O quinto álbum da banda de punk rock foi lançado a 4 de fevereiro de 1980, pela Sire Records. Conhecido como um dos álbuns mais controversos da história da banda, não pelas letras normalmente explícitas, mas por ter sido produzido pelo Phill Spector que desenvolvia um método de gravação completamente contrário ao característico dos Ramones.

São conhecidos por serem os pioneiros na vertente do punk rock. O estilo musical passa por composições simples, minimalistas e repetitivas, com influência do rockabilly dos anos de 1950, do surf rock, the bandas como The Velvet Underground e Shangri-las.

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A banda americana atravessava um período difícil a nível de vendas e popularidade e sentiu a necessidade urgente de criar um álbum para os fãs. Aproximou-se de um género mais pop, com um afastamento das letras mais agressivas, o que pode ser justificado pela produção que teve.

Apesar de ter sido bem recebido pelos críticos da área e pelo público em geral, a verdade é que criou atritos e discussões intermináveis entre os membros da banda e entre estes e o produtor. Dee Dee Ramone e Phil Spector odiavam-se e acabaram por criar um ambiente tóxico na gravação do disco. No entanto, Marky Ramone (baterista nesta época) considerava o produtor como um amigo, que permitia um equilíbrio geral. De toda a confusão com a produção, e de todo o caos que é tão típico desta banda, surgiu o “End of the Century” com 12 faixas históricas.

O álbum inicia com o a faixa “Do You Remember Rock ‘n’ Roll Radio?”  que lembra a música rock nos anos de 1950 e 1960. Nos primeiros segundos do hino do álbum, ouvimos o rádio, a sobreposição de frequências, apenas interrompidas por um suposto locutor que introduz o tema dizendo “This is Rock ‘n’ Roll Radio. Come on, let’s rock ‘n’ roll with the Ramones”. Segue-se um fortíssimo beat marcado pelo baterista Marky. São referidos vários nomes famosos do mundo rock da altura como Jerry Lee Lewis, John Lennon e T. Rex. Há uma particularidade nesta música: a introdução de instrumentos como o saxofone e o órgão elétrico, completamente raro de se ouvir neste género musical. A letra é da autoria de Dee Dee Ramone e retrata a sua infância na Alemanha onde ouvia as rádios de rock pirata à noite.

Na segunda faixa, “I’m Affected”, Dee Dee (baixista) dá o mote. Os dois minutos e 53 segundos relatam uma espécie de confissão amorosa. Não é das faixas que mais se destaque no álbum, mas sem dúvida que fica na cabeça.

“Danny Says” é um retrato daquilo que foi a vida em tourné da banda. Os horários preenchidos, a falta de tempo para lazer, soundchecks e entrevistas. A balada foi inspirada em Lou Reed, uma vez que este também fez alguns temas com o nome da equipa técnica. No caso da faixa em questão, o Danny refere-se a Danny Fields, o gerente (manager) da banda.

A faixa seguinte, “Chinese Rock”, foi escrita por Dee Dee, em resposta à música “Heroin” de Lou Reed. Ambas as músicas referem o uso da heroína, apesar da versão dos Ramones ser um pouco mais ligeira. O lyrics refere o dia a dia de um viciado nesta droga, cujo termo “chinese rock” serve de eufemismo para a referenciar.

“The Return of Jackie and Judy” é a quinta faixa do álbum e a continuação de uma outra música, “Judy is a Punk”, que foi lançada no álbum de estreia da banda. De realçar a batida desta música, puro rock ‘n’ roll (e um especial toque à guitarra de Johnny).

Na época em que o álbum foi lançado vivia-se um clima de grande tensão política nos Estados Unidos da América, com a ascensão da Nova Direita, e a música “Let’s Go” descreve exatamente esses tempos. Há várias referencias históricas como a G.I. Bill que era uma lei que beneficiava os veteranos da segunda Guerra Mundial. A nível musical, é um hit clássico dos Ramones, a sonoridade não se afasta do registo do resto do álbum, e aproxima-se muito a álbuns passados também.

Baby, I love you” – a eterna balada romântica. Esta música é um original da banda The Ronettes e os Ramones apensas fizeram um cover. Apesar de ser uma faixa de grande sucesso pelo mundo, em especial na Europa, foi uma canção muito difícil de gravar pela banda uma vez que se afastava completamente do registo da mesma. Tanto Johnny como Joey odiavam a música, e Joey chegou mesmo a admitir que a balada o envergonhava. No entanto, é impossível negar que é uma das músicas mais bonitas e mais românticas que existe, e a voz de Joey toca a alma.

A faixa seguinte, “I Can’t make it on time”, parece apenas uma faixa de enchimento, não revelando grande interesse para o álbum. Algumas partes da música relembram até a canção “Do you love me” dos The Contours.

Quem é que não conhece o refrão “ba-ba-banas”? “This Ain’t Havana” é uma das músicas mais pequenas do álbum, mas uma das que fica mais na memória. É feita uma crítica à sociedade, aliado de um refrão que pouco sentido faz, mas a verdade é que o objetivo seria mesmo não fazer sentido, assim como a sociedade não fazia.

A décima canção do End of The Century é uma regravação da canção-tema “Rock ‘n’ Roll High School”, que foi feita para o filme da banda em 1979. Aqui, Johnny Ramone arranca com alguns toques de guitarra tão clássicos que podem levar-nos a pensar que é Jeff Beck na guitarra. A vontade dançar com este tema é praticamente impossível de controlar.

Os dois últimos temas deste álbum são “All the way” e “High Risk Insurance” que, apesar de serem faixas a transpirar rock, são superficiais no seu conteúdo e não formam aquele desfecho explosivo que seria esperado.

“End of The Century” não foi o melhor álbum dos Ramones (pelo menos quando existem outros como “Leave Home” e “Rocket To Russia”), mas sem dúvida que foi o que vendeu mais e o que, até hoje, recorda os fãs dos tempos de glória da banda. A verdade é inegável: os Ramones foram uma das melhores bandas da história e a música será para sempre recordada.