, docente do ICS, declara que “a UMinho teve reitores sucessivos que, em público na celebração do dia do ICS, em anos diferentes, disseram que a obra ia avançar”. E realça que a parte do trabalho que cabe ao corpo docente está feita: “Nós já fizemos três ou quatro projetos detalhados, ou seja, obras, equipamentos, orçamentos, contactar empresas, preparar todos os documentos, fazer candidaturas. Centenas de horas de trabalho de muitas pessoas. O que está ao nosso alcance fazer já se fez até por excesso, falta agora quem tem responsabilidades assumi-las”, afirma o professor.
De entre vários benefícios, a vice-presidente do ICS sublinha as condições mais dinâmicas de trabalho e aulas com melhores condições como vantagens do futuro Centro de Multimédia. “Acho que os alunos são os primeiros a reconhecer que o espaço que temos é limitado. Nós vamos improvisando muito”, refere.
“Acreditamos que os alunos vão ter melhores espaços de trabalho para aprender, para fazerem atividades da sua iniciativa. A investigação pode beneficiar deste espaço porque teria melhores condições de captação de imagem, poderíamos fazer coisas mais ousadas e ambiciosas se tivéssemos um espaço mais eficiente”, confidencia Madalena Oliveira.
“A criação do centro de multimédia significa abrir uma oportunidade para consolidar a formação prática dos estudantes de Ciências da Comunicação. É dar visibilidade ao que podem fazer com consequências positivas na empregabilidade”
Helena Machado
Helena Machado adverte que as Ciências da Comunicação precisam de “um laboratório avançado para fazer face aos desafios da era digital”. “É mais fácil explicar quando se trata de um laboratório com provetas e batas brancas. Não se vai salvar vidas com medicamentos aí descobertos, nem é essa a nossa função, mas vai-se trabalhar para o mundo digital, para responder às necessidades da sociedade de hoje”, confessa.
A lacuna que falta preencher: “Os laboratórios só não nos chegam”
Luís António Santos admite que já houve grupos de alunos que, noutros momentos, fizeram pressão. O docente não coloca de lado uma junção de esforços, mas acredita que “o que está em causa é, sobretudo, a reitoria considerar isto como um investimento estratégico para a universidade e, até ao momento, não houve uma única que o tivesse feito”.
Diana Gomes, aluna do terceiro ano da licenciatura em Ciências da Comunicação e presidente do Grupo de Alunos de Ciências da Comunicação da Universidade do Minho (GACCUM), conta ao ComUM que ouve falar do Centro de Multimédia desde o primeiro ano. “Um Centro de Multimédia é tudo aquilo que os alunos precisam, pois, os laboratórios só não nos chegam. Por isso mesmo, a construção deste centro seria muito benéfica para nós, até porque estimularia a criatividade dos alunos, envolvê-los-ia mais em projetos criados pelos próprios e fomentava mais a entreajuda entre estudantes e docentes”, garante a aluna.
“Se dependesse apenas de professores e de alunos, o centro já existia, o problema aqui é a reitoria que arrasta o processo. Entre dizer e fazer há uma grande discrepância”, continua a presidente do GACCUM. “Se o GACCUM continuar a insistir a falar pelos alunos e pelas necessidades dos mesmos, os professores podem começar a sentir mais uma pressão e, consequentemente, passá-la para a reitoria e aí talvez o processo comece a acelerar”, termina Diana Gomes.
Nota: O ComUM tentou contactar a reitoria várias vezes, porém, não obteve resposta.
Artigo por: Maria Carvalho e Mariana Festa
Entrevista Madalena Oliveira e Helena Machado: Ana Sousa