O novo álbum de Paul McCartney foi lançado no dia 18 de dezembro nas plataformas digitais e vem marcar, ainda mais, a nova fase do músico. McCartney III completa a trilogia dos anteriores lançamentos, I e II.  O disco corresponde às expectativas do público, mesmo afastando-se do habitual da carreira do artista.

A composição musical deu-se de forma totalmente autónoma por parte do músico, que gravou todos os instrumentos das canções em casa. Face à pandemia e ao isolamento, McCartney usou esse momento complicado para dar asas à inspiração, compondo 11 temas. Embora o álbum faça parte de uma trilogia, não perde a individualidade e o carisma próprio.

paulmccartney.com

O público estava habituado a ver McCartney nos Beatles, num registo musical complexo e elaborado. Neste contexto, os arranjos do álbum revelam-se mais crus: percebe-se perfeitamente todos os instrumentos. Além disso, são menos trabalhados. No entanto, essa simplicidade é composta por uma harmonia extremamente agradável, tanto dentro das próprias músicas, como na sua união. Aliás, é isso que torna os temas profundos, porque refletem o músico e os sentimentos sem qualquer tipo de escudo. Vê-se que se trata de uma reflexão e de um espelho pessoal, revelando transparência.

Pode dizer-se que o disco se enquadra no Pop. Porém, o intérprete foge às convenções e ao esperado por este estilo musical em que o refrão é o foco. Neste caso, Paul McCartney não estabelece nenhum tipo de estrutura obrigatória nas músicas.  Por não corresponder aos padrões do Pop atuais, McCartney III torna-se único. É notável que o artista não compôs para agradar ao público ou para se inserir no estilo musical. Até porque com toda a carreira conhecida mundialmente, McCartney não precisava de provar nada a ninguém. Compôs, na verdade, para comunicar consigo mesmo, por gosto e prazer próprio, visto que é um disco verdadeiramente íntimo.

É o exemplo da sexta música do álbum, “Deep Deep Feeling”, que não segue uma estrutura musical definida. Tem cerca de 7 minutos, sendo longa. Por isso, este tema apresenta fases completamente distintas e até melodias que divergem. Tanto é mais rápida, como mais calma. Tem, ainda, grandes períodos de solo musical sem voz, o que atualmente é raro no Pop. A faixa apresenta o efeito surpresa: tanto cresce, como decresce e volta novamente a crescer. Mas a harmonia e a calma presentes durante a música tornam-na cada vez mais interessante à medida que se ouve.

As letras das canções são tudo menos banais. Apresentam-se construídas sem frases feitas ou esperadas já pelo público. Embora de forma simplificada, representam pensamentos complexos e uma perspetiva do mundo pensada com coesão.

Em suma, McCartney não desilude o público. Assim, mesmo fugindo ao registo dos Beatles, atende às expectativas. Consegue acrescentar algo verdadeiramente relevante e especial ao mundo da música e ao seu largo conjunto de temas. McCartney III é, por fim, o reflexo da mente e da vida do artista, sendo uma viagem íntima e pessoal.