Trazido pela primeira vez ao grande ecrã em 1957, Doze Homens em Fúria é uma obra de arte intemporal com uma mensagem para o mundo de hoje. Considerada uma das grandes obras primas do cinema, a longa-metragem apresenta-nos exemplos perfeitos de escrita, cinematografia e representação.
A ação desenrola-se quase exclusivamente dentro de uma sala do tribunal, onde doze elementos do júri têm de decidir se um jovem deve ou não ser considerado culpado pelo assassinato do seu pai. Apenas um dos jurados vota a favor da inocência do rapaz, para surpresa de todos os outros, que acham que estão apenas a desperdiçar tempo num caso bastante óbvio. A sua missão é, durante o resto do filme, tentar convencer os restantes jurados de que não há forma de provar que o arguido é realmente culpado e de que, deste modo, o veredito final deve ser de inocência.
À medida que cada jurado expõe os factos e opiniões que apoiam a sua decisão, vamos descobrindo cada vez mais sobre o caso. Percebemos, então, rapidamente que, num lugar onde apenas a lógica deveria pesar, são também postos na balança as emoções e preconceitos de alguns dos elementos do júri.
É o caso do jurado número dez (Ed Begley), que, durante todo o filme, vai tendo um discurso cada vez mais revelador de preconceitos pessoais, de tendências racistas e xenófobas. Este discurso intolerante acaba por culminar num monólogo carregado de ódio, a que os restantes elementos do júri, não metaforicamente, viram as costas. É também o caso do jurado número três (Lee J. Cobb), o claro antagonista do filme, que revela logo nos primeiros minutos ter uma má relação com o filho. Mais tarde, percebemos que a personagem revê a sua relação com o próprio filho no caso e que, por isso, carrega as suas emoções para dentro da sala do júri e é incapaz de julgar o jovem arguido de forma imparcial.
A tensão vai crescendo conforme os jurados vão mudando de lado, dividindo a sala aos poucos. Um dos principais fatores que contribui para esta sensação é a cinematografia, que é soberba. Nos três atos, são utilizadas lentes com diferentes distâncias focais, passando de uma lente aberta para uma lente cada vez mais fechada e “apertada”, para acentuar uma sensação de claustrofobia. Para além disto, Lumet vai alterando também os ângulos da câmara, para obter o mesmo efeito, baixando cada vez mais o ponto de vista do espectador. Na última cena de Doze Homens em Fúria, gravada fora do tribunal, o realizador põe os espectadores num ponto de vista alto e aberto, para que possamos finalmente respirar após os 97 minutos da longa metragem.
Além disso, é de destacar também o desempenho dos atores, sobretudo de Henry Fonda, Lee J. Cobb e de E. G. Marshall. São eles quem traz vida às personagens, que nunca sentimos serem dispensáveis ou pouco desenvolvidas, quer tenham mais ou menos tempo de ecrã.
Ainda que feito há mais de 60 anos, Doze Homens em Fúria traz-nos um tema atual, com uma abordagem moderna e muito à frente do seu tempo. Ensina-nos a não aceitar tudo sem qualquer espírito crítico e condena o preconceito, ainda muito presente nos dias que correm. É o magnum opus de Sidney Lumet e uma das grandes referências do cinema do século XX.
Título Original: 12 Angry Men
Realização: Sidney Lumet
Argumento: Reginald Rose
Elenco: Henry Fonda, Lee J. Cobb, E. G. Marshall
EUA
1957