O vídeo surge no âmbito da Latada, que este ano se realizou em formato online.

Na noite desta terça-feira, 8 de dezembro, circulou pelas redes sociais um vídeo da praxe do curso de Biologia e Geologia (BG). No mesmo, vêem-se os caloiros do respetivo curso num cenário florestal, com saias de palha, latas e o corpo e a cara pintados de preto.

Tal situação fez emergir um conjunto de críticas e acusações de racismo ao coletivo praxístico, uma vez que a pintura facial se assemelha à blackface. Esta prática teatral, popularizada no século XIX, consiste em colorir o corpo para representar personagens africanos de forma satírica.

A iniciativa surgiu para celebrar a Latada. Como este ano a praxe é online, o evento foi também realizado virtualmente, pedindo-se a cada Comissão de Praxe para colocar um vídeo no Youtube. Contudo, devido à polémica gerada, a Comissão de Praxe de BG retirou o seu vídeo.

Já esta quarta-feira, o movimento Quarentena Académica, em comunicado, repudiou “severamente todas as atitudes vinculadas no vídeo”, exigindo uma resposta da reitoria da Universidade do Minho.

Em entrevista ao ComUM, Miguel Martins, estudante de Sociologia e responsável distrital do movimento Quarentena Académica, conta que “viram reações nas redes sociais e foram ver o que se passava”. Depararam-se então com “algo bastante problemático” e procederam à denúncia, apesar de não terem qualquer posição assumida em relação à praxe.

“O vídeo, infelizmente, é de um teor extremamente racista. Eu acho que não faz qualquer sentido a sua existência nem compreendo o porquê de ter sido feito”, considera o estudante de Sociologia. “Estamos a falar de um vídeo em que temos estudantes da universidade com a cara e o corpo pintados de preto – o blackface – e estão a entoar cânticos que nos causam um grande impacto”, admite Miguel Martins, referindo-se ao verso entoado “Nós somos conhecidos por canibais”.

Caracterizando toda a situação como “surreal, terrível e grave”, Miguel Martins relembra que “o Ensino Superior deve ser um espaço inclusivo e democrático”. “Quer seja na Universidade do Minho ou noutra qualquer instituição do ensino superior”, salienta ainda.

Por sua vez, em comunicado, a Universidade do Minho mostra-se “surpreendida” pela informação veiculada nas redes sociais. Reage “com profundo desagrado e veemente condenação face a este tipo de iniciativas, ofensivas da dignidade humana”, e promete ainda averiguar o sucedido. “Os tempos de distanciamento físico não podem, em caso momento, significar que os estudantes se distanciem dos valores, princípios e missão da Universidade do Minho”, finaliza o documento.

Miguel Martins considera ainda que “é bastante satisfatório a reitoria já ter reagido”. “No entanto, não basta apenas isso, é preciso prevenir que situações deste tipo aconteçam”, conclui o estudante, relembrando o episódio de 2017 em que um aluno usou o símbolo nazi numa praxe.