Na conversa sobre a vacina contra a Covid-19 os intervenientes discutiram a produção da imunidade e a importância de manter as medidas de contenção.
O internista no Hospital de Braga e docente da Escola de Medicina, Alexandre Carvalho esteve presente no webinar “Vacinação COVID-19. O que há para saber na saúde?”, junto de Cátia Ferreira, Global Medical Affairs Leader da Astrazeneca. A conversa organizada pela Escola de Medicina, sobre a vacina contra a Covid-19 decorreu esta sexta-feira. Contou com o apoio da Alumni Medicina, Núcleo de Estudantes de Medicina da UMinho, ACES Braga e ARS-Norte.
O primeiro aspeto abordado foi a rapidez da criação desta vacina. A “entrada num mundo novo”, segundo Alexandre Carvalho, tem provocado um certo ceticismo por parte de muitas pessoas que são confrontadas com uma vacina desenvolvida num curto período. Cátia Ferreira, mostra compreender esta suspicácia. No entanto, declara que, dentro de uma pandemia, um espírito mais colaborativo foi um fator essencial. Não só os estudos de eficácia como também os processos regulatórios tiveram de ser realizados de uma forma mais rápida num processo colaborativo que deixou todos “impressionados com o que podemos fazer quando colaboramos”. Contudo, esta rapidez no desenvolvimento foi principalmente permitida graças às tecnologias já estudadas e desenvolvidas.
Neste sentido, Alexandre Carvalho esclarece que existem “várias estratégias vacinais”. Posto isto, questiona Cátia Ferreira acerca das “diferenças entre as diferentes estratégias”. A isto, esta refere as 4 plataformas principais desta vacina (MRNA, adenoviral vectors, subunit e live attenuated) e responde que todas têm o mesmo princípio, que é “criar imunidade contra a Spike Protein, a proteína do coronavírus”. Para além disso, estas “também causam uma ativação das células T, que são muito importantes. Para além da proteção conseguem reconhecer células que estão infetadas e criar uma maneira de limpar essas células”. No entanto, “como elas são encapsuladas ou entregues ao sistema imunitário” já é executado de uma forma diferente.
O tema do “escape de mutantes” foi exposto por Alexandre Carvalho que questiona a eficácia das vacinas que estão a ser desenvolvidas contra as novas estirpes. Cátia Ferreira afirma que o aparecimento destas variantes “não é nada de estranho e é uma coisa que já se estava à espera”. Aponta para uma pressão ambiental existente sobre o vírus que “o faz tentar escapar”. Expõe ainda a importância de um programa de vacinação. “Quanto mais pessoas estiverem vacinadas e houver uma proteção da população” vai haver menos indivíduos para o vírus se transmitir e “ter essa capacidade de mutar”.
Outro aspeto abordado teve a ver com a gestão das expectativas. Alexandre Carvalho alude ao entusiasmo inicial, e à forma como esta foi apresentada que levou a um “baixar de guarda”. Cátia Ferreira declara que “só o ser vacinado não quer dizer que está protegido”. Os cuidados que se tem com a Covid-19 terão de continuar “até se ter um certo controle sobre esta doença”.
Para Alexandre Carvalho, a mensagem que deve ser passada é que “toda a gente será vacinada”. Cátia Ferreira aponta para a grande redução de outras doenças respiratórias graças à consciencialização. Os cuidados com a higiene levaram a esta diminuição, “porque não continuar?” questiona. “A redução da doença de espectro severo, da hospitalização e da mortalidade que vemos todos os dias”. Neste aspeto, esta anuncia que as vacinas têm apresentado “dados excelentes”.
Acerca dos efeitos a longo prazo, Cátia Ferreira declara que nos estudos clínicos realizados não se contemporizou nenhuma doença ou “pico de doença”, após a toma da vacina. Alexandre Carvalho afirma que “podemos ficar tranquilos pois, numa base teórica, não é previsível nenhum efeito grave. O que pode acontecer é uma casualidade estatística”.
Em forma de conclusão, André Carvalho reforça a segurança e eficácia da vacina e a consciência das pessoas: “a vacina não é o fim das medidas de contenção da pandemia”. Cátia Ferreira apresenta uma perspetiva otimista. “As vacinas, no seu geral, tem um perfil de segurança magnífico” declara. “Tem quase um certificado de segurança” o que, segundo a mesma, deve dar “muito conforto”. Esta aponta para a importância da aceitação dos programas de imunização e a existência de um “espírito de comunidade”. “Aí teremos uma oportunidade de realmente reduzir esta doença”.