“Lucky Star” é o CineClube de Braga, que nasceu em 2016. A pandemia tem afetado a comunidade cinematográfica. O ComUM falou com José Amaro, presidente da iniciativa, e João Palhares, vice-presidente, sobre os desafios que têm enfrentado.

ComUM – Como é que nasceu este cineclube e de onde surgiu o nome “Lucky Star”?

João Palhares – Nós começamos em 2016 no Braga Shopping com uma sessão que contou com a presença do Pedro Costa. Aliás, foi ele que deu o nome. Ele disse que “Lucky Star” seria um ótimo nome para um CineClube e nós pegamos na ideia, que é também um filme de Frank Borzage de 1929. Desde essa altura que estamos a passar filmes.

José Amaro – Eu cheguei um bocado tarde aqui, ou seja, tarde como expectador. Cheguei há dois anos. Entretanto, as pessoas que estavam com o Cineclube – João Palhares, José Oliveira – precisavam de fazer outras coisas e lançaram o desafio a quem quisesse pegar no trabalho. Foi aí que eu e outros sócios respondemos positivamente. Respondemos ao desafio mais pelo medo e terror da possibilidade de o CineClube acabar do que pela vontade de trabalhar, que nunca é muita. O João permaneceu e sem ele seria muito difícil porque tudo isto carece de muito trabalho, de muitos conhecimentos. Assim como de muita informação, ou seja, saber de onde é que são os filmes, dos apoios, e saber do cinema. O João, com o nosso apoio, dá assim também continuidade ao nosso CineClube.

ComUM – Para quem não conhece, como é que descreveriam o CineClube?

José Amaro – Como qualquer CineClube, acho que o importante é que haja um porto de abrigo para as pessoas que gostam muito de cinema e não de apenas ir ao cinema. Esse porto de abrigo nós queremos continuar a ser com a ajuda de todos os que gostam, para que este ponto de encontro seja de prazer no âmbito do cinema.

ComUM – Quais são as iniciativas padrão do “Lucky Star”?

José Amaro – A nossa base é a divulgação do cinema pouco conhecido, do cinema que não passa nas salas comerciais. No fundo essa é a nossa preocupação porque conhecer a história do cinema e conhecer o desenvolvimento do cinema é um grande passo para se gostar mais, perceber e discutir melhor de cinema.

Nós que gostamos de cinema, temos uma grande inveja dos lisboetas. Têm uma Cinemateca, Cineclubes com grandes tradições e etc. Quantas vezes eu aqui [em Braga] tinha de ir a Famalicão para ver o cinema que não passava noutros lados… Essa inveja é então colmatada com esta oferta com o que nós temos. Digamos que quem gosta de cinema, tem aqui uma boa resposta para cinema, que de outra forma, não teriam muita oportunidade de o ver.

João Palhares – Já que o José falou na CinemaTeca, aproveito para dizer que as sessões foram inspiradas naquele modelo. Nós temos sempre uma folha de sala para acompanhar e contextualizar os filmes.

ComUM – O quão importante é este convívio de um filme clássico com outro “feito nos nossos dias” como anunciam na página oficial do Facebook?

João Palhares – É preciso saber o que é que está para trás para entender o que sai agora em termos de cinema. Não só por uma questão de estética ou para ser crítico ou para ser cinéfilo mas por curiosidade. Nós, em outubro, passamos o “Wolfram” que é de 2010 e queríamos passar o “Terra” também que são dois filmes portugueses. Pusemo-los em diálogo com filmes de vanguarda de 1929 para perceber as inspirações dos cineastas. E isso é um trabalho interessante.

José Amaro – Nós não temos uma fixação só pelo que é antigo ou por aquilo que mais de 20, 30, 50 anos. Nós temos uma fixação por tudo, mas que dialogue e que coloque uma linha de coerência para estruturar bem o que foi o cinema e do que deriva o cinema que hoje se faz.

ComUM – O que é que mudou com a pandemia?

José Amaro – Mudou, desde logo, as enormes dificuldades físicas, ou seja, dificuldades “palpáveis”. Primeiro estávamos numa sala onde não pudemos dar continuidade – na Casa do Professor. Não era legítimo continuar até porque aquilo também era um lar. Com isto, percebemos melhor e sentimos mais a dificuldade do que é arranjar um espaço. Embora tenhamos tido e continuemos a ter o apoio da Câmara Municipal, já passamos por três salas, este ano.

Por outro lado, temos a dificuldade de adesão das pessoas porque naturalmente têm medos, receios em ir para uma sala de cinema nesta fase. Devido à pandemia, nós também contamos agora com outra frente de exibição: online. Semanalmente, passamos filmes através do Facebook oficial que está em domínio público.

João Palhares – Eu gostaria de acrescentar que as salas de cinema são um lugar seguro, nestes tempos. Os lugares são separados e as pessoas estão de máscara. Faz falta ver filmes e falar sobre eles.

ComUM – Que projetos estão a planear para o futuro?

José Amaro – Em 2021 vamos começar com um ciclo de cinema brasileiro, do movimento de cinema novo. De seguida passaremos para o tema “peste” para não estarmos afastados deste momento difícil em que estamos a viver uma “peste”, digamos assim que é a pandemia. Depois teremos dois meses de cinema português no qual entrará um filme de um dos nossos fundadores – “Conselhos da Noite” de José Oliveira. Teremos também cinema dedicado àquele que foi feito para a televisão e muito mais. Até lá, alguma coisa pode mudar porque os sócios podem pedir outro ciclo e podemos, eventualmente, substituí-los.

Queremos é estar sempre ligados ao que consideramos importante. E quando digo: “ao que consideramos importante”, não me refiro a mim ou ao João e ao resto da direção, é sim aos sócios em geral e todo o público que nos vê. Nós queremos chegar a todos.