Comemora-se este sábado, dia 5 de dezembro, o Dia Internacional do Voluntariado. A data estabelecida pela Organização das Nações Unidas em 1985 tem por objetivo incentivar e valorizar o serviço voluntário em todo o mundo.
Se olharmos para o caso português, o voluntariado tem vindo a aumentar, tanto ao nível das organizações que o promovem como em relação ao número de voluntários. Contudo, os dados mais atuais, relativos ao Inquérito ao Trabalho Voluntário de 2018 divulgado pelo INE, sugerem que o número é ainda reduzido. O voluntariado formal em Portugal assume então taxa de 6,4%, face aos 19,3 por cento da média europeia.
Mesmo assim, são muitas as pessoas que dedicam algum do seu tempo e competências a uma causa de forma voluntária, ainda que se tenham deparado com a Covid-19. O ComUM conversou com alguns voluntários e responsáveis por organizações com voluntariado em Braga para perceber como têm enfrentado a ameaça do vírus que se instalou.
“Dar o tempo por algo maior do que nós”
“Virar a Página” é um projeto de emergência alimentar que surgiu a 16 de março, no início da pandemia em Portugal, na cantina do Colégio Luso Internacional de Braga. Nuno Barbosa, voluntário e coordenador da logística de beneficiários do projeto, revela que havia necessidade de suprir o fecho de algumas respostas sociais. “Encontrámos muita gente que ficou sem chão por causa da pandemia”, sublinha.
Este problema, no entanto, consolidou o projeto, que continuou em atividade mesmo durante o confinamento e conseguiu expandir-se. Deste modo, mudou de instalações e obteve “apoios de muitos lados”, entre juntas de freguesia, empresas e superfícies comerciais.
Com o “aumento das necessidades”, o responsável de 29 anos salienta também o acréscimo do número de voluntários, alguns deles beneficiários. “Contribuírem para o que os está a ajudar ajuda muito psicologicamente”, afirma.
Quanto ao futuro, Nuno Barbosa refere que ainda “há muito caminho para andar” e espera que o projeto consiga um espaço independente. Para além disso, alimenta o sonho de um restaurante social sem o “estigma das cantinas sociais”, onde ninguém “sinta vergonha de entrar”.
“Ao ajudar os outros, ajudo-me também”
Genésio Neto é também voluntário do “Virar a Página” e um exemplo de que o voluntariado acompanha vidas. Apesar de já fazer trabalho voluntário no Brasil, onde nasceu e trabalhou como administrativo de um banco durante 30 anos, encontrou uma “nova vida” em Portugal aos 54 anos.
Instalado em Braga desde janeiro, candidatou-se para voluntariado no site do Município e foi chamado para ajudar na cozinha do “Virar a Página”. “Nunca imaginei vir a comandar uma cozinha”, brinca, acrescentando que se sente “muito bem”.
Enquanto voluntário em plena pandemia, Genésio Neto reconhece que as necessidades vão muito além de “entregar o alimento”. “Há que consciencializar as pessoas que elas têm de se cuidar”, salienta.
Desta forma, reforça a importância do voluntariado nestes tempos inéditos. “Alguma lição havemos de tirar, mas este momento e a participação voluntária vão ficar nos livros da História”, conclui.
“É importante ajudar o próximo”
Doroteia Felgueiras coordena o voluntariado no Centro de Solidariedade de Braga – Projeto Homem, uma comunidade terapêutica. Esta instituição, fundada em 1991, tem como missão ajudar na reabilitação de dependências de álcool e drogas.
Neste sentido, a responsável destaca a importância da interação dos utentes com os voluntários. Entre estes, encontram-se estudantes universitários e outros particulares, assim como “altas terapêuticas” que regressam à instituição para ajudar os que ainda precisam.
Com a situação pandémica, porém, a comunidade foi obrigada a parar as atividades presenciais com os voluntários. Por esse motivo, Doroteia Felgueiras admite “muitas dificuldades” relacionadas com a terapêutica dos beneficiários. “Estamos num regime mais contentivo, menos virado para o exterior, e isso acaba por provocar alguma pressão nos nossos utentes”, afirma.
Apesar disso, a responsável perspetiva um “futuro bonito” para a colaboração com os voluntários. “Eles vão continuar a ser bem tratados pela nossa instituição e, assim que houver condições, vão ser chamados para redefinirmos as atividades [presenciais]”, conclui.
“Assumir um compromisso de partilha”
Mariana Macedo, 25 anos, diz ter já uma “história longa” como voluntária. Desde cedo envolvida em projetos de cariz social, como os Escuteiros, foi desenvolvendo o gosto pelo voluntariado. Já na universidade, conheceu a Pastoral Universitária de Braga e decidiu colaborar no projeto humanitário “Sementes”.
Atualmente como coordenadora do projeto de voluntariado “Desenvolve-te”, da mesma organização, colabora com várias instituições bracarenses. A comunidade “Projeto Homem” é uma delas, com a qual começou a desenvolver, no passado sábado, sessões online. “Todos os sábados à tarde vamos desenvolver atividades lúdicas para os utentes”, explica.
Relativamente à primeira sessão, Mariana Macedo revela que a sua equipa estava “receosa”, tendo em conta as limitações do formato. No entanto, a responsável garante que a adaptação foi “muito boa” e que, apesar da pandemia, é possível “manter as relações com as pessoas”.
Outra surpresa para a coordenadora foi a adesão dos voluntários que, mesmo estando “à distância”, mostram-se disponíveis para ajudar no projeto. “Isto prova que os jovens não são o futuro, mas sim o presente”, sublinha.
Assim, e apesar da pandemia, o voluntariado continua a mudar vidas um pouco por todo o lado. Ainda sem um regresso previsto à atividade presencial em muitos casos, os voluntários continuam resilientes, pelas pessoas que ajudam e pelas causas em que acreditam.