Os três oradores debateram, entre si, várias questões ligadas à temática da igualdade de géneros.
O webinar “ABC da Igualdade”, organizado pelo movimento HeForShe da Universidade do Minho, decorreu esta segunda-feira e contou com a presença de três oradores. Foram eles Pedro Morgado, Psiquiatra e Vice-Presidente da Escola de Medicina da UM, Lia Mendes, enfermeira, ativista e voluntária do núcleo de Braga da UMAR, e Maria Jesus, Co-coordenadora do HeforShe Porto e Mestre em Ciências da Educação.
Lia Mendes começou por advertir que “é importante saber que o feminismo não é o oposto do machismo”. É um movimento político, social e filosófico que promove crenças, atitudes e comportamentos. Rompe com as imposições sociais do que é ser homem e do que é ser mulher”, salientou ainda.
“O movimento não deve ser abordado sozinho, tem pluralidade. As mulheres não sofrem todas as mesmas opressões, pois não pertencem todas aos mesmos contextos sociais, e, por isso, é preciso ver todas as vertentes e as violências que cada pessoa sofre”, disse a voluntária da UMAR. Maria Jesus complementou o comentário de Lia Mendes afirmando que “é importante estarmos aqui a discutir sobre os feminismos, é necessário trazermos para o palco esta discussão”.
Por sua vez, Pedro Morgado sublinhou: “Enquanto médico, tenho uma preocupação muito grande com as expressões do machismo e de uma masculinidade muito enraizada cheia de componentes tóxicos. Sinto que há muitos homens em sofrimento, devido aos papéis de género na sociedade”. Como professor, acredita que “é preciso formar uma geração de médicos que conheçam os conceitos, que consigam desfazer preconceitos, que questionem algumas das suas fragilidades e que as identifiquem, sendo agentes da mudança”.
Pedro Morgado acredita, também, numa mudança, mas “de forma inteligente”. “Não podemos argumentar com todas as pessoas da mesma maneira. Temos de perceber o outro, criar pontes. A mudança faz-se assim, de pessoa para pessoa”, declarou.
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No tópico da masculinidade tóxica, Pedro Morgado apontou várias razões oriundas da sociedade. “Os homens procuram ajudam muito mais tarde, não expressam as emoções de forma consistente, não têm redes de suporte seguras para abordar certos temas”. Maria Jesus volta à época do coloquialismo para reforçar a sua tese. “Durante essa época, a mulher negra conseguia fazer os trabalhos que os homens negros conseguiam, e, portanto, foi criado o mito de que a mulher branca era mais fraca e precisava de ajuda”.
Lia Mendes completou a ideia: “A nossa sociedade está repleta de estereótipos de género e são reforçados pelo discurso da religião. De facto, o género enquanto construção social corresponde a essas expetativas que a sociedade tem para a mulher e o homem, como o cavalheirismo. Isto faz sustentar as diferenças que queremos combater”.
Num outro tema, Pedro Morgado abordou a exclusão das mulheres em idade fértil no emprego. “Tenho situações de assédio laboral, porque um homem queria tirar uma licença partilhada e sofreu de problemas com a empresa”. Admitiu que “uma boa saída é a licença totalmente partilhada de forma obrigatória entre homem e mulher e não haver opção”.
Já Lia Mendes explicou que “há uma relação de poder dos homens sobre as mulheres e que se sustenta sobre a História”. “Historicamente, a mulher é tida como a cuidadora e recai sobre elas os cuidados domésticos, dos filhos, e, portanto, já há este peso sobre a mulher. É a própria empresa que discrimina o homem e a mulher”, acrescentou.
Numa reflexão final, Pedro Morgado crê que o fundamental para mudar mentalidades é a educação. “Nós precisamos de ter a escola como um espaço de liberdade. A escola tem de servir para formar pontos de interrogação em vez de pontos finais. Temos de ser mais exigentes com a sociedade, não ter medo de denunciar o que é o mau uso da linguagem. As palavras contam, criam perceções e perpetuam estas distorções da realidade”.
Maria Jesus contrapõe Pedro Morgado, afirmando que “a educação não está assim tão má como diz.” “Da minha perspetiva, tem havido bastantes progressos na escola. Não recai apenas sobre a escola, mas o que acontece fora delas é muito importante. Aquilo que se aprende desvanece se chegar a casa e a mensagem for contrária”, sublinhou.
Os três oradores concordam que os Direitos Humanos não se debatem, mas sim assumem-se. “São matéria de respeito”, afirmou o professor de Medicina.