João Louro tem uma nova exposição individual dedicada à Mulher na Zet Gallery. A obra About Today está em exposição até março de 2021. Em conversa com o ComUM, o artista falou do novo projeto, das expectativas e também das mudanças sentidas pela pandemia.

ComUM – A iniciativa de juntar o Rui Massena à sua exposição partiu da Zet Gallery ou foi o João Louro que propôs?

João Louro – Isto é um casamento feliz, mas a ideia não é minha, é da Zet Gallery. Portanto, eu concordei com a ideia de fazermos uma espécie de duas inaugurações, a pré inauguração com o concerto e outra será amanhã até as 12h devido às medidas impostas.

ComUM – Como surgiu a oportunidade de fazer a exposição no Zet Gallery?

João Louro –Eu sou muito amigo do engenheiro José Teixeira e isto a propósito de conversas e de encontros acabamos por concordar em fazer algum projeto um dia e a Helena como era a diretora da galeria com quem tive o prazer de trabalhar desafiou-me depois mais tarde a fazer esta exposição. No fundo começa por uma relação de amizade e depois acaba por ser uma continuidade a partir da galeria e da Helena.

ComUM: A exposição “About Today” estreia amanhã. Quais são as expectativas?

João Louro – As expectativas são sempre altas. Eu sou otimista, portanto são sempre altas. O momento é um momento de crise, um momento difícil. É difícil para todos, mas também é preciso ter alguma resiliência, coragem, todos os cuidados possíveis, ser consciente mas também continuar a fazer o nosso trabalho e todos contribuirmos um pouco para o nosso trabalho avançar.

ComUM – Porquê uma exposição dedicada à mulher?

João Louro – Se pensarmos bem a mulher é o primeiro porta voz do mundo. É a primeira pessoa que nos apresenta o mundo, é dela que nós vimos, é ela que nos acompanha nos primeiros meses. E como porta voz do mundo eu acho que é a pessoa mais importante que nós temos nas nossas vidas, todos nós porque todos temos uma mãe ou tivemos, não interessa, mas todos nós vimos de uma mãe. E portanto, esse ponto de partida parece-me fundamental para recordar de onde nós vimos e as nossas primeiras relações com o mundo a partir dela, ela é a primeira embaixadora e é uma homenagem a essa embaixadora.

ComUM – Sempre quis ser artista?

João Louro – Eu sempre quis ser artista. A minha avó era professora primária e pintora de fim-de-semana. Mas eu estudei outras coisas, mas a minha pensei sempre que seria mais tarde artista. Não foi uma decisão tardia, tive de desistir de outras coisas para continuar. O projeto ao principio é muito complicado porque é preciso convencer primeiro os pais que é uma coisa difícil, vão achar que vamos ser pobres toda a vida. Depois quando essa fase passa, eles aqui já estão completamente de acordo com as propostas e com as ideias que tínhamos no passado, só que no passado nos eramos muito pequenininhos e então tínhamos que convencer pessoas que já estavam formadas e que tinham as suas dúvidas. De qualquer maneira, eram dúvidas admissíveis, mas sempre foi uma ideia que eu tinha e nunca desisti dela.

ComUM – No seu caso o que mudou?

João Louro – Na realidade tanto quanto eu sei em relação aos artistas não mudou nada porque os artistas têm um trabalho de atelier, é um trabalho por si só de confinamento. A minha vida não alterou nada, eu faço exatamente a mesma coisa que fazia antes da crise do Covid. Portanto, é uma atividade de atelier, solitária, isolada. É evidente que trabalhamos com colaboradores, mas é um trabalho de confinamento. O artista tem um trabalho de confinamento e portanto, não alterou absolutamente nada. Alterou as viagens que não se podem fazer, alguns projetos que ficam numa espécie de prateleira à espera de serem concluídos, mas do ponto de vista do trabalho não alterou absolutamente nada.

ComUM – Expectativas para o novo ano?

João Louro – O mundo mudou e todos sabemos isso e nós tivemos o azar ou a sorte de viver um momento que é um momento de crise. Houve outros momentos de crise na vida do Homem e eu recordo que em 1929 uma grande crise parecida com esta, a gripe espanhola. E essa crise foi também gravíssima, morreu imensa gente, houve crises na economia, houve crises em muitos momentos da vida. Mas há pessoas por coincidência que têm oportunidade de viver essas crises e de alguma forma tirar partido, claro que é sempre uma situação muito negativa, mas tirar partido desse ensinamento. Eu acho que nós tivemos a sorte/azar de viver uma crise e com isso podermos tirar partido do ensinamento que nós estamos a presenciar.

ComUM – A exposição vai estar até ao próximo ano. Mas quais são, além deste, outros projetos para o futuro?

João Louro – Eu tenho vários projetos, alguns estão com algum atraso sobretudo os projetos estrangeiros. Há depois projetos grandes no Brasil em dois museus por exemplo que estão a ser preparados neste momento. Há uma exposição em Itália que está a ser preparada neste momento, enfim, há uma série de projetos internacionais que sofreram um bocadinho o delay vindo da crise, mas todos nós temos esperança nestas vacinas que estão a chegar. Em janeiro, as pessoas vão começar a ser vacinadas, eu calculo que o próximo ano seja um ano de esperança e esses delays possam ser recuperados de alguma forma, a partir do momento em que as pessoas fiquem mais tranquilas, possam viajar, possam voltar um bocadinho à vida normal que nunca será a mesma.