Uma vida à sua frente estreou na Netflix a 13 de novembro. A obra cinematográfica conta com o regresso ao cinema da atriz italiana de 86 anos, Sophia Loren. Realizado por Edoardo Ponti, filho de Sophia Loren, o filme retrata o desenvolvimento de uma amizade imprevisível de forma intensa e emocionante.

A história constrói-se através da vida de Madame Rosa (interpretada por Sophia Loren), uma ex-prostituta, sobrevivente do campo de concentração de Auschwitz, que passou a acolher na sua casa filhos de outras prostitutas ou órfãos, como é o caso de Momo (Ibrahima Gueye). Assim, Momo, um pré-adolescente senegalês, órfão, acaba por ficar a viver com Madame Rosa, mesmo que contra a sua vontade. Ao longo do filme, Momo, perante uma realidade tão complicada, tenta sustentar-se e viver da forma que pode, mesmo que seja a traficar droga.

Inicialmente, ambas as personagens se revelaram frias, distantes e rígidas uma com a outra. Madame Rosa mostrava-se demasiado firme com Momo que, por sua vez, se mostrava arrogante e indelicado. Há diversos problemas que se desenvolvem durante o filme, nomeadamente a perda da saúde de Madame Rosa e a necessidade de uma figura maternal de Momo.

Consequentemente, nasce uma amizade única e forte entre os dois. Cria-se um equilíbrio bonito entre eles e passam a necessitar um do outro. Essa aproximação é marcada pelo desempenho fantástico dos protagonistas, através das expressões faciais e, sobretudo, dos gestos e dos olhares. Ou seja, os protagonistas são cada vez mais afetuosos com o florescer da amizade, levando o público a aproximar-se das personagens e da relação tão emocionante entre elas.

O espaço da longa-metragem é extremamente bem conseguido, acompanha de forma próxima o desenrolar da história. Dá-se o estreitar da amizade de Madame Rosa e Momo, acompanhados pelo desvanecer das outras personagens da obra cinematográfica e pelo afunilar progressivo da felicidade. Relacionando-se com isso, o espaço torna-se cada vez menor e mais sombrio e faz sentir de forma ainda mais intensa tudo aquilo que as próprias personagens estão a sentir. O cuidado tido com o espaço consegue levar a que o público fique com a sensação de tensão presente no ambiente da história.

No entanto, a banda sonora deixa um pouco a desejar. O filme baseia-se nas falas das personagens e apresenta uma escassez de música, o que acaba por não conferir tanto sentimento ao espectador em algumas das cenas. Embora se compreenda que haja uma necessidade de focar a comunicação, conversa e os barulhos do espaço para criar inquietação, é possível dar pela falta de banda sonora nos momentos mais intensos. Por vezes, isso não garante tantas emoções.

Uma vida à sua frente não é composto de alegria e momentos felizes, mas nem por isso é menos bonito. Na verdade, tanto o aproximar do final do filme como o final têm a capacidade de puxar o lado mais emocional e as lágrimas. Estas partes também mexem com os sentimentos do espectador. De uma maneira extraordinária e lindíssima é provada a lealdade, a intensidade, a pureza da amizade e da relação de Madame Rosa e Momo, que se mantém firme e conquista o coração de qualquer espectador.