A 4 de dezembro de 2020, o cantor e compositor canadense Shawn Mendes apresentou o quarto álbum de estúdio, Wonder. Conta com 24 temas, dos quais 14 são originais. O retorno à criatividade é sentido e, segundo o cantor, necessário depois de um certo afogamento na necessidade de perseguir hits.

“Intro” é um bom título pois, na realidade, não é mais nem menos que uma introdução às restantes 13 músicas do álbum. Inicia com um piano e uma voz angelical seguidos de versos que incentivam o que virá a seguir: “You have a million different faces, but they’ll never understand unless you let them in/ You’ve been a million different places, so give yourself a chance to get lost in wonderland”. Em apenas um minuto percebemos que um Shawn diferente está a caminho.

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“Wonder”, single do álbum, é a música mais impactante. Marca o início de uma caminhada num novo mundo musical com uma magia que é incontestável. O videoclipe confirma, a nível visual, toda esta transmissão da ficção. É intrigante, doce e exuberante. A solidão, a falta dos amigos, os julgamentos sentidos, as regras que a sociedade estabelece e a sua posição no mundo, são tópicos do tema.

“Higher” é, sem dúvida, uma mistura de vários artistas como Charlie Puth e Justin Timberlake. A euforia deste tema muda em “24 Hours“, uma ode linear que cria raízes para o R&B presente em “Teach Me How to Love“. Este último é um dos temas mais surpreendentes do álbum pelos coros de igreja no refrão, pelo sentimento de retorno aos anos 70 e, ainda, pela semelhança que estabelece com os últimos álbuns de Harry Styles.

Uma balada, uma dor genuína e camadas vocais fantásticas. Assim é “Dreams”, uma música sem dúvida de sonho em que a vontade de ir para casa e estar com quem mais gosta é destacado. Em “Call my friends”, um tema mais vintage, uma “ela” está de volta a casa, enquanto ele está ainda na estrada, a vaguear pela fama afirmando precisar de uma folga da mente, “I need a vacation from my mind”.

“Song for no one” parece mais uma balada melancólica típica de Shawn, até certo ponto “explodir” com uma orquestra. Foi escrita há cerca de 3 anos num período em que ainda não tinha conquistado a namorada.

“Monster” é o segundo single em colaboração com o cantor Justin Bieber. Um tema mais dramático e sombrio que traz a temática da fama e o lado conturbado desta. Ambos são colocados num pedestal pelos media e pelo público que com qualquer deslize os transforma em “monstros”. A música é um só, mas cada um dos artistas traz um universo musical distinto. Bieber tem versos mais trap-pop e Mendes direciona-se numa linha mais melódica.

O começo de “305” com o efeito telefónico ficou muito bem conjugado com a continuação da música. Os vocalizos no refrão são novamente um ponto muito positivo. Tudo o que poderia ter sido simplificado não foi. Uma junção de pop e anos 60 com um instrumental incrível. A necessidade de algo diferente está bem presente na continuidade do álbum.

“Always been you” tem um início quase de conto de fadas, como se nos estivéssemos a preparar para ver um filme típico da Disney. Torna-se uma ótima surpresa pelo contraste entre o refrão e os versos com cordas e vocalizos que passam para uma orquestra que, progressivamente, mantém o silêncio e cria um certo êxtase e eletricidade dentro do nosso corpo.

“Piece of you” foge para uma batida mais pop estilo “Thriller”. Uma vibe mais sensual e negativa do amor. Canta sobre o ciúme que sente pelos comentários que, muito provavelmente, Cabello recebe. Uma música de grande destaque no álbum que marca pela diferença.

“Look Up At The Stars” é mais uma balada estilo anos 70 semelhante a “Never be Alone” de um dos mais antigos álbuns do cantor. Simples e bonita, mas com um toque da nova faceta do músico. Para finalizar “Can’t Imagine” apresenta um Shawn Mendes mais antigo, centralizado na voz e na guitarra. Uma interpretação que parece óbvia, mas pode não o ser. O músico pode não saber viver sem diversas coisas. Não está explícito. Será óbvio? Nestes dois temas há um certo interesse em querer vender mais a experiência de amar aos ouvintes.

“The Christmas Song” foi lançada sem aviso prévio, constando no álbum como um dos bónus. Uma música simples, natalícia, composta e produzida por Shawn Mendes e Camila Cabello. Um presente para os fãs do cantor e da cantora.

No geral destaca-se, antes de qualquer coisa, o amadurecimento e segurança de Shawn Mendes. Merece todo o reconhecimento pelas melhorias a nível vocal e de composição. O músico que há dentro dele veio ao de cima de uma forma tão poderosa e ao mesmo tempo subtil que é impossível não destacar. Além da variedade sonora desde o Pop mais para dançar até à balada mais intimista, Mendes explora diferentes géneros, apostando na produção com elementos orquestrais. Acaba-se o álbum apaixonado e a refletir.